Açoriano Oriental
"Passos Pesados têm sido uma escola de músicos não oficial"
Toni Pimentel, guitarrista, vocalista e compositor, é o líder dos “Passos Pesados” há 19 anos, banda que prepara um novo CD e um estúdio de gravação de raiz.
"Passos Pesados têm sido uma escola de músicos não oficial"

Autor: Rui Jorge Cabral/Paulo Simões

Em entrevista ao programa “Conversa Fiada” da Rádio Açores/TSF, Toni Pimentel não tem dúvidas em afirmar que vale a pena continuar a fazer música: “é um bichinho que já nasceu comigo, uma vez que venho de uma família de músicos e, como diz o ditado, quem corre por gosto não se cansa”, garante.


O primeiro espectáculo dos Passos Pesados teve lugar na antiga discoteca “Cheers”, há 18 anos atrás. “Era uma novidade fazer música rock original em português, numa altura em que só se ouviam covers”, recorda Toni Pimentel, salientando as muito melhores condições materiais, sobretudo de som, que as bandas de hoje têm nos Açores.

Os Passos Pesados são um  dos símbolos da década de 90, muito fértil na música ‘made in’ Açores. O projecto Novas Ondas e o evento Pop Rock 92, no Coliseu Micaelense antes da recuperação, foram as sementes de uma autêntica ‘revolução musical’, com centro em Ponta Delgada. Quase 20 anos depois, por onde andam esses músicos, para além de Toni Pimentel e dos Passos Pesados? Estão somente em bandas como os Morbid Death ou os Connection, que juntou antigos elementos dos Classic Rage. O líder dos Passos Pesados tem, por isso, um lamento. “Tenho imensa pena de ter apadrinhado muitas bandas que vi nascer e que, meses depois, acabaram, por falta de persistência dos músicos”.

Para Toni Pimentel, é na diferenciação que está a sobrevivência das bandas, sendo que a excessiva canalização para estilos associados ao “Metal” acabou por retirar futuro a muitas bandas. “Quando se começa uma nova banda, é preciso ter a noção do que já existe e há tantos estilos musicais que não têm expressão cá”, aconselha Toni Pimentel.

Um exemplo disso, é o novo disco dos Passos Pesados, que foi buscar ao folclore regional o “Tanchão”, para lhe dar uma nova roupagem rock. Um disco que “está a ser gravado com alguma calma”, à espera do novo estúdio de raiz da banda.  Sete das dez faixas que o disco deverá ter estão trabalhadas e três delas já foram mesmo apresentadas ao vivo, prevendo-se que o disco possa estar pronto antes de se assinalarem os 20 anos da banda. Isto porque esta data especial, os Passos Pesados querem que seja assinalada com o registo, ou de um concerto acústico, ou mesmo com uma orquestra ao vivo em Ponta Delgada, revela Toni Pimentel.

Ao longos dos últimos 19 anos, os Passos Pesados conheceram  várias formações, com a entrada de muito “sangue novo”, algo que Toni Pimentel valoriza “porque cada pessoa dá um cunho pessoal” às músicas. “Posso até dizer que os Passos Pesados têm sido uma escola de músicos não oficial”, admite o líder da banda. Apesar de ensaiar duas a três vezes por semana, todos os dias Toni veste o fato e a gravata para ir trabalhar, porque o profissionalismo na música ainda não é possível nos Açores. Mas “comparado com a altura em que eu comecei, até posso dizer que a música dá hoje algum dinheiro”, refere, e o fruto disso são os seis álbuns que os Passos Pesados já conseguiram editar.

Embora reconheça que a internet e os novos formatos digitais possam estar a prejudicar os músicos consagrados em Portugal e no estrangeiro, Toni Pimentel considera, no entanto, que à escala dos Açores, a internet pode ser a única forma de fazer as bandas açorianas ultrapassarem a barreira do isolamento e da periferia. Um dos resultados dessa tentativa de internacionalização é o primeiro videoclip dos Passos Pesados, gravado no cenário das Cataratas de Niagara. 

Os Passos Pesados já chegaram a ter, em média, mais de 30 concertos por ano, embora nos últimos anos, essa média se tenha reduzido. Uma tendência que Toni Pimentel quer, de novo, inverter este ano, com um aumento no número de concertos, contando com isso com uma nova formação na banda.

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