Açoriano Oriental
Histórias dos Rallyes
“Para 2024, o objetivo é tentar fazer o campeonato completo”

Com um ultrapassado Citroën Saxo dos anos 90, Hugo Alcântara tem sido um dos animadores dos ralis açorianos, com uma pilotagem sempre com a ‘faca nos dentes’. Para 2024, o objetivo é fazer o campeonato


Autor: Rui Jorge Cabral

O piloto micaelense Hugo Alcântara quer fazer pela primeira vez na sua carreira o Campeonato dos Açores de Ralis completo no próximo ano, caso consiga reunir os apoios suficientes. 

“Para 2024, o objetivo é tentar fazer o campeonato completo” se possível “melhorando o carro”, embora Hugo Alcântara reconheça que será difícil  trocar de carro, uma vez que o desejo de poder pilotar uma viatura R2 “é um patamar demasiado acima” para os recursos financeiros e os apoios até agora conseguidos pela dupla dos irmãos Hugo e André Alcântara.

Sobre o futuro dos ralis nos Açores, Hugo Alcântara aponta um caminho diferente do que normalmente é apontado por outros pilotos. Para Hugo Alcântara, a solução poderia estar num kartódromo em São Miguel - ele próprio teve experiência nos karts -  que permitisse às crianças terem um primeiro contacto com as corridas, até porque “somos a única região de Portugal que não tem um kartódromo”.

Hugo Alcântara, de 40 anos, é guia turístico de profissão e começou nos ralis em 2005, com um Peugeot 205 GTi, navegado então por André Gouveia, no antigo Troféu VSH destinado aos carros de rali sem homologação e que foi uma grande escola para muitos pilotos açorianos.

Logo no primeiro ano, Hugo Alcântara mostrou a sua rapidez nata, ao ganhar o Rallye da Lagoa, mas já nessa altura o problema de Hugo Alcântara era a dificuldade em ter orçamentos para fazer uma época completa de ralis e poder dessa forma disputar campeonatos. “Ganhávamos ralis, mas não fazíamos os campeonatos inteiros, porque não havia possibilidade financeira”, lamenta o piloto, que reconhece no entanto a motivação que sempre lhe deu “o poder ganhar a pilotos de renome, mesmo com um carro inferior”.

No entanto, a relação de Hugo Alcântara com os automóveis vem do berço. Nasceu no seio de uma família com tradição, uma vez que o seu bisavô, Fernando Alcântara, foi o primeiro representante da marca Ford em Portugal e o seu pai, Rui Alcântara, foi navegador de ralis.

Conforme recorda Hugo Alcântara, “eu devo ter ido com poucos meses de vida para o interior do Opel Ascona 400 que pertencia ao João Tavares, de quem o meu pai era copiloto, em 1983 e 1984 e, a partir daí, o meu pai incentivava-me muito, íamos ver todos os ralis que havia cá na ilha, entrávamos dentro dos carros, cheirávamos a gasolina, tocávamos nos pneus quentes no final dos troços e isso são coisas que, numa criança, ficam entranhadas e é muito difícil sair”.

Além de André Gouveia, Hugo Alcântara foi também navegado por Nuno Cabral, já com o Citroën Saxo VTS, mas foi o seu irmão André Alcântara que por mais vezes o acompanhou do lado direito. “Nós desde pequenos que partilhamos muitas histórias, desde os triciclos e bicicletas até às motas”, recorda Hugo Alcântara.

Entre 2005 e 2011, Hugo Alcântara correu com alguma regularidade, embora sem nunca fazer mais do que três ralis por ano e em 2011 deu-se uma longa paragem, após um acidente no Rallye de Santa Maria, originado por uma falha mecânica. Nessa altura, lamenta Hugo Alcântara, “tínhamos a patrocínio da AutoAçoreana e poderíamos ter dado continuidade ao projeto, mas infelizmente tivemos aquele acidente”.

Nesse período de tempo, recorda o piloto, “fui trabalhar para o estrangeiro, mas quando regressei vim com a garra toda e quis voltar a fazer aquilo de que gostava e com um carro cuja manutenção fosse barata, que fosse minimamente competitivo e agradável de conduzir. Juntando esses três elementos, o Citroën Saxo é o carro de eleição”.

O regresso acontece assim em 2020, no Play/AutoAçoreana Raly, um evento que acabou por ser o único desse ano, devido à pandemia de Covid-19.  Mesmo assim, Hugo Alcântara ainda terminou esse rali no 6.º lugar da geral, não sem antes passar por uma daquelas histórias que fazem a riqueza dos ralis. Conforme lembra o piloto, “logo no primeiro troço, ao passar de terceira para quarta, fiquei com a alavanca das mudanças na mão... O curso que nos restava da alavanca era minúsculo e não dava mesmo para pôr mudanças. Entretanto, o antigo piloto, Carlos Costa, relembrou-nos desta possibilidade: ‘não tens uma chave de fendas? Mete a chave de fendas aí’... Lá metemos a chave de fendas e, por incrível que pareça, a chave de fendas ficou melhor do que a alavanca que tínhamos antes e ganhámos os troços aos nossos rivais nesse rali, foi muito interessante”!

Em 2021, a dupla Hugo e André Alcântara entrou com força na disputa do Troféu de Ralis de Terra dos Açores, mas um novo acidente na última prova do ano, o Além Mar Rali, em São Miguel, deitou novamente tudo a perder, deixando Hugo Alcântara com uma lesão na coluna e um dedo da mão partido e deitando o Citroën Saxo VTS para a sucata. 

“Tudo o que é acidente faz-nos ficar mais fortes e faz-nos pensar melhor nos projetos, nos orçamentos e naquilo que pretendemos durante uma época”, afirma Hugo Alcântara.

O ano passado foi assim um ano de recomeço, com a aquisição de um novo Citroën Saxo ao piloto faialense Carlos Oliveira, que foi sendo evoluído ao longo do ano. Em 2023, dá-se o regresso novamente ao Troféu de Ralis de Terra dos Açores, tendo a dupla Hugo e André Alcântara terminado a competição em terceiro lugar, não sem antes bater o pé a pilotos com equipamento bastante mais moderno e evoluído. “É sempre engraçado, mesmo com um carro inferior, tentarmos morder os calcanhares aos outros pilotos, fazendo-os sentir alguma pressão”, conclui Hugo Alcântara.

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