Açoriano Oriental
“Os Açores demonstram uma ligação profunda entre as pessoas e o oceano”

Harry Eckman CEO da World Cetacean Alliance, que esteve nas Lajes do Pico onde participou na 4ª Bienal das Baleias, destaca a importância da comunidade em geral compreender a relevância da proteção e preservação do ambiente para a vida marinha

“Os Açores demonstram uma ligação profunda entre as pessoas e o oceano”

Autor: Ana Carvalho Melo

É o CEO da World Cetacean Alliance (Aliança Mundial dos Cetáceos, em português) que é a organização responsável pela atribuição galardão Whale Heritage Site (Sítio de Património das Baleias) aos Açores. Que características os Açores possuem que lhes garantem esta distinção?

Os Whale Heritage Sites são locais que vão para além do mero whale watching. São lugares onde existe um vínculo cultural, histórico ou de conservação entre a comunidade e os cetáceos. Representam a ligação que a comunidade tem com as baleias e o oceano, e os Açores são um exemplo perfeito disso. Desde a época da caça à baleia até à evolução para a observação de cetáceos, os Açores demonstram uma ligação profunda entre as pessoas e o oceano, quer através da sua história quer da sua cultura. Isso é o que o património das baleias deve refletir.

Como é que a WCA colabora com os Açores para proteger os cetáceos e os seus habitats?

Cada Whale Heritage Site tem o seu próprio programa, com um comité responsável pela sua implementação. Esta colaboração é essencial para obter este galardão. Uma das coisas que esperamos ver é a colaboração entre os intervenientes que compreendem que parte do seu trabalho é proteger e preservar o ambiente para as baleias. Nesse sentido, a WCA espera ver esforços de conservação, práticas sustentáveis, investigação na área da conservação e melhoria das práticas de bem-estar animal. Não controlamos as ações em cada local, mas esperamos que estes objetivos estejam a ser postos em prática. Agora, depende da comunidade interpretar a forma como isso é implementado, tornando o Sítio único para o seu próprio benefício.

Isso significa que o trabalho principal é com a comunidade?

Sim, trabalhamos com a comunidade, que depois pode escolher representantes do governo ou das Câmaras Municipais, uma vez que desempenham um papel chave nas tomadas de decisão. O papel da WCA é colaborar com representantes de toda a comunidade.

Como é que as pessoas comuns podem contribuir para a causa da conservação marinha e do bem-estar dos cetáceos?

São as decisões individuais que podem contribuir para esta conservação, desde a escolha de fazer whale watching com uma empresa responsável e aprovada até ao envolvimento em programas de ciência para cidadãos. Embora, como indivíduos, possamos ter uma capacidade limitada de ação, os governos e as instituições académicas têm um papel importante na promoção da conservação e da investigação. No entanto, se o público em geral reconhecer a importância para os Açores, com certeza as políticas e a investigação seguirão o exemplo.

Durante a 4ª Bienal das Baleias, ficou evidente que ainda há muito a aprender. Precisamos entender melhor estes animais e o impacto que a humanidade tem sobre eles para tomar medidas eficazes de conservação. Portanto, a pesquisa continuará a ser fundamental.

Como surgiu o seu envolvimento no ativismo em prol do bem-estar animal e da conservação marinha?

Estou envolvido no bem-estar animal há 25 anos e estou na WCA há dois anos e meio. Sempre fui apaixonado pelos animais, e ao longo da minha vida profissional, passei de trabalhar num abrigo para cães e gatos no norte de Londres para me envolver em questões que afetam os animais em todo o mundo, incluindo a conservação e as questões ambientais. Com o tempo, acabei por me dedicar à proteção da vida marinha.

E como vê o que está a ser feito no âmbito da conservação da vida marinha?

Em Portugal, nos últimos 10 a 15 anos, tem havido um grande progresso, apesar de a legislação ser lenta. No entanto, a nível global, por vezes é difícil manter o otimismo. Estive na Conferência do Mar da ONU em Lisboa e as pessoas continuam a repetir o que Jacques Cousteau disse há 30 anos: “Agora não é o momento para palavras, mas para ação”. Há muita conversa, mas a ação é limitada. No entanto, tenho esperança de que a inovação proveniente da indústria e da pesquisa possa fazer uma diferença maior do que a ação dos governos.

Como vê o futuro da conservação marinha e do bem-estar dos cetáceos?

Atualmente, o ambiente enfrenta enormes pressões, mas quero acreditar que o que vejo seja suficiente. Ou seja, que as decisões sejam tomadas e que haja progresso suficiente para que possamos fazer a diferença. Embora tudo aconteça lentamente, cada vez mais pessoas reconhecem a importância deste assunto e desejam um ambiente seguro e protegido. Portanto, estou moderadamente otimista em relação ao futuro.

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