Autor: Lusa / AO online
Em comunicado enviado à agência Lusa, a OIM refere que, para acabar com o tráfico de seres humanos, "é fundamental eliminar a procura de mão-de-obra explorada e traficada destinada a satisfazer o desejo de produtos baratos e grandes lucros por parte de consumidores e empresas".
Segunda-feira começa em Bruxelas uma conferência ministerial sobre acção global da União Europeia no combate ao tráfico de seres humanos, uma oportunidade que a OIM vai aproveitar para pedir aos consumidores para "que assumam um papel mais activo no combate ao tráfico".
Segundo algumas estimativas, o número de pessoas que se encontram em situações de trabalho forçado ou servidão ronda os 12,3 milhões.
A campanha convida o público a interrogar-se sobre "o que está por trás do que compramos", esperando assim suscitar uma mudança no comportamento dos consumidores.
"Durante demasiado tempo tem-se acreditado que a pobreza e a discriminação de género estivessem na base do tráfico de seres humanos e que fossem estas as principais causas a combater, mas esta é uma leitura demasiado simplista," considera o director-geral da OIM, William Lacy Swing.
"O tráfico de seres humanos está motivado pela procura de mão-de-obra e de produtos excessivamente baratos vindos de todas as regiões do mundo", acrescenta.
A campanha "Compra Responsabilidade" terá um spot televisivo com um carrinho gigante de compras de supermercado virado ao contrário, com modelos que representam trabalhadores migrantes traficados.
Segundo a OIM, "o envelhecimento das populações, a diminuição da taxa de natalidade e participação produtiva em países industrializados, associado ao excesso de oferta de mão-de-obra nos países em vias de desenvolvimento sem que haja suficientes canais para a migração legal, tem permitido aos traficantes tirarem proveito da procura de mão de obra estrangeira a baixo custo".
Embora o grupo mais frágil de explorar sejam as mulheres e raparigas para exploração sexual, há crescentes incidências de tráfico para exploração laboral, envolvendo todas as idades e os dois sexos.
De acordo com a base de dados da OIM, nos últimos 11 anos as vítimas de tráfico por exploração laboral têm vindo a aumentar, com uma tendência acentuada nos últimos cinco anos.
"As vítimas são maioritariamente homens e rapazes traficados para trabalho nos sectores da agricultura, construção, pesca e serviços domésticos", revela a Organização Internacional para as Migrações.
Até hoje, os esforços globais de combate ao tráfico têm-se focado na prevenção e na assistência directa às vítimas, após o resgate nos países de origem, mas é necessário prestar mais atenção ao lado da procura.
"Alguns sectores da economia, como por exemplo a construção ou a agricultura, dependem de trabalho irregular e a baixo custo para crescimento e lucros", afirma o director-geral da Organização.
Neste sentido, são propostas medidas concretas, incluindo tornar empresas e empregadores legalmente responsáveis pelo tráfico de seres humanos e a exploração dos migrantes ao longo de toda a cadeia de aprovisionamento.
"Através da compra responsável e levando as empresas a repensar os seus métodos de funcionamento, os consumidores, que estão cada vez mais à procura de comércio justo, têm o poder de acabar com a exploração laboral", refere a OIM.