Autor: Lusa/AO Online
Nuno Ribeiro, que falou pela primeira vez no julgamento da operação ‘Prova Limpa’, com 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas, e que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, pediu para prestar declarações na ausência dos restantes arguidos, alegando ter vindo a “sofrer pressões e ameaças”, nomeadamente do também arguido Adriano Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha.
O vencedor da Volta a Portugal de 2003 começou por ler uma declaração escrita, na qual admite que o seu único erro foi saber o que se passava no seio da equipa e não ter tido a capacidade para dizer não, por depender economicamente do cargo que exercia, refutando a acusação de que era o “cérebro” do esquema de consumo de substâncias dopantes e atribuindo esse papel ao então dono da W52-FC Porto.
Nuno Ribeiro frisou que nunca exigiu, incentivou ou forçou algum ciclista a tomar substâncias dopantes, admitindo, contudo, que iam falar com ele, designadamente, para perguntar como é que podiam “tomar doping” sem serem detetados.
Ribeiro garantiu que nunca usou a sua ascendência profissional para que os ciclistas “tomassem doping”, mas apenas para que fossem melhores, salientando que os aconselhava a não ingerirem determinadas substâncias, que “usavam como entendiam”.
“Não me senti um criminoso. Fui um fraco por ceder. Devia ter dito não e não [ao doping]. Sinto-me triste e arrependido. Sei o quanto errei e peço desculpa à sociedade, a todos, mas sobretudo aos meus atletas”, afirmou, em tom emocionado, dizendo, mais à frente, que nunca comprou ou vendeu substâncias dopantes, pedindo ao tribunal que não lhe aplique uma pena privativa da liberdade.
Sobre o esquema de doping na W52-FC Porto, segundo Nuno Ribeiro, era financiado e incentivado pelo então patrão da equipa, entre 2020 e 2022.
O ex-diretor desportivo revelou ao tribunal que a toma de substâncias dopantes pelos ciclistas “era regular durante toda a época desportiva” e o financiamento para esse fim advinha do então dono da equipa e ocorria “durante o ano civil todo”.
Além do ordenado, de acordo com este arguido, Adriano Quintanilha entregava dinheiro, mensalmente, aos ciclistas para pagarem as substâncias dopantes, que adquiriam através da internet, de farmácias ou de outras formas.
Nuno Ribeiro explicou que, para “mascarar esses pagamentos”, o antigo patrão da W52-FC Porto usava “ajudas de custo fictícias”, com quilómetros ou despesas particulares, como almoços, que nunca foram realizados, razão pela qual a defesa requereu hoje ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta da Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo – o clube na origem da equipa -, que seria usada para efetuar esses pagamentos.
Nuno Ribeiro contou ainda que “a generalidade” da equipa da W52-FC Porto “sabia que havia doping e que quem financiava era o senhor Adriano”.
“Nunca tive dinheiro para o doping, nem instiguei ao uso do doping. Foi e sempre o senhor Adriano que o fez. O senhor Adriano gastava milhares de euros a patrocinar essas práticas dopantes”, afirmou o ex-diretor desportivo.
Segundo Nuno Ribeiro, o discurso de Adriano Quintanilha em todas as provas “era sempre o mesmo”, falando em “ditador e mestre da manipulação”.
“O do quero, posso, mando e pago. Ele sabia de tudo, queria ganhar a todo o custo e dizia: ‘pago para ganhar e ganho’. Atirava isso à cara dos ciclistas e ameaçava. O ambiente era infernal”, declarou.
Ribeiro revelou que Quintanilha já o abordou três vezes para que “assumisse a culpa toda”, em troca de 2.000 euros por mês durante dois anos, o que nunca aceitou, acrescentando ter saído do último encontro “cheio de medo”, pois Quintanilha “ameaçava, insultava e humilhava todos”.