Autor: Lusa/AO On line
Raimundo Quintal falava à agência Lusa da importância deste manto florestal que cobre cerca de 20 por cento da área do arquipélago da Madeira e é o único Património Natural Mundial da Unesco existente em território português, na véspera do Dia Ibérico da Floresta Autóctone, que se assinala segunda-feira.
Referiu que a floresta autóctone madeirense é composta sobretudo por mais de 15 mil hectares de Laurissilva, “na zona norte da ilha, devido aos ventos dominantes”.
“É muito importante referir que não foi por acaso que foi classificada pela Unesco em Dezembro de 1999, mas porque é uma floresta riquíssima em biodiversidade e integra muitas espécies que existiam na Europa no denominado Período Terciário e desapareceram com o arrefecimento do clima durante a glaciação do Quaternário”, destacou.
Raimundo Quintal apontou que algumas dessas espécies “desapareceram completamente (de outras regiões) e mantiveram-se na Madeira devido ao isolamento da ilha, sendo que outras foram evoluindo, daí a enorme riqueza ao nível da botânica, dos insectos e da fauna da floresta Laurissilva, sendo de realçar a avifauna”.
Menciona o caso do pombo-torcaz, “a ave mais emblemática, o bis-bis e o tentilhão”.
Realça que, com a erradicação do pastoreio e o abandono de alguns terrenos agrícolas na zona norte da ilha da Madeira, a “floresta lausissilva tem vindo a crescer nos últimos anos”.
Para o geógrafo madeirense, os problemas para a floresta “são preocupantes e têm a ver com algumas espécies invasoras que são verdadeiramente ameaçadoras” para este património natural.
Dá como exemplos de infestantes a “bananilha”, oriunda dos Himalaias, as pequenas árvores como o “incenseiro” da Austrália, “que chegou à região como espécie ornamental e cujo crescimento é preocupante em algumas zonas das serras de S.Jorge e Boaventura”, o arbustro “tabaqueira” da América do Sul e as “abundâncias” do México e da América Central.
“A cana vieira começa também a ter uma capacidade expansiva preocupante”, afirma.
“Se não queremos que aconteça na Madeira o que se passou em algumas ilhas dos Açores, onde algumas plantas invasoras fugiram completamente ao controle humano, é necessário adoptar uma estratégia muito maior, um combate mais intenso” a este problema, sustenta.
Considera ser determinante haver mais “empenhamento político” nesta área.
“Não podemos arriscar que este património da humanidade seja maculado, pelo que as comunidades madeirense e portuguesa têm de estar alerta para este facto”, concluiu.