Açoriano Oriental
Guterres diz que "terrível verdade" é que mundo falhou na proteção de civis

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que 100 milhões de pessoas tiveram de fugir das respetivas casas devido a conflitos em 2022, uma "terrível verdade" que mostra que o mundo não está a proteger os civis.

Guterres diz que "terrível verdade" é que mundo falhou na proteção de civis

Autor: Lusa

No debate anual do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a proteção de civis em conflitos armados, Guterres apresentou alguns dados que constam no seu último relatório sobre o tema, datado de 12 de maio, que mostra que a guerra está a devastar vidas em todo o mundo.

De acordo com o ex-primeiro-ministro português, as armas explosivas continuam a causar estragos, com 94% das suas vítimas em áreas urbanas a serem civis.

"Aqueles que conseguiram fugir da luta, fizeram-no em números recordes: o número total de pessoas forçadas a deixar as suas casas devido a conflitos, violência, violações de direitos humanos e perseguições chegou a 100 milhões", indicou o líder da ONU.

"Guerra significa fome", frisou Guterres, observando que o conflito armado é um fator-chave que impulsiona a insegurança alimentar em todo o mundo.

No ano passado, mais de 117 milhões de pessoas enfrentaram fome aguda principalmente por causa da guerra e da insegurança.

"Isto é um ultraje", frisou.

"A terrível verdade é que o mundo não está a cumprir os seus compromissos de proteger os civis, compromissos consagrados no direito internacional humanitário", sublinhou Guterres.

Em 2022, a ONU registou pelo menos 16.988 mortes de civis em 12 conflitos armados, um aumento de 53% em comparação com 2021.

Situações de conflito em que as vítimas civis aumentaram incluem Ucrânia, Somália e Palestina, enquanto Iémen e Síria, por exemplo, registaram quedas.

As crianças continuaram a ser particularmente vulneráveis a homicídios, sequestros, deslocamentos e recrutamento numa variedade de situações de conflito, enquanto mulheres e meninas representam pelo menos 95% das vítimas de violência sexual documentada.

Numa referência a conflitos mais recentes, Guterres assinalou o que decorre no Sudão, descrevendo um cenário em que centenas de civis foram mortos, cerca de 250 mil fugiram do país, os hospitais foram ocupados e atacados, o preço das mercadorias quadruplicou em algumas partes do país e os armazéns com a ajuda humanitária fornecida foram saqueados.

Guterres não deixou de referir outros conflitos que assolam diferentes geografias, com destaque para a Ucrânia, a Síria, o Afeganistão ou a Somália.

O líder das Nações Unidas aproveitou para prestar homenagem ao trabalho do Comité Internacional da Cruz Vermelha: “Enfrentam o perigo e a brutalidade com bravura, compaixão e humanidade. E sempre terão o meu total apoio".

Em 2022, 79 trabalhadores humanitários foram mortos, 43 ficaram feridos e 113 foram sequestrados em 17 contextos de conflito, segundo o relatório do secretário-geral da ONU.

Na mesma intervenção, Guterres dirigiu apelos aos Governos, para que influenciem as partes em conflito a envolverem-se no diálogo político e a treinarem as forças para protegerem os civis.

"Os países que exportam armas devem recusar-se a fazer negócios com qualquer parte que não cumpra o direito humanitário internacional. Aqueles que cometem crimes de guerra devem ser responsabilizados. Os Estados devem investigar supostos crimes de guerra, processar os perpetradores e fortalecer a capacidade de outros Estados para fazê-lo", defendeu.

"Os civis sofreram os efeitos mortais do conflito armado por muito tempo. É hora de cumprirmos a nossa promessa de protegê-los", concluiu António Guterres.

O debate, liderado pelo Presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, contou com a presença de vários chefes de Estado e ministros.

A embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, dirigiu duras críticas ao Presidente russo, Vladimir Putin, pelo custo humano que a agressão à Ucrânia causou e apelou ao corpo diplomático para que "nunca se torne insensível a este tipo de violência sem sentido".

"Esta guerra também teve um impacto devastador em populações vulneráveis em países distantes da Ucrânia. Milhões e milhões de pessoas foram empurradas para a insegurança alimentar como resultado desse conflito. Porquê? Porque a Rússia usou alimentos como arma de guerra na Ucrânia e, por vários meses, os cereais ucranianos que saíam do Mar Negro foram bloqueados", acusou a diplomata.

As palavras de Thomas-Greenfield foram contestadas pelo seu homólogo russo, Vasily Nebenzya, que, por vez, responsabilizou o Ocidente pela insegurança alimentar que muitos países enfrentam devido às "sanções unilaterais" que aplica.

"Como no passado, o nosso país é um dos principais fornecedores de produção agrícola do mundo, e conquistamos a reputação de parceiro confiável e previsível, e pretendemos continuar a trabalhar com esse espírito", disse Nebenzya, criticando as sanções contra Moscovo.


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