Açoriano Oriental
Grandes países da UE enfrentam regresso de nacionais que se juntaram ao Estado Islâmico

Os governos da Alemanha, França e Reino Unido estão a ser confrontados com pedidos de regresso de cidadãos nacionais que se juntaram aos 'jihadistas' do Estado Islâmico, em consequência das sucessivas derrotas militares do grupo extremista.


Autor: Lusa/AO online


"Senhora chanceler, quero regressar com o meu filho, ajude-nos [...] Não tenha medo, eu não sou terrorista", pediu em alemão num vídeo divulgado no princípio do mês pelo jornal Die Zeit uma mulher com o filho bebé nos braços, identificada como Nadia Ramadan, 31 anos, natural de Frankfurt (oeste da Alemanha).

A mulher foi recentemente detida, com os três filhos, por milicianos curdos na cidade síria de Raqa, a "capital" do "califado" proclamado em 2014, recentemente recuperada pela coligação internacional que combate o grupo 'jihadista'.

Berlim recusou oficialmente ajudá-la.

Segundo os serviços de informações da Alemanha, 950 cidadãos alemães juntaram-se ao Estado Islâmico desde 2011, cerca de um terço dos quais regressou e 150 foram mortos.

"Consideramos perigoso o regresso à Alemanha destes filhos de 'jihadistas', endoutrinados numa zona de guerra. Esse risco tem de ser tido em conta", disse à imprensa o chefe dos serviços de informações, Hans Georg Massen.

Em França, duas dezenas de famílias de mulheres que partiram para o "califado" pediram, numa carta ao presidente Emmanuel Macron, que este as autorize a regressar com os filhos.

A política de Paris tem sido a recusa de ajuda.

"No caso do Iraque, as pessoas que estavam em território iraquiano e foram detidas serão julgadas no Iraque", explicou hoje a ministra das Forças Armadas, Florence Parly, acrescentando que "aqueles que regressaram a território francês sabem que são passíveis de procedimento judicial".

"Na Síria [...], se cidadãos franceses estão em território sírio e nas mãos de diferentes autoridades, notificamos o CICV [Comité Internacional da Cruz Vermelha]", prosseguiu.

Segundo o governo francês, cerca de 1.700 nacionais partiram para as zonas controladas pelos 'jihadistas' a partir de 2014. Desses, 278 foram mortos, número que as autoridades admitem poder ser superior, e 302 regressaram a França -- 244 adultos e 58 menores.

Na carta a Macron, as famílias de francesas detidas na Síria pedem ao presidente que "faça todos os possíveis para facilitar o regresso destas jovens e dos seus filhos ao país, onde devem naturalmente relatar as suas ações às autoridades competentes".

No Reino Unido, as autoridades estimam em 850 o número de britânicos que se juntaram aos 'jihadistas' e, segundo um relatório recente do centro de estudos Soufan Center, 425 pessoas regressaram ao país vindas da Síria ou do Iraque.

A política de Londres nestes casos é "julgá-los" para que fiquem "na prisão muito tempo", explicou na semana passada o diretor nacional da polícia antiterrorista, Mark Rowley, admitindo contudo que nem sempre se consegue reunir elementos suficientes para uma condenação.

Para esses casos, as autoridades "ponderam medidas preventivas", como "instalá-los num determinado local e recorrer a um sistema de vigilância".

Mas há no Governo britânico quem defenda medidas mais radicais.

"Devemos considerar que essas pessoas constituem um grave perigo e, infelizmente, a única maneira de fazer face a isso será, em quase todos os casos, matá-los", disse, a 23 de outubro, o secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional, Rory Stewart.

Para o ministro da Defesa, Michael Fallon, o facto de alguém se juntar ao Estado Islâmico faz dele "um alvo legítimo" implicando o risco de "a cada hora de cada dia se verem do lado errado de um míssil da Royal Air Force ou dos Estados Unidos".


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