“O PS, ao fim de 20 anos de governação, está eivado de um sentimento de impunidade, prepotência, incapacidade de diálogo e imposição da sua vontade, pelo que lhe fazia muito bem um exercício de humildade democrática que o obrigasse a dialogar com outros partidos”, afirmou Zuraida Soares em entrevista à agência Lusa.
Para a candidata, “o PS já ganhou as eleições” de 16 de outubro, nas quais “um bom resultado” para o BE “é sempre crescer em número de votos e representatividade parlamentar”.
“Falta apenas saber se ganha com maioria relativa, o que o obrigaria a aceitar outras propostas, ou se ganha com uma nova maioria absoluta”, declarou a deputada única do Bloco, de 64 anos.
Questionada se o BE/Açores estaria disponível para uma solução governativa semelhante à da República, Zuraida Soares respondeu que a situação política nos Açores “é completamente diferente”, recusando-se a antecipar cenários.
“Agora é o momento dos partidos dizerem ao que vêm. Depois é o momento dos eleitores se pronunciarem e daquilo que resultar dessa avaliação no dia 17 de outubro o BE está aqui, como esteve na República com a máxima responsabilidade, com a máxima atenção aos problemas e necessidades dos açorianos e açorianas para dialogar com quem quer que seja”, referiu Zuraida Soares.
Para a cabeça de lista do BE, “esta permanente bipolarização” entre PS e PSD (cada um dos partidos governou 20 anos os Açores) “não tem trazido assim tanta coisa de positivo” ao nível do emprego, combate à precariedade, pobreza, desigualdades sociais, sustentabilidade dos setores primários, entre outros aspetos.
“Os Açores estão pior”, considerou, adiantando que tal resulta não só das “más políticas, omissas, hesitantes”, mas também devido à situação nacional e europeia, exemplificando com a agricultura, onde “após anos de investimento, há mais de 60% das explorações falidas”, e as pescas.
Neste caso, apesar de a região ter a maior Zona Económica Exclusiva do país e da Europa, os pescadores recebem “salários de miséria”.
Já ao nível do desemprego no arquipélago, a candidata considerou que “os números estão mascarados” pelo Governo Regional, porque “um ocupado não é um empregado”.
“Venho de uma geração que foi do proletariado. Neste momento confrontamo-nos com a geração do precariado e agora temos a geração do ‘ocupariado’, que não é nem trabalhador, nem operário, nem precário, não é nada, não existe, não tem direitos”, salientou Zuraida Soares, acrescentando que o BE não é contra os programas ocupacionais, mas defende maior fiscalização.
Assumindo ser inegável que a governação socialista “abriu uma porta nos Açores” mas “não a escancarou”, a também coordenadora regional do BE referiu que o arquipélago precisa de “novas políticas e novas práticas”, desde logo ao nível da rentabilização do mar e da posição geoestratégica do arquipélago.
O BE defende a criação, na ilha do Faial, de um centro de investigação internacional, e que a posição geoestratégica da base das Lajes, na Terceira, “agora adormecida”, seja rentabilizada.