Autor: Lusa/AO Online
As acusações de “subserviência” a Berlim são em tudo idênticas àquelas que foram dirigidas ao anterior primeiro-ministro José Sócrates, levando este a rebatê-las na sua última visita oficial à Alemanha, afirmando que Portugal, “um país com oito séculos de história”, não era “subserviente com ninguém”. Do mesmo modo, Passos Coelho também rejeita as críticas, rejeita a “diabolização” de Merkel e da Alemanha, e enaltece o papel que este país tem desempenhado no combate à crise do euro e, em concreto, na ajuda a Portugal. No entanto, a sintonia entre os atuais líderes políticos de Portugal e Alemanha só ganhou verdadeiramente forma desde que Pedro Passos Coelho foi eleito primeiro-ministro, já que pouco antes até houve divergências entre o então líder do PSD na oposição e Angela Merkel, devido precisamente ao “chumbo” do “famoso” PEC IV de José Sócrates, que precipitou as eleições antecipadas em Portugal em 2011. A 24 de março desse ano, naquela que seria a última vez que Passos Coelho se deslocou a Bruxelas como líder da oposição, para uma reunião do Partido Popular Europeu (PPE) – família política à qual ambos pertencem -, antes de uma cimeira europeia, o líder do PSD assumiu uma discordância com a chanceler alemã sobre a reprovação, na véspera, do Programa de Estabilidade e Crescimento, que Merkel lamentou “profundamente”. O chumbo pelo PSD do chamado “PEC IV”, que tinha merecido os aplausos dos parceiros europeus, viria a originar a demissão do Governo socialista de José Sócrates e a realização de eleições legislativas antecipadas, em junho, que Passos Coelho venceu. No entanto, também a 24 de março, à margem daquela que seria a última cimeira de Sócrates em Bruxelas, Merkel elogiou publicamente o programa “muito corajoso” e “apropriado” até 2013 que o líder socialista havia apresentado aos parceiros europeus mas que a Assembleia da República rejeitou, o que a chanceler disse lamentar “profundamente”. No final da reunião do PPE, Passos Coelho disse não partilhar a opinião da chanceler alemã, à qual procurou explicar os motivos que levaram o PSD a inviabilizar um programa considerado apropriado em Bruxelas. Esse encontro terá sido assim o menos harmonioso entre Passos Coelho e Merkel, que rapidamente ultrapassaram a divergência, com a pronta implementação, pelo Governo PSD/CDS-PP, do programa de assistência financeira (negociado ainda pelo anterior executivo socialista), diversas vezes elogiada por Berlim. A 23 de junho de 2011, Passos Coelho encontrou-se com Merkel pela primeira vez enquanto primeiro-ministro, na sua “estreia” em cimeiras de líderes europeus em Bruxelas - e então a sua participação da reunião do PPE foi bem distinta da experiência de março, com o novo primeiro-ministro a ser pela vitória nas eleições de 05 de junho e encorajado a implementar o novo programa de reformas. Na primeira visita a Berlim, a 1 de setembro, o primeiro-ministro português e a chanceler alemã mostraram em Berlim grande sintonia de posições sobre o que devia ser feito para combater a crise na zona euro, incluindo na questão da emissão de ‘eurobonds’, que Berlim rejeita terminantemente, e que diversas vozes em Portugal defendiam ser a solução apropriada para o país. Desde então, os dois governantes já se encontraram diversas vezes, designadamente em sede de Conselhos Europeus, tendo também em janeiro deste ano Passos Coelho debatido o futuro da união económica e monetária e a crise europeia, em Berlim, com a chanceler alemã, Angela Merkel. Em vésperas da primeira visita de Merkel a Portugal, e quando se repetem as críticas de “seguidismo” – o líder da oposição, o secretário-geral do PS, António José Seguro, já acusou mesmo Passos Coelho de ter a chanceler como sua “tutora” -, o primeiro-ministro refuta as acusações, tendo-se insurgido esta semana contra a “diabolização da questão da austeridade em torno da figura da chanceler alemã”.