Sábado, dia 8 junho

Encenação de "Os Passos em Volta" de Herberto Helder pela primeira vez em palco

“Passos em Volta”, a peça em que a Companhia João Garcia Miguel encena o livro de Herberto Helder, tem antestreia marcada para este sábado, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores, seguindo para o Teatro Ibérico, em Lisboa.



Com interpretação de João Lagarto, David Pereira Bastos, Duarte Melo e Lara Guidetti ou Beatriz Godinho, a peça é uma adaptação de João Garcia Miguel da obra “Os Passos em Volta”, de Herberto Helder, em que os textos do poeta "são um pretexto para a perceção de um eu que tem um corpo, que sente, que procura Deus, o amor, que busca transcender-se”, lê-se na sinopse do espetáculo.

À agência Lusa, João Garcia Miguel admitiu que se pega num texto de Herberto Helder “por necessidade de se falar sobre aquilo que é escrito por outros portugueses, por gente que vive coisas parecidas", mas também, “provavelmente, por alguma burrice, porque é um texto difícil”.

“Escolhemos, especificamente, 'Os Passos em Volta', por ser um texto que tem uma dimensão teatral mais interessante e tem uma dimensão poética que me interessa bastante, e nos obriga a nós, e ao público, a olhar para nós”, esclareceu João Garcia Miguel.

O encenador assume o papel de “continuador” do trabalho do poeta, transpondo-o “para a forma teatral, e pensando também que o teatro é uma forma de poesia e que nos coloca em causa pela sua estranheza e pela sua incompreensão”.

Na preparação do espetáculo foram feitos 'workshops', que permitiram “ir trabalhando o texto e ir trabalhando 'o' Herberto com um conjunto muito alargado de pessoas”, num esforço de agregar “outros agentes, intérpretes e atores”, dando a conhecer, simultaneamente, o trabalho da companhia, explicou.

“Neste caso, os 'workshops'" sobre Herberto Helder "funcionaram sempre como uma forma de perceber a dimensão poética do texto e as infinitas possibilidades de o ler e de o perceber. Claro que não esgotámos os sentidos do texto, mas ajudou-nos a ir percebendo, a ir antecipando e a fazer um trabalho de relação com o universo da poesia que, depois, de uma forma um pouco subtil e provavelmente não fechada, acaba por ser trazida para o trabalho com os atores”.

Este é, também, “um espetáculo sobre o teatro e aqueles que dedicam a sua vida à poesia feita através dos seus corpos”, deixa antever a descrição da peça.

“Nesta peça, o teatro, também ele, é posto em causa, no sentido de não haver aquilo que é a ideia de um personagem no sentido mais tradicional ou mais clássico, e de haver uma relação com o espaço, com o tempo. O próprio personagem da Lara [Guidetti], que é uma personagem que não tem texto, mas que, no fundo, faz parte do imaginário da poética do Herberto… Ela vem como a ideia da mulher, a mãe, a esposa, a prostituta, as várias mulheres, no sentido dos arquétipos – a própria 'mitologia das pessoas', como ele próprio [Herberto Helder] diz”, afirmou o encenador.

Bailarina de formação, mas com uma vasta experiência em teatro físico, Lara Guidetti afirmou que é na “busca pela liberdade” que estabelece “uma relação com a poesia” e que, ao “saltar para as palavras e para as imagens”, por vezes, “está em sintonia com o texto”.

O trabalho corporal estende-se, contudo, a todo o elenco, “há uma coisa que é transversal a tudo isto: seja qual for a linguagem pessoal de cada um, há qualquer coisa que se procura, que tem a ver com uma intensidade, normalmente, e com uma qualidade no trabalho do corpo, que alimente uma linguagem cénica, que é plástica e é muito visual”, conforme explicou David Pereira Bastos.

O ator adiantou ainda que, no esforço de tradução de um texto poético para uma linguagem corporal, “procuram-se lógicas extra quotidianas, fora de uma representação figurativa e realista”.

“É dentro de uma zona de representação mais, se calhar, expressionista e não figurativa, muitas vezes abstrata, em que o corpo procura falar, quer a partir dos conteúdos que estão no texto, quer no sentido de os alimentar”, prosseguiu.

A antestreia de “Passos em Volta” acontece este sábado, às 21:30, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, numa encenação “que parece ser muito inesperada, apropriada e dedicada a este espaço - toda ela vai parecer ter um dimensão muito industrial ou tecnológica, mas que, na verdade, é uma coisa muito relacionada com um certo despir, uma certa simplicidade”, concretizou o encenador da peça.

Para as apresentações já agendadas para Lisboa, de 19 a 22 e de 26 a 29 de junho, no Teatro Ibérico, “a peça tem uma cenografia diferente”, mas mantém-se a poesia de Herberto Helder e a “mestria do trabalho deles [atores], a capacidade de fazerem imaginar outras coisas”, disse ainda João Garcia Miguel.


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