Autor: Carolina Moreira
O Coliseu Micaelense acolheu a tertúlia “E se...”, protagonizada pelo humorista António Raminhos que, através da sua experiência pessoal, se propôs a falar sem tabus com cerca de 500 jovens estudantes sobre a saúde mental e também a prevenção e luta contra o suicídio.
No evento, que também contou com a presença da psiquiatra Raquel Pruxa e do psicólogo Luís Carneiro, ficou o apelo aos jovens para que “peçam ajuda, sem vergonha e sem qualquer problema, porque estamos cá para ajudar”. Ajuda essa que, segundo os profissionais, é facultada não só nas escolas, como nos centros de saúde através dos médicos de família e dos enfermeiros de saúde infantil, e também no serviço de urgência do hospital que é “a porta de entrada para referenciação quanto ao suicídio”.
O painel de convidados de António Raminhos ficou completo com a presença do jovem Afonso Subica, presidente da associação de estudantes da Escola Secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada, que falou sobre bullying, a pressão que os jovens sentem para serem bem sucedidos e ainda a necessidade de “falarem com os seus pares”.
“Devido ao sistema de ensino errado que temos, ficamos com muito medo de o futuro não correr da forma que esperamos. Temos muito peso nos ombros, muitas vezes somos nós que o colocamos em nós próprios, mas também nos exigem sempre mais e mais. Mas quero deixar a mensagem de que ‘tá tudo bem se aquele teste não correu bem, ‘tá tudo bem se não entrei na universidade no primeiro ano. As coisas hão de se fazer a seu tempo”, salientou.
À saída da tertúlia, os cerca de 500 estudantes que se deslocaram ao Coliseu na companhia dos professores aplaudiram a iniciativa.
“Gostei. Acho que é um assunto que se deve abordar muito bem hoje em dia, porque cada vez mais vemos muitos jovens adolescentes e mesmo crianças a fazerem bullying umas com as outras e a saúde mental é uma coisa que nós devemos priorizar na nossa vida, acima de tudo. E temos de pensar no outro e colocarmo-nos na sua pele”, considerou Luís Couto.
Aos 18 anos, o jovem relata que sofreu “bastante” de bullying e que acabou por “guardar muito para mim”.
“Até hoje, os meus encarregados de educação não sabem disso. O meu medo era transmitir-lhes muita preocupação e dar-lhes muita dor. Por isso guardei muito para mim. Fechava-me muita vez no meu quarto, estive numa psicóloga durante algum tempo e lá me consegui desenrascar. Mas foi muito difícil lidar com isso, mas estou aqui e acho que consegui superar isso sozinho”, relata.
Já Francisco Cary, com apenas 16 anos, lidou recentemente com o suicídio de um dos seus melhores amigos e pede uma melhor resposta. “Na minha opinião, a Linha de Saúde não vai resolver o problema de ninguém. O suporte que tive foi basicamente ‘amanhem-se’. Uma pessoa não lida. Sobrevive e espera para ver o que acontece a seguir. A situação foi uma injustiça, principalmente para quem cá ficou sem ele. Eu próprio fiquei a pensar o que poderei ter feito de mal para ele se ter suicidado”, conta.
Questionado sobre o que poderá estar a
agravar a saúde mental dos jovens, Francisco reflete: “Já pareço a minha
mãe, mas acho que este excesso de informação e a internet fazem mal à
cabeça das crianças. As pessoas só consomem estupidez e pronto. Não sei
como explicar o que vai na cabeça dos jovens”, diz.