CDS-PP contra voto bipartidário


Félix Rodrigues pede oportunidade para substituir “os mesmos de sempre” e defende que a tese de governos da mesma cor nos Açores e em Lisboa não se justifica porque o PS não conseguiu entender-se em aspectos fundamentais.


 

O que o leva a concorrer à Assembleia da República?
Sempre fiz política passiva, criticando o que deve ser criticado. Quando o partido indicou o meu nome para ser cabeça-de-lista pelos Açores, pensei e cheguei à conclusão de que chegara o momento de fazer política institucional.
Porquê agora?
Porque depois do ciclo PSD, em cuja parte final participei activamente, penso que volta a ser necessário. Quando vemos que o mérito por vezes não é compensado, quando os alunos mais esforçados não são os mais premiados, quando vejo que a justiça não funciona, o mesmo acontecendo com as estratégias de solidariedade social, entre  outras coisas, considero que não podemos ficar calados e que devemos esclarecer desde as questões da democracia - porque andamos aqui a enganar toda a gente - até ...
Como assim?
Olhe, concorre pelo PSD o Dr. Mota Amaral, mas fala-se da Dra. Manuela Ferreira Leite. Pelo PS, o dr. Ricardo Rodrigues, mas fala-se no Eng. José Sócrates. E a discussão está em torno de quem é mais amigo dos Açores. Bem, mais amigo dos Açores do que eu não há, logo, esses senhores não interessam.
É benéfico um governo da mesma cor em Sant’Ana e em Lisboa?
Não! Quando estamos de boa-fé somos capazes de dialogar com qualquer um. Por exemplo, em termos ideológicos sou completamente oposto ao Bloco de Esquerda, contudo concordo com algumas coisas que o Bloco defende. A racionalidade acima de tudo.
O que está em causa é a defesa dos interesses dos açorianos e dos Açores no contexto nacional. Por isso é que há círculos eleitorais!
Que assuntos considera prioritários para Região e para o País?
Comecemos pelas passagens aéreas nos Açores e para o exterior. São das mais caras da Europa. É incompreensível para um país que defende a coesão nacional.
 Curiosamente, aquilo que dizemos há muito acerca do preço exorbitante das tarifas até fez eco: o presidente do Governo Regional anunciou na última terça-feira a redução das tarifas inter-ilhas. Muitos parabéns. Mas não é suficiente. O problema é que temos duas companhias aéreas, a SATA e a TAP, que são ambas empresas públicas, a primeira financiada pelo Governo Regional e a segunda pelo Governo da República. E têm acordos de code-sharing. Ora, esta realidade impede que as “low cost”  voem para os Açores porque não podem competir com empresas que são financiadas, o que desvirtua o sentido do mercado.
De qualquer modo, ainda bem que há a descida das tarifas aéreas, entre muitas outras propostas defendidas pelo CDS-PP, e que o Governo Regional afirme que já tinha pensado. O que concluímos é que se o CDS-PP fosse Governo já tinha aplicado as mesmas propostas quatro meses antes!
Outro exemplo em que as realidades regional e nacional se cruzam é nos aeroportos. Não podemos deixar ao abandono infra-estruturas que são regionais, mas também nacionais.
 Mais um caso, este relacionado com o património da República nos Açores. É  simples de identificar: está degradado!
Vejamos ainda o que se passa com os estabelecimentos prisionais. Angra tem uma sobrelotação de 168% e Ponta Delgada ocupa o terceiro lugar nas cadeias mais sobrelotadas do país, isto é, a nível da sobrelotação nos três primeiros estabelecimentos  surgem à cabeça dois dos Açores. Desastres autênticos! Ou seja, a República tem responsabilidades na nossa memória colectiva de portugueses. Mais: a Universidade dos Açores é tutelada pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, mas a República demite-se das suas responsabilidades. A República não tem critérios de financiamento para coisas atípicas e os Açores são atípicos. Olhe, Évora e Aveiro cresceram com a universidade; aqui, Ponta Delgada cresceu um bocadinho e em Angra colocou-se a universidade ao lado de um gueto social. A Horta, nem vê-la. É também incompreensível que a um docente com actividade lectiva nos Açores não lhe seja contado o tempo de serviço se for para o continente. O mesmo acontece com um docente do continente que venha para os Açores. É por fim incompreensível que haja um sistema nacional de saúde e outro regional. Depois de tudo isto, como se advoga então que a mesma cor política facilita as coisas se eles não são capazes de dialogar nas coisas fundamentais!
O que distingue o vosso programa?
Vamos concentrar as atenções em dadas áreas.  Comecemos pela Educação: o problema não é programático mas paradigmático. Não pode haver Educação  sem mobilizar os docentes. Não é uma directiva de cima para baixo que resolve tudo.
Na Justiça não podemos admitir que o arguido seja esquecido. O violador é perdoado e  quem foi agredido e  perdeu os seus bens esquecido. Não podemos admitir que  uma pessoa  cometa um, dois, três crimes, seja perdoado. O criminoso não é coitado, deve ser recuperado e se não se conseguir deve ficar no lugar que lhe está destinado. Portanto, queremos uma Justiça completamente diferente.
Saúde: É importante que os açorianos não sejam discriminados. Não faz sentido listas de espera. Conto-lhe algo que aconteceu comigo: recebi um telefonema, há dois meses, a dizer que tinha uma consulta, ao que respondi que não me lembrava. “Foi marcada em 2006”, responderam-me. A privatização da saúde pode existir, o que não pode continuar é a incompetência na gestão da saúde pública.
 Grandes investimentos a nível nacional: Totalmente contra o TGV e a favor de uma nova visão de desenvolvimento do país.  O mar é o nosso futuro. E porquê? A exploração do mar a nível das pescas, investigação e turismo. Podemos extrair do mar cerca de 20 mil milhões de euros por ano, o que fará crescer o Produto Interno Bruto cerca de 12% até 2012. O TGV, no contrato Portugal/Espanha, fará crescer o Produto Interno Bruto de Portugal na região norte de 1 a 1,5%. E vai hipotecar duas gerações vindouras.
O  que será  um bom resultado eleitoral para o CDS-PP ?
Bem, um resultado realista é o CDS-PP eleger um deputado pelos Açores. As pessoas estão cansadas dos mesmos de sempre (PS e PSD) e querem mudança.  A nível nacional o melhor desempenho nos debates foi de Paulo Portas. A questão é esta: as pessoas identificam-se com os argumentos e com discurso mas não com a imagem.
Nas sondagens o CDS-PP perde alguns votos...
Perde alguns votos porque se assiste a um desvario dos professores para o Bloco de Esquerda.
O vosso adversário é o Bloco?
Não! São todos os partidos que concorrem à Assembleia da República e teoricamente o Dr. Paulo Portas tem condições para ser primeiro - ministro. Mas nós sabemos que temos votações “clubistas”. Isto não é democracia e não se está a fazer um esforço para explicar o que está em causa. Está toda a gente a dizer que as pessoas vão escolher entre dois primeiros-ministros. Mentira! Serão primeiros-ministros se os resultados das eleições de todos os círculos eleitorais lhes forem favoráveis, o que é  diferente.
Em caso de maioria relativa, PS ou PSD, temos um caso complexo porque o terceiro partido mais votado poderá não ser suficiente para formar governo...
A razão por vezes está na capacidade de diálogo e o que tem faltado a este governo é  dialogar.
Admitiria viabilizar, ao lado do Bloco de Esquerda, um governo socialista?
É muito difícil. Não poderemos viabilizar quem defende o TGV.
E um Governo PSD, com o apoio do Bloco de Esquerda?
Depende das cedências, do diálogo e que as ideias sejam válidas. Os Açores e Portugal já foram governados por maiorias relativas.
As maiorias absolutas são perigosas?
Depende de quem lá está. Tivemos maiorias que foram perigosas e que puseram em causa a democracia e em que inclusivamente se desencadearam perseguições.
Preocupado com a abstenção?
Temos procurado elucidar as pessoas e muitas vezes ouvimos: para quê votar se fica tudo na mesma? De facto, quando o voto é bipartidário nada muda. É necessário dar a imagem da política como serviço público em vez de um serviço de si próprios. E isto anda tudo misturado. Quando vemos que vale tudo em campanha e que se dão sacos de cimento para cimentar currais de porcos no Pico, isto é preocupante. Há exemplos em todas as ilhas. Quem se preocupa com a democracia tem forma de evitar isto. Se alguém se vende por um saco de cimento, é um problema democrático de quem se vendeu e de quem comprou.
Esse saco tinha “cor” política?
Faz parte de um dos dois grandes partidos, mas não vou dizer qual. Compram-se as pessoas com pequenas coisas e as pessoas vendem-se por pequenas coisas. E esta denúncia deve ser feita. E é por isso que devemos ir a eleições.

PUB

Premium

Entre 2014 e 2024, a comercialização do leite e do queijo açoriano, no seu conjunto, registou um aumento de valor de 44 por cento, passando de 190,7 milhões de euros em 2014 para os 274,6 milhões de euros registados em 2024