Açoriano Oriental
Carreiros da Madeira levam carros de cesto a Lisboa
Dez carreiros e cinco carros de cesto da Madeira vão estar em Lisboa na quarta-feira, fazendo descidas na Rua do Carmo, no Chiado, numa ação que visa promover uma das atividades mais famosas da ilha.
Carreiros da Madeira levam carros de cesto a Lisboa

Autor: Lusa / AO online

 

"Vai ser como uma coisa do outro mundo, os carros de cesto da Madeira a fazer descidas no continente", disse à agência Lusa o presidente da Associação dos Carreiros do Monte, Norberto Gouveia.

"Tenho a certeza de que muita gente vai ficar espantada. Acho que vai chamar muito a atenção das pessoas. E alguém vai explicar que é uma tradição da Madeira, onde os carros de cesto funcionam durante todo o ano", realçou.

A profissão de carreiro e as descidas em carro de cesto do Monte ao Livramento, no Funchal, remontam ao século XIX. Durante décadas foi um negócio familiar, mas por fim abriu-se à sociedade. Agora vai também sair dos limites da ilha, ainda que só por um dia, para se exibir na capital do país.

A iniciativa é do Governo Regional, no âmbito da promoção do destino Madeira, mas os protagonistas são os carreiros, um grupo profissional composto por 150 homens, que manobram diariamente cerca de 90 carros, conduzindo sobretudo turistas por uma sinuosa descida de dois quilómetros, há muito mundialmente famosa.

"Um carreiro é recrutado, em princípio, pela força que revela, embora isto seja mais o jeito do que a força", explicou Norberto Gouveia, lembrando que 70% dos profissionais tem menos de 30 anos.

Segue-se um período de teste, que não vai além de 15 dias, em que o "recruta" faz descidas com um dos profissionais mais experientes, sendo depois integrado no grupo.

No passado, um dos requisitos fundamentais para entrar na profissão era ser descendente direto ou indireto de carreiros, mas a associação acabou por ceder face ao aumento da procura.

"Chegámos a uma altura, nos anos 80, em que a atividade já não podia funcionar dessa maneira. Então, apostámos em recrutar também pessoas sem ser das famílias e sem ser só da freguesia do Monte, de modo que agora existem carreiros oriundos de vários pontos da Madeira e até do Porto Santo", explicou Norberto Gouveia, que tem 52 anos e se iniciou na atividade em 1976.

O equipamento do carreiro é composto por calças e camisa brancas, chapéu de palha, uma corda (utilizada para manobrar o carro) e um par de botas, modelo típico da Madeira, feito com solas de pneu, para agarrar bem a estrada.

O carro de cesto, também conhecido por carro do Monte ou carrinho, é controlado por dois homens e recentemente foi considerado pelo canal televisivo norte-americano CNN um dos sete meios de transporte mais "fixes" do mundo.

"Por vezes, acontecem acidentes, mas nunca são graves", disse Norberto Gouveia, convidando todos a experimentar uma descida. E realçou: "É um dos transportes mais seguros, acho eu. Aquilo vai de arrastos e atinge uma velocidade média de 10 a 15 quilómetros/hora".

Embora os carreiros funcionem com 90 carros, a frota é constituída por 170. Os carros, feitos essencialmente de madeira e vime, sofrem um grande desgaste ao nível dos malhares (peças que estão em contacto direto com a estrada) e a associação dispõe de uma oficina própria para fazer reparações.

"É uma atividade muito procurada pelos turistas e os 150 homens, às vezes, não chegam", disse Norberto Gouveia, salientando que os meses mais intensos são os de junho, julho e agosto.

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