Açoriano Oriental
“Cada dia era uma nova aventura muito intensa”

Juntamente com 19 bailarinos internacionais, a coreógrafa Meg Stuart esteve em abril em residência artística em São Miguel, ilha que a surpreendeu pelas suas paisagens, espaços e mística

“Cada dia era uma nova aventura muito intensa”

Autor: Rafael Dutra

Acoreógrafa e bailarina norte-americana Meg Stuart esteve, em abril, na ilha de São Miguel, juntamente com uma equipa multidisciplinar de 19 bailarinos, acompanhados pela equipa do Fórum Dança.

Este grupo explorou a paisagem açoriana como espaço de criação, ritual e encontro, numa intensa experiência sensorial e coreográfica em relação direta com os elementos, influenciada por um forte desejo de escuta, transformação e improvisação em tempo real.

A coreógrafa regressa aos Açores depois de uma visita à ilha de São Miguel em 2023, durante a sua lua-de-mel, momento em que ficou fascinada pelas piscinas da Ribeira Grande. Já num contexto de residência artística, no âmbito da Bienal Walk&Talk 2025, que teria como  base o Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, Meg Stuart voltaria não só a estas piscinas, mas iria ainda às Furnas, às Sete Cidades e à Ferraria.

Este grupo, composto por bailarinos de diversos países, dos 25 aos 48 anos, começou a trabalhar em fevereiro e terminará em junho, tendo pelo meio ido a São Miguel, onde fizeram “muitas práticas diferentes especialmente improvisações”, explica Meg Stuart em entrevista ao Açoriano Oriental.

“Trabalhámos com o corpo, mas também com a energia metafísica que se vê em cena, com os mistérios nas suas várias formas”, prossegue. Ao longo da residência, os artistas exploraram, através da  dança, em sintonia com estes locais, técnicas ligadas à descolonização, à decomposição, à celebração ritual, ao apoio e abrigo, e à cura.

“Todo um tipo de processos alquímicos através do corpo, da voz, construindo uma comunidade artística”,  indicou a bailarina norte-americana.

Os resultados das residências serão depois transformados num filme, editado pela própria Meg que além da beleza paisagística açoriana, também experienciou a instabilidade climática associada aos Açores.

“Estávamos nestes locais com rochas vulcânicas, foi muito intenso e selvagem. Estive a filmar e a dirigir improvisações ao vivo, debaixo de um clima imprevisível com mais 19 pessoas”, assinalou Meg Stuart.

E acrescentou: “Conseguimos trabalhar com espaços e distâncias que na cidade e no estúdio só poderíamos imaginar. Foi essencial explorar não apenas a fisicalidade desses lugares vastos e indomáveis, mas também o poder da imaginação e da fantasia diante do que é infinito, selvagem e imprevisível”.

Para além da residência, a coreógrafa norte-americana também conduziu uma masterclass com artistas e agentes culturais locais, da área das artes performativas, que serviu como lugar de interação e partilha de conhecimento.

“Houve muitos momentos em que se falou sobre ligação, não apenas no sentido físico, mas energético. Trabalhámos com músicas suaves, sensíveis, focadas na energia, na vibração e na frequência. Não se tratava apenas de dançar, de mover ou de seguir um ritmo, mas de entender como nos encontramos energeticamente e, a partir daí, descobrir o ponto mais profundo de conexão entre nós”, explanou Meg Stuart.

Tendo em conta que este grupo era muito diverso em termos de idades e experiências, acabou por ser uma aula “linda” porque não é de todo comum para a bailarina.

“Normalmente trabalho com bailarinos profissionais ou estudantes em início de formação. Foi incrível perceber que os meus exercícios podiam acolher cada pessoa onde ela está, criar ligações, sintonizar o grupo”, salientou.

Questionada se gostaria de voltar a fazer este tipo de trabalho nos Açores, Meg Stuart admite que “voltaria vezes sem conta”.

“Sinto que apenas tocámos a superfície - podia regressar às piscinas da Ribeira Grande vezes e vezes sem conta, ou até realizar ali uma performance, continuar a encontrar-me com esses espaços. Este ato de dançar, improvisar e dirigir ao vivo é, para mim, uma forma de encontro que gostaria muito de aprofundar. Sinto que a ilha tem uma força imensa”, sustentou.

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