Autor: Lusa/AO Online
“Queremos criar uma nova prestação social que substitua o RSI [Rendimento Social de Inserção], o Subsídio Social de Desemprego, ou os apoios pontuais aos recibos verdes. Uma prestação que substitua a floresta de apoios existentes e que tem por base que ninguém deve viver abaixo do limiar da pobreza”, explicou Catarina Martins num comício no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, nos Açores.
A líder do BE disse estar em causa “uma nova forma de olhar para a Segurança Social” e uma “nova prestação que seja útil, digna, transparente, que considere as crianças por inteiro”.
A par disso, o BE pretende “combater o trabalho informal”, permitindo acesso a apoios por parte de quem não fez descontos para a Segurança Social por ter trabalhado sem direito a eles.
“Queremos que uma pessoa se possa dirigir à Segurança Social e diga: «Sabe por que não tenho acesso a subsídio de desemprego? Porque nunca me fizeram descontos. Quem não me fez descontos foi esta entidade”, descreveu.
Para Catarina Martins, deve haver um “combate determinado ao trabalho informal, pondo o ónus não em quem trabalha mas em quem abusou”, para que “toda a gente tenha direito a um contrato de trabalho no país”.
A líder bloquista lembrou que o subsídio de desemprego “só chega a 2% das pessoas que perdem rendimentos do trabalho”.
“É quase ninguém”, alertou.
“Colocar trabalhadores pobres contra trabalhadores miseráveis nunca fará nada pelo país”, vincou.
Catarina Martins revelou ainda que pretende, a nível nacional, replicar uma medida que não passou na Assembleia da República mas foi aprovada nos Açores “por iniciativa do BE, para recalcular a pensão das profissões de desgaste rápido”.
“Queremos recalcular as pensões de quem se reformou com duplas penalizações do tempo da ‘troika’ e que hoje já não existiriam. Não queremos que quem trabalhou toda uma vida tenha de estender a mão para ficar abaixo do limiar da pobreza”, indicou.
Catarina Martins criticou o PS porque, nos últimos dias, “parece que não há nenhuma questão para resolver” para além da pandemia de covid-19.
“Esse é um dos mais perigosos equívocos que podíamos ter. O problema não é só como se responde a pandemia. É aos problemas de todos os dias. O problema de Portugal é ter uma política de baixos salários, que premeia o abuso a quem trabalha”, sustentou.
A coordenadora criticou que os salários médios estejam “cada vez mais colados aos salários mínimos”, a “especulação imobiliária que não parou e as rendas mais altas do que os salários”.
“Quantas pessoas trabalham no turismo, na restauração, sem que lhes seja feito contrato? Que, quando a pandemia para o país, ficam sem nenhum apoio porque nunca tiveram contrato. Nada justifica que se feche os olhos a isto”, defendeu.
De acordo com Catarina Martins, “um terço dos jovens já pensa em emigrar”, pelo que “fechar os olhos é adiar Portugal”.
Para a líder do BE, nos últimos dois anos, após as legislativas de 2019, o PS “achou que o melhor era negociar ora à direita ora à esquerda”, deixando “intocada a estrutura que puxa os salários para baixo”.
Por outro lado, disse, “nos Açores a direita chegou ao poder e disse que há um problema com os pobres”.
“É extraordinário que a direita só tem problemas com os pobres, para humilhar mais os pobres”, lamentou.
As eleições legislativas antecipadas estão marcadas para 30 de janeiro e os Açores elegem cinco deputados para a Assembleia da República.
Nas legislativas de 2019, foram eleitos três pelo PS e dois pelo PSD.