Açoriano Oriental
Adolescente Greta Thunberg pôs o mundo a discutir o clima

Aos 16 anos, a sueca Greta Thunberg alcançou o primeiro objetivo a que se propôs na luta contra as alterações climáticas: captou a atenção dos líderes mundiais, organizou os jovens e mobilizou consciências entre a sociedade civil.

Adolescente Greta Thunberg pôs o mundo a discutir o clima

Autor: Lusa/AO Online

Tal como a causa que defende, a ativista climática, escolhida pela redação da Lusa como personalidade do ano em 2019, acabou por se tornar ela própria num tema fraturante.

Dos elogios do Papa à manifesta irritação de Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, passando pelo desdém com que o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, trata as questões que lhe são desconfortáveis, o mundo parece não ficar indiferente à jovem sueca, que começou um movimento internacional pelo clima sozinha, com um cartaz de papelão, em frente ao parlamento do seu país, uma cruzada que a leva hoje às mais altas instâncias.

Uma “pirralha”, nas palavras de Bolsonaro, que não perdoou a Greta Thunberg a defesa dos índios da Amazónia, uma “criança muito feliz”, na ironia de Donald Trump, quando confrontado com a revolta da adolescente no palco das Nações Unidas, onde se dirigiu diretamente aos líderes mundiais para lhes perguntar “como se atrevem” a roubar-lhe os sonhos, a pôr em causa o futuro nas novas gerações, num planeta que a cada dia dá sinais de profundas mudanças no clima que suporta a humanidade.

Às críticas, pelo ativismo, pelo aspeto físico, pelas roupas que veste, pela própria doença de Asperger - que assumiu como uma diferença que usa a seu favor -, Greta Thunberg responde com a maturidade de quem sabe que está a criar incómodo: “Ouçam apenas e ajam de acordo com a ciência”.

Do Papa Francisco recebeu palavras de estímulo. “Vai em frente e que Deus te abençoe”, disse o líder da Igreja Católica à jovem ativista, no Vaticano, depois de esta lhe agradecer as posições que tem assumido em defesa do ambiente.

Face aos inúmeros convites que recebe para estar presente em manifestações, conferências e entregas de prémios, Greta Thunberg tem gerido a agenda, com algumas restrições, nomeadamente no que toca aos meios de deslocação, privilegiando as travessias do Atlântico em veleiros e usando o comboio para deslocações na Europa.

Foi assim que aconteceu, quando a caminho da cimeira da ONU sobre o clima, em Madrid, passou este mês por Lisboa, onde foi recebida na doca de Santo Amaro por jovens ativistas, mas também pelo presidente da Câmara Municipal, Fernando Medina, e representantes do parlamento.

Ao aparato à sua volta, a jovem sueca responde que não se sente uma “estrela pop”. Ainda assim, foi obrigada a abandonar a manifestação em que participava em Espanha, por recomendação da polícia.

À COP 25, Greta Thunberg levou preocupações, mas também esperança, embora considere que a esperança está em cada cidadão e não tanto nos governos ou nas grandes empresas.

"Não há sentido de urgência porque os nossos líderes não se comportam como se houvesse", afirmou perante uma plateia de dezenas de delegações nacionais e de organizações, defendendo que só a "pressão popular" os pode levar a agir.

Enquanto decorria a cimeira de Madrid, que terminou no domingo com resultados desapontantes, Greta Thunberg foi eleita “Personalidade do Ano” pela revista Time.

Na eleição realizada também entre os jornalistas da Lusa, a ativista sueca foi a vencedora entre uma lista de nomeados para “Personalidade Internacional do Ano 2019” que incluía o Papa, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e o Presidente norte-americano, Donald Trump.

Da greve às aulas, que decidiu iniciar sozinha para protestar frente ao parlamento sueco, depois das ondas de calor e incêndios que assolaram o país, no ano passado, a adolescente ninspirou manifestações com milhares de participantes em vários países e saltou para a capa da Time em maio.

“Agora estou a falar para o mundo inteiro”, escreveu ao partilhar o artigo nas redes sociais a promotora das chamadas “sextas-feiras pelo futuro”, em que muitos jovens faltam às aulas para exigir medidas dos governos em defesa do ambiente.

Nascida em Estocolmo em janeiro de 2003, filha de uma cantora de ópera e de um ator, Greta Thunberg tem motivado as mais diversas reações, com muitos dos críticos a considerarem que está a ser manipulada ou que representa uma visão radical na questão das alterações climáticas.

Pelo caminho vai também recolhendo apoios e tentando dar a outros jovens um pouco do protagonismo que atraiu para si.

A reação que causou levou o filósofo e ecologista Viriato Soromenho-Marques a afirmar que foi preciso aparecer uma criança para dizer que “o rei vai nu”.


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