Autor: Francisco Manuel Sousa Botelho
O aproveitamento dos nossos recursos energéticos endógenos e renováveis não só é uma obrigação dos novos tempos como, sobretudo, é o cumprimento da nossa própria natureza. Porque o nosso passado está indissociavelmente ligado às energias renováveis, quer através do seu uso directo, por exemplo na moagem (hídrica e eólica) ou no aquecimento de água e cozinhar (biomassa e geotermia), quer por transformação em electricidade. Nesta última vertente recorde-se que a terceira central hidroeléctrica do País foi construída na ilha de São Miguel no ano de 1899, que a primeira central geotérmica apareceu também em São Miguel no ano de 1980, e que o segundo parque eólico nacional surgiu na ilha de Santa Maria em 1988. Herdámos um longo e renovável passado e temos, assim, obrigações acrescidas no presente e para o futuro. Que estamos e, certamente, continuaremos a honrar. Nos últimos dez anos a procura de energia eléctrica nos Açores aumentou 88%, atingindo 728 GWh no ano de 2007, com os consumos em média tensão, onde se situam as principais actividades económicas, a contribuir com a maior taxa de crescimento, a qual ascendeu a um valor médio de 8,1% ao ano (contra os 6,8% dos consumos em baixa tensão). A resposta, eficiente e eficaz, ao tal forte incremento da procura foi plenamente conseguida, pois a produção de electricidade apenas cresceu 78% no mesmo período, um enorme ganho de eficiência em relação aos 88% da procura, correspondente, só no ano de 2007, à poupança de 49 GWh e à não emissão de 32 mil toneladas de CO2, e cresceu predominantemente em termos de fontes alternativas aos combustíveis fósseis, com particular realce para a energia eólica e para a energia geotérmica, que apresentaram incrementos de 578% e 241%, respectivamente, o que evitou a emissão de mais 145 mil toneladas de CO2 no mesmo ano de 2007.
São factos que demonstram como o sector eléctrico dos Açores manteve uma trajectória coerente e sustentável, combinando medidas de eficiência energética interna com a maximização do aproveitamento das energias renováveis. Mas, mais importante do que isso, é a forte determinação de continuar no mesmo sentido, através de um ambicioso plano de novos investimentos que permita aumentar, nos próximos cinco anos, a contribuição renovável na nossa produção total de energia eléctrica para cerca de 50% e, no prazo de dez anos, para cerca de 75%. Se a meta para o ano 2013 é exequível apenas com a confirmação da disponibilidade de mais potencial geotérmico em São Miguel e na Terceira, a construção de duas novas centrais hidroeléctricas, uma em São Jorge e outra nas Flores, bem como a beneficiação e ampliação de uma central hidroeléctrica, nas Flores, e a construção e ampliação de vários parques eólicos em diversas das nossas ilhas, já a meta de 75% em 2018 envolve transformações profundas, passando mesmo pela alteração do tradicional modelo de gestão dos nossos sistemas eléctricos.
O encaixe de energia renovável num sistema eléctrico está condicionado ao cumprimento de determinadas características que garantem a estabilidade do mesmo e, no actual estado da arte, só um grupo termoeléctrico responde com a rapidez suficiente à variação permanente que ocorre na procura de energia eléctrica. Por outro lado, a procura sofre ainda grande alteração nas 24 horas do dia, sendo muito menor à noite, o que introduz um outro factor de limitação, pois a rentabilidade dos elevados investimentos em energia renovável não se compadece com centrais que tenham de ser desligadas, ou de reduzir drasticamente a sua produção durante a noite. Tudo isto resulta na necessidade de ter sempre uma central termoeléctrica em funcionamento e na construção de aproveitamentos renováveis dimensionados para o limite imposto pelos consumos nocturnos, o que conduz, na prática, a uma penetração renovável máxima anual de cerca de 50%, como já sucede nas ilhas de São Miguel e Flores. Encontrar soluções robustas para ultrapassar esta realidade é um dos grandes objectivos do projecto Green Islands do MIT-Portugal, as quais, tudo indica, irão variar entre dois grandes caminhos: aumentar consumos à noite (de preferência, transferindo-os do dia) e/ou armazenar energia renovável produzida em excesso à noite para a injectar na rede durante o dia. No primeiro caso, estarão em cima da mesa medidas como incentivos de preços ainda mais baixos para consumos nocturnos ou o aparecimento de novos tipos de consumo, como o carregamento de baterias de automóveis eléctricos. No segundo caso, estarão as centrais hidroeléctricas reversíveis, que bombeiam água para um reservatório superior à noite (consumindo energia renovável em excesso no sistema) para com a mesma produzir energia hidroeléctrica durante o dia, ou a utilização de baterias de última geração, isto para o caso das ilhas mais pequenas.
O futuro da nossa energia está traçado, não só em termos de sector eléctrico como de sector energético em geral (a electricidade representa apenas cerca de 20% do consumo final de energia), conforme consubstanciado no Plano Estratégico para a Energia nos Açores. Um futuro em que as energias renováveis continuarão a ganhar relevo no nosso balanço energético, sobretudo através da produção de electricidade mas também pela utilização directa das mesmas, com destaque para os painéis solares térmicos, uma das formas mais rentáveis de aquecimento de água, e com o contributo de medidas de eficiência energética no consumo. Os Açores têm todas as condições para, ultrapassados os constrangimentos técnicos atrás identificados, cumprir cabalmente a orientação europeia de "20, 20, 20 até 2020", traduzível por 20% de energia renovável, 20% de melhoria de eficiência energética e 20% de redução das emissões de CO2 até ao ano 2020. Se atingir a meta fixada pela União Europeia para as energias renováveis é algo que já está nas nossas mãos, também a melhoria da eficiência no consumo e a redução das emissões de gases com efeito de estufa poderão ser alcançadas, combinando políticas internas de sensibilização e incentivo com a evolução tecnológica a nível dos equipamentos de utilização que chegam ao nosso mercado e que são cada vez mais eficientes. A este respeito merece particular destaque o impacto que poderá ter entre nós o lançamento de veículos híbridos plug-in (com possibilidade de carregamento das baterias numa vulgar tomada eléctrica doméstica) ou 100% eléctricos, a preço competitivo e fiáveis, os quais permitirão o pleno do contributo para o cumprimento de todos os objectivos europeus: aumentar a penetração das energias renováveis na produção de electricidade, melhorar a nossa eficiência energética, pois o motor eléctrico é mais eficiente do que os actuais, e ainda reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, hoje particularmente significativa no sector dos transportes. Temos pois razões para acreditar num futuro cada vez mais renovável nos Açores.
São factos que demonstram como o sector eléctrico dos Açores manteve uma trajectória coerente e sustentável, combinando medidas de eficiência energética interna com a maximização do aproveitamento das energias renováveis. Mas, mais importante do que isso, é a forte determinação de continuar no mesmo sentido, através de um ambicioso plano de novos investimentos que permita aumentar, nos próximos cinco anos, a contribuição renovável na nossa produção total de energia eléctrica para cerca de 50% e, no prazo de dez anos, para cerca de 75%. Se a meta para o ano 2013 é exequível apenas com a confirmação da disponibilidade de mais potencial geotérmico em São Miguel e na Terceira, a construção de duas novas centrais hidroeléctricas, uma em São Jorge e outra nas Flores, bem como a beneficiação e ampliação de uma central hidroeléctrica, nas Flores, e a construção e ampliação de vários parques eólicos em diversas das nossas ilhas, já a meta de 75% em 2018 envolve transformações profundas, passando mesmo pela alteração do tradicional modelo de gestão dos nossos sistemas eléctricos.
O encaixe de energia renovável num sistema eléctrico está condicionado ao cumprimento de determinadas características que garantem a estabilidade do mesmo e, no actual estado da arte, só um grupo termoeléctrico responde com a rapidez suficiente à variação permanente que ocorre na procura de energia eléctrica. Por outro lado, a procura sofre ainda grande alteração nas 24 horas do dia, sendo muito menor à noite, o que introduz um outro factor de limitação, pois a rentabilidade dos elevados investimentos em energia renovável não se compadece com centrais que tenham de ser desligadas, ou de reduzir drasticamente a sua produção durante a noite. Tudo isto resulta na necessidade de ter sempre uma central termoeléctrica em funcionamento e na construção de aproveitamentos renováveis dimensionados para o limite imposto pelos consumos nocturnos, o que conduz, na prática, a uma penetração renovável máxima anual de cerca de 50%, como já sucede nas ilhas de São Miguel e Flores. Encontrar soluções robustas para ultrapassar esta realidade é um dos grandes objectivos do projecto Green Islands do MIT-Portugal, as quais, tudo indica, irão variar entre dois grandes caminhos: aumentar consumos à noite (de preferência, transferindo-os do dia) e/ou armazenar energia renovável produzida em excesso à noite para a injectar na rede durante o dia. No primeiro caso, estarão em cima da mesa medidas como incentivos de preços ainda mais baixos para consumos nocturnos ou o aparecimento de novos tipos de consumo, como o carregamento de baterias de automóveis eléctricos. No segundo caso, estarão as centrais hidroeléctricas reversíveis, que bombeiam água para um reservatório superior à noite (consumindo energia renovável em excesso no sistema) para com a mesma produzir energia hidroeléctrica durante o dia, ou a utilização de baterias de última geração, isto para o caso das ilhas mais pequenas.
O futuro da nossa energia está traçado, não só em termos de sector eléctrico como de sector energético em geral (a electricidade representa apenas cerca de 20% do consumo final de energia), conforme consubstanciado no Plano Estratégico para a Energia nos Açores. Um futuro em que as energias renováveis continuarão a ganhar relevo no nosso balanço energético, sobretudo através da produção de electricidade mas também pela utilização directa das mesmas, com destaque para os painéis solares térmicos, uma das formas mais rentáveis de aquecimento de água, e com o contributo de medidas de eficiência energética no consumo. Os Açores têm todas as condições para, ultrapassados os constrangimentos técnicos atrás identificados, cumprir cabalmente a orientação europeia de "20, 20, 20 até 2020", traduzível por 20% de energia renovável, 20% de melhoria de eficiência energética e 20% de redução das emissões de CO2 até ao ano 2020. Se atingir a meta fixada pela União Europeia para as energias renováveis é algo que já está nas nossas mãos, também a melhoria da eficiência no consumo e a redução das emissões de gases com efeito de estufa poderão ser alcançadas, combinando políticas internas de sensibilização e incentivo com a evolução tecnológica a nível dos equipamentos de utilização que chegam ao nosso mercado e que são cada vez mais eficientes. A este respeito merece particular destaque o impacto que poderá ter entre nós o lançamento de veículos híbridos plug-in (com possibilidade de carregamento das baterias numa vulgar tomada eléctrica doméstica) ou 100% eléctricos, a preço competitivo e fiáveis, os quais permitirão o pleno do contributo para o cumprimento de todos os objectivos europeus: aumentar a penetração das energias renováveis na produção de electricidade, melhorar a nossa eficiência energética, pois o motor eléctrico é mais eficiente do que os actuais, e ainda reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, hoje particularmente significativa no sector dos transportes. Temos pois razões para acreditar num futuro cada vez mais renovável nos Açores.