“Não são 1,6 milhões, foi uma tentativa de empolar a situação. Mais do que eleitoralismo governamental, foi uma tentativa do conselho diretivo da AIMA mostrar um serviço que não fez”, afirmou Manuela Niza, dirigente do STM, comentando o relatório intercalar da recuperação de processos pendentes divulgado esta semana.
Segundo a dirigente, o “trabalho foi todo feito pela estrutura de missão”, uma equipa montada pelo Governo para recuperar os processos pendentes de regularização que existiam.
“A estrutura veio demonstrar que não é preciso muito mais gente, mas o que está em causa é uma questão de organização”, acusou.
“Não há 1,6 milhões de imigrantes. É menos, mas interessa dar o maior número possível para dizer que as coisas estão muito mal”, afirmou a responsável, estimando que existem um pouco menos de estrangeiros, já que há muitos casos de não residentes em Portugal e outros processos que são sobrestimados.
Contudo, segundo Manuela Niza, a estrutura de missão conseguiu demonstrar à AIMA que é possível resolver os problemas: “Com 200 e poucas pessoas conseguiu-se resolver em seis meses 400 mil pendências”.
Agora, no final de maio, a estrutura de missão deverá encerrar a sua atividade e Manuela Niza teme que o número de processos volte a crescer.
“Em dezembro vamos ter milhares processos pendentes de reagrupamento familiar ou de outros casos”, avisou a dirigente.
“Atualmente, estamos muito preocupados porque não estão a aceitar reagrupamentos familiares de quem não tem cartões de residente ou cartões já vencidos” e “isso cria problemas pessoais concretos”.
“Temos vidas paradas à espera de documentos e isso é inaceitável”, afirmou, salientando que conhece casos de “estudantes que vão acabar agora os seus estudos e que nunca foram legais em Portugal porque nunca tiveram um cartão de residente”.
As autoridades portuguesas estimam em 1,6 milhões o número de estrangeiros residentes em Portugal em 2024, de acordo com o relatório divulgado na terça-feira.
Segundo o documento, no final de dezembro de 2024 estavam registados 1.546.521 cidadãos estrangeiros em Portugal, um valor que "deverá ser corrigido em alta, previsivelmente em mais 50 mil", quando for concluído o tratamento dos pedidos de regularização ao abrigo do 'regime transitório' criado pela Assembleia da República.
Este regime abria a porta à regularização de quem estava já em território nacional antes de 03 de junho de 2024, data em que foi eliminada a figura da manifestação de interesse, um recurso jurídico que permitia a obtenção do cartão de residente por quem tivesse descontos tributários, apesar de ter entrado com visto de turismo.
"Estima-se que, com esta revisão, o número de estrangeiros em Portugal em 2024 seja de cerca de 1.600.000", refere o relatório, salientando que o trabalho da Estrutura de Missão para a Recuperação de Processos Pendentes na AIMA implicou "uma correção estatística ao número de cidadãos estrangeiros em Portugal nos anos anteriores a 2024".
A Agência Lusa tentou obter um comentário da AIMA sobre os dados do relatório, mas até ao momento não obteve resposta.
Sindicato de Trabalhadores da Migração diz que números de estrangeiros estão empolados
O Sindicato dos Trabalhadores da Migração (STM) considerou que os números de estrangeiros em Portugal “estão um pouco empolados”, acusando a direção da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) de mostrar um trabalho que não é seu.
Autor: Lusa
