Autor: Lusa/Ao online
O estudo, no âmbito do PreVINT - Programa de Intervenção no âmbito da Violência nas Relações Interpessoais, teve, no arquipélago dos Açores, uma amostra de 2.619 participantes de 18 escolas, com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos, e usou um “violentómetro”, uma ferramenta que inclui 29 formas de agressão.
Neste estudo, os jovens inquiridos deviam assumir se já foram vítimas ou agressores para cada um dos 29 parâmetros de violência avaliados, que abordavam comportamentos de violência psicológica, física e sexual.
Os “dados, na perspetiva do agressor e na perspetiva da vítima, batem certo entre uns e outros”, sendo que os resultados mostram que cerca de 60% dos jovens assumem ter sido agressores de violência psicológica, 40% de violência física e 5% de violência sexual, afirmou Ricardo Barroso, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na apresentação dos resultados do PreVINT, na escola secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
“Ao nível das relações de namoro, de facto, aquilo que nós verificamos é que, por um lado, as agressões que ocorrem são semelhantes em termos de sexo, ou seja, rapazes e raparigas acabam por praticar o mesmo tipo de agressões”, referiu Ricardo Barroso.
Segundo o investigador, detetou-se que, “na maior parte das vezes, essas agressões são de âmbito psicológico”.
“Temos, também, uma quantidade considerável de agressões físicas e também detetámos, não uma percentagem muito elevada, felizmente, mas detetámos também alguns casos no âmbito da violência sexual”, adiantou o docente, considerando que esta realidade não é única no país e notando que que os números obtidos nos Açores “são muito semelhantes àqueles que encontrámos em outras escolas do país”.
O projeto do PreVINT é o programa de intervenção no âmbito das relações interpessoais, também conhecido pelo projeto ‘violentómetro’, precisamente pela estratégia que usa no âmbito de intervenção, e foi implementado no último ano letivo em 67 escolas em todo o país.
Para Maria José Raposo, coordenadora da associação UMAR - União Mulher Alternativa Resposta, é urgente batalhar no tema da violência, “falar, desmistificar, quebrar mitos, quebrar estereótipos e recuar cada vez mais nessas idades”.
“Temos necessidade, premente, de ir aos meninos da ‘pré’ [escola] e do básico”, declarou, considerando que, no que toca à diferença de género, “neste momento, as coisas estão equiparadas”, mas são “tipos de violência diferentes, dos rapazes para as raparigas é sempre mais uma violência física, enquanto que das raparigas para os rapazes é sempre mais uma violência psicológica, emocional”.
A coordenadora chamou, também, a atenção para as redes sociais, nas quais “a violência é quase simétrica - utilizam tanto os rapazes como utilizam tanto as raparigas – e utilizam esses meios para atingir a outra pessoa denegrindo a imagem, expondo a imagem, caluniando, insultando”.
Para Maria José Raposo, as medidas de prevenção e consciencialização cabem às “instituições, à Direção Regional da Educação, à Direção Regional da Solidariedade Social e às universidades”, mas, “evidentemente, 50% desta mudança de comportamentos cabe aos pais”.