Autor: Lusa/AO online
"A sucessão das crises económicas deve levar-nos a repensar os nossos modelos de desenvolvimento económico e a mudar os nossos modos de vida", indica na mensagem que, com o título "Fraternidade, fundamento e caminho da paz" será lida nas igrejas a 01 de janeiro de 2014.
Francisco pede aos chefes de Estado que apliquem "políticas eficazes baseadas no princípio da fraternidade", para garantirem que "todos (...) possam aceder ao 'capital', aos serviços, à educação saúde e tecnologias".
O papa cita a história dos irmãos Caim e Abel para sublinhar "a dificuldade que homens e mulheres têm em viver juntos e cuidar uns dos outros".
Os Estados têm três deveres em relação aos cidadãos: "o dever de solidariedade, que exige a ajuda das nações mais ricas às menos ricas, o dever de justiça social (...) e o dever de caridade universal, que implica promover um mundo mais humano para todos", considera.
Francisco lamenta "o aumento preocupante da pobreza relativa", apesar de considerar que se assiste a um recuo da "pobreza absoluta".
A "pobreza relativa" conduz a graves "desigualdades entre pessoas e grupos que coabitam na mesma região ou num contexto histórico-cultural determinado", indica.
"Num mundo caracterizado pela 'globalização da indiferença', que torna lentamente 'habitual' o sofrimento alheio", o mundo precisa de mais fraternidade", declara Francisco.
Para o papa, "as graves crises financeiras e económicas contemporâneas (...) levaram muitos a procurar satisfação, felicidade e segurança no consumo e no lucro, esquecendo toda a lógica de uma economia sã".
Na sua mensagem, Francisco lança também "um forte apelo" contra aqueles que "utilizam as armas para semear a violência e a morte", pedindo a "não-proliferação e o desarmamento de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico".
O papa lembra que "a natureza é um dom do Criador" para ser respeitado e questiona-se sobre a forma como os homens "usam os recursos da terra", quando a fome ainda faz sofrer tantas populações em todo o mundo. Francisco afirma que as iniciativas e soluções possíveis "são numerosas".
Francisco foi eleito na quarta-feira "a personalidade do ano" pela revista norte-americana Time, de acordo com a qual em nove meses o papa argentino soube "colocar-se no centro do debate essencial da época atual: a riqueza e a pobreza, a igualdade e a justiça, a transparência, a modernidade, a mundialização, o papel da mulher, a natureza do casamento, as tentações do poder".
Ao apresentar a mensagem à imprensa, o cardeal do Gana Peter Turkson sublinhou o modo como o papa soube "transformar os corações e evitar o fratricídio".
"Converter os espíritos e os corações, é o objetivo diário do papa Francisco", disse o cardeal, que representou o chefe da Igreja Católica na cerimónia de homenagem ao ex-presidente Nelson Mandela, na terça-feira, em Joanesburgo.