Autor: Lusa/AO Online
“Somos seres humanos e devemos ser tratados como tal”, exclamou Majed Bamya, batendo com o punho na mesa, durante uma reunião do Conselho de Segurança, e descrevendo como “o mínimo indispensável” o texto bloqueado pelos norte-americanos, visando “pôr fim às atrocidades”.
Os Estados Unidos (EUA) impediram hoje novamente um apelo do Conselho de Segurança a um cessar-fogo em Gaza, considerando que não permitiria a libertação dos reféns israelitas cativos do Hamas.
O projeto de resolução preparado pelos dez membros eleitos do Conselho exigia “um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente que deve ser respeitado por todas as partes” e “a libertação imediata e incondicional de todos os reféns”, segundo a agência noticiosa francesa AFP.
Na sequência do veto ao projeto, o movimento islamita palestiniano Hamas acusou os EUA de serem “diretamente responsáveis” pela “guerra genocida” de Israel na Faixa de Gaza.
“Mais uma vez, os Estados Unidos mostraram que são parceiros diretos na agressão contra o nosso povo, que é criminosa, que mata crianças e mulheres e destrói a vida civil em Gaza, e que são diretamente responsáveis pela guerra genocida e pela limpeza étnica, tal como a ocupação [israelita]”, reagiu o Hamas em comunicado.
A Autoridade Palestiniana criticou a decisão, afirmando que o veto norte-americano “encoraja Israel a continuar os seus crimes contra civis inocentes”.
“A decisão dos Estados Unidos de exercer o seu veto pela quarta vez encoraja Israel a continuar os seus crimes contra civis inocentes na Palestina e no Líbano”, declarou a Autoridade Palestiniana num comunicado divulgado pela agência nacional Wafa.
Pouco antes da votação, o embaixador israelita na ONU, Danny Danon, afirmou que o projeto “não passa de uma traição”, contando com Washington para bloquear a sua adoção, que, segundo o mesmo, significaria um “abandono” dos reféns.
A 07 de outubro de 2023, o Hamas levou a cabo um ataque sem precedentes no sul de Israel, causando a morte de 1.206 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, incluindo reféns mortos.
Mais de 250 pessoas foram raptadas durante o ataque, 97 das quais ainda se encontram reféns em Gaza, e 34 foram declaradas mortas pelo exército israelita.
Como retaliação, Israel lançou uma campanha de bombardeamentos seguida de uma ofensiva terrestre em Gaza que causou pelo menos 43.985 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados fidedignos pela ONU.
Quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados na região, que se encontra numa situação de catástrofe humanitária.
Desde o início da guerra que o Conselho de Segurança da ONU tem tido dificuldades em se pronunciar unanimemente, tendo sido bloqueado várias vezes pelos vetos americanos, mas também russos e chineses.
No entanto, as poucas resoluções adotadas não apelaram a um cessar-fogo incondicional e permanente.
Em março, com a abstenção dos EUA, o Conselho apelou a um cessar-fogo pontual durante o Ramadão - sem efeitos no terreno - e em junho aprovou uma resolução dos EUA que apoiava um plano norte-americano de cessar-fogo em várias fases acompanhado da libertação de reféns, que nunca chegou a concretizar-se.