Autor: Sara Lima Sousa
Natural do Funchal, Judite Canha Fernandes, de 53 anos, mudou-se ainda em criança para os Açores, aos oito anos de idade. Hoje em dia, reside em Lisboa.
da Informação.
Ao longo do seu percurso profissional, desempenhou diferentes tarefas. “Fui sendo bióloga, professora, bibliotecária, investigadora e ativista. E, desenvolvi sempre muito trabalho associativo”, conta.
Entre as atividades exercidas está a participação na criação do Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade (CIPA), na sua vertente de documentação. Ocupou ainda cargo em gestão de projetos internacionais, chegando a ser premiada pela Comissão Europeia.
Para além disso, enquanto professora convidada, Judite Fernandes deu aulas na Universidade dos Açores e foi também oradora convidada em palestras ao longo de diversas zonas do globo.
No entanto, a sua paixão era outra. Em 2015, deixou a trajetória profissional que seguia e mantinha há 40 anos e decidiu, finalmente, começar a dedicar-se à escrita, o grande “desejo que vinha a adiar desde a infância”, refere.
“É isso que faço desde então: escrever”, partilha. Tem escrito e publicado obras de ficção, poesia, teatro e literatura para a infância.
Mas dar este passo não foi fácil para Judite Fernandes, embora tenha sido uma decisão “extremamente importante” para a autora.
Adiou-o durante quatro décadas, até que arriscou. “Foi o tempo necessário para tomar essa decisão arriscada, no sentido em que viver da escrita é algo extremamente difícil de conseguir”, argumenta. Na sua ótica, é algo que exige atravessar aquilo a que chama de “linha de pavor”, uma vez que “o ato criativo só floresce sem medos. E nós, seres humanos, estamos repletos de medos”, acrescenta.
Nunca deixou de escrever e foi somando cadernos, anotações e ideias, chegando a terminar alguns livros e a escrever algumas peças. Depois de tomar a decisão, “os livros não têm parado de nascer e de ser lidos, o que me tem trazido imensa alegria”, partilha.
“Criar é um ato de constante ousadia. Tomei esta decisão no momento em que senti que não podia mais adiá-la”, diz ainda.
A escrita, para Judite Fernandes, sempre foi “mais do que um interesse”. Desde a infância, sabe que a escrita é “a sua coisa”, aquela a que se quer “dedicar completamente”.
Ainda assim, a escrita não é a única atividade a que se dedicou na vida. Entre os seus feitos, tem ainda um grande repertório de ações que envolvem dar visibilidade às lutas e reivindicações das mulheres, bem como à realidade concreta de mulheres de diferentes contextos políticos e culturais.
Entre os anos 2011 e 2016, representou a Europa no Comité Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. Como parte da Marcha, de que integrou também como ativista, participou em muitas ações, um pouco por várias regiões do mundo.
Entre elas, destaca a ida ao Congo, em 2010, onde trouxeram ao debate público internacional “uma longa guerra, por demais esquecida, e a realidade da violação enquanto arma de guerra”, relata.
Destaca também um encontro que teve lugar em São Paulo, no Brasil, no final de uma Marcha de Mulheres, que percorreu diversas regiões do país. E, a receção à Caravana Feminista Europeia, em Lisboa, uma caravana que partiu do Curdistão e percorreu a Europa.
Em Lisboa, fez parte do desenvolvimento de um conjunto de ações que procuraram articular diversas lutas, desde o direito à habitação até ao direito à autodeterminação reprodutiva e sexual.
Nos Açores, destaca ter participado na construção do CIPA, coordenado pela Novo Dia, Associação para a Inclusão Social.
Realça ainda o trabalho do Teatro do Oprimido, que realizou com um conjunto de mulheres da pesca de diversas ilhas, em que as atrizes levaram a cena as suas questões laborais e de vida. Percorreu vários lugares nos Açores e chegou, inclusive, a Lisboa.
Em 2012, foi uma das “madrinhas” da primeira Marcha do Orgulho LGBT, em Ponta Delgada, no âmbito do “Azores Pride”. Para Judite Fernandes, foi um “momento de muita alegria”, com as ruas da cidade “cheias de uma realidade multicolor”.
Parafraseando António Machado, considera que “o caminho faz-se caminhando” e que o rumo para uma sociedade mais justa, “apesar de constantes avanços e recuos”, tem de acontecer diariamente.
“A humanidade poderia viver melhor com esse horizonte mais próximo. Esse trilho é feito tanto individual, como coletivamente, por pessoas de todas as idades, origens e regiões”, destaca.
as bombas”. Em 2019, recebeu uma das 12 bolsas de criação literária, concurso promovido pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, do Ministério da Cultura de Portugal. Em 2021, foi novamente menção honrosa do Prémio Literário Ferreira de Castro, com a novela A Lista da Mercearia. Em 2024, venceu o Prémio Literário Edmundo Bettencourt, com a novela O Mel sem Abelhas.