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“Os deputados do ‘grande centro’ não são um bom exemplo na defesa de São Miguel”

Nuno Barata, cabeça-de-lista pelo partido Iniciativa Liberal pela ilha de São Miguel explica porque deixou o CDS-PP e afirma ser necessário defender melhor os interesses de São Miguel no parlamento. Diz que é preciso reorientar o investimento público, defende a importância da SATA e critica a dependência criada pelo programas de emprego

“Os deputados do ‘grande centro’ não são um bom exemplo na defesa de São Miguel”

Autor: Paulo Simões/Rui Jorge Cabral

Nuno Barata é gestor portuário. Comentador político da Rádio Açores/TSF e colunista do jornal Açoriano Oriental, é o cabeça-de-lista do partido Iniciativa Liberal pela ilha de São Miguel. No passado, foi militante do CDS-PP.

Pode dizer-se que trocou o CDS-PP pelo Iniciativa Liberal?

Digamos que pertenci ao CDS-PP desde 1993 até 2016, numa ala mais ‘liberal’ do CDS-PP, digamos assim, que entretanto foi sendo afastada, principalmente ao nível regional, embora a nível nacional o partido tenha mantido até há bem pouco tempo essa linha de pensamento. Mas como dizia, o partido foi-se assumindo cada vez mais - até um pouco com o aparecimento do Chega - como mais conservador. Na minha maneira de estar na política, isso não faz sentido... E não faz sentido porque quando aderi ao CDS-PP, então com José Monjardino como líder regional, estávamos a falar de um CDS-PP claramente liberal. Portanto, o aparecimento do Iniciativa Liberal abre para mim uma porta que se tinha fechado no CDS-PP em 2016. Por isso, esse centrar do CDS-PP mais na ala conservadora faz-me claramente aceitar o desafio de encabeçar uma lista pelo Iniciativa Liberal. Este é também um desafio pessoal, porque costumo dizer entre amigos - que fique agora público - e em jeito de brincadeira, que esta é a última oportunidade que eu dou ao povo micaelense de ter um deputado que o defenda no parlamento dos Açores. E esta é uma ‘oportunidade de ouro’ que o povo micaelense tem: a de eleger um deputado que, de facto, defenda os interesses de São Miguel, que no final das contas são os interesses dos açorianos, em geral.

Os deputados dos outros partidos não defendem os interesses de São Miguel?

Eu acho que os deputados dos partidos do ‘grande centro’, não são propriamente um bom exemplo para se poder dizer que defendem os interesses de São Miguel e isso está à vista. Se não se alterar o panorama político-partidário no parlamento dos Açores, o resultado vai ser igual ao que tivemos até agora. E, recordando números de 2019, portanto, anteriores à pandemia de Covid-19, temos uma taxa de pobreza das mais altas da Europa - para não dizer que é a mais alta - uma taxa de suicídios entre os jovens que é a mais alta de Portugal e da Europa; uma taxa de abandono escolar precoce que é a mais alta da Europa e que é o dobro, quase, da taxa nacional e uma taxa de desemprego que é manipulada todos os dias na praça pública - reiteradamente - com o sr. vice-presidente do Governo a continuar a fingir que fomos a única região do mundo que, em plena pandemia, baixou o desemprego...

A um mês das eleições, está confiante de que pode vir a ser eleito deputado à Assembleia Regional dos Açores?

Sim. Estou confiante. Se o Iniciativa Liberal tem aparecido pouco na comunicação social até agora, diria que somos gente que trabalha... Todas as pessoas que estão na lista que eu encabeço por São Miguel têm uma profissão e têm de trabalhar até ao dia 11 de outubro, o dia em que têm dispensa para a campanha eleitoral, quando esta começar oficialmente. Aí, iremos desenvolver mais trabalho de campo, apesar de eu entender que o trabalho de campo - nesta fase perigosa em que vivemos de propagação da Covid-19 - deve ser feito com muita moderação e com muito cuidado.
Os partidos do ‘arco da governabilidade’, como se costuma dizer, anunciaram todos que iam mudar o estilo de campanha, mas afinal estão todos na rua a fazer o mesmo que sempre fizeram... O que indicia também que, quando forem para o parlamento, irão fazer o mesmo que sempre fizeram.

Como vai ser a campanha do Iniciativa Liberal?

A campanha do Iniciativa Liberal vai ser muito centrada nas redes sociais, nos meios urbanos e, no meio rural, onde ela deve incidir, que é junto dos agricultores e dos pescadores.

O Iniciativa Liberal não concorre em todas as ilhas. Tiverem dificuldades em conseguir candidatos?

Outros partidos tiveram dificuldades com as listas e isso é uma questão que me preocupa, porque até há bem pouco tempo, eu achava que não havia medo, que havia simplesmente desinteresse... Nós temos duas listas muito boas em São Miguel e Terceira e basta ver o currículo dos candidatos. No entanto, apesar de sentirmos uma enorme oposição nas redes sociais, por exemplo, com muitas pessoas a manifestarem a sua opinião contra muitas coisas que se têm passado nos Açores, depois e quando confrontadas com a possibilidade de emprestarem o seu conhecimento a projetos de natureza político-partidária, elas refugiam-se e dizem que vão ser prejudicadas por aqui ou por acolá... Apesar dessas mesmas pessoas não terem a noção de que quando escrevem um comentário em grupos públicos numa rede social como o Facebook, estão a expor-se quase tanto como se fizessem parta da lista de um partido... Não fizemos no Iniciativa Liberal também o que outros partidos fizeram, infelizmente, que é concorrer com ‘listas-fantasma’ compostas por pessoas que nem sequer residem nos Açores e que ninguém sabe quem são...

Caso o Iniciativa Liberal consiga eleger um ou mais deputados, admite algum tipo de acordo pós-eleitoral?

As circunstâncias o dirão... No entanto, não me parece plausível que o eleitorado que vai votar nas regionais e que possa votar nos partidos mais pequenos, que surgem agora pela primeira vez, como é o caso do Iniciativa Liberal, esteja à espera que façamos ‘fretes’ ao Governo. Quem o tem feito é a atual oposição e o atual PSD que, inclusivamente, diz que irá fazer uma campanha ‘sóbria’... Ou seja, uma oposição ‘fraca’, sem ideias e sem vigor. Também tem feito ‘fretes’ ao Governo o CDS-PP, que tem aprovado - a troco de ‘migalhas’ - o principal documento orientador de estratégia política regional, que é o Plano e Orçamento do Governo liderado pelo Partido Socialista. O Iniciativa Liberal não irá ser uma oposição por oposição, mas também não vai ser uma oposição subserviente ao poder, porque não é para isso que se propõe a votos. Seremos uma oposição ‘alternativa’ àquela oposição colaborante e subserviente que tem existido até agora.

A nível nacional, o Iniciativa Liberal defende uma política de redução de impostos. Esta também é uma meta nos Açores?

Obviamente e até ao limite que a Lei de Finanças das Regiões Autónomas permite, que é 30%. O Iniciativa Liberal defende um alívio fiscal às empresas e aos cidadãos.
Porque esta é uma espécie de ‘canga’ que transportamos todos os dias. Com um alívio fiscal, a verba que fica disponível nas famílias e nas empresas será utilizada da forma que as pessoas melhor entenderem. Isto potencia a economia e potenciando a economia até nem diminui a receita fiscal, aumentando-a noutras áreas, nomeadamente através do consumo.

Tem sido bastante crítico em relação à política de investimento público na Região. Se for eleito, o que irá propor de diferente nesta matéria?

Temos desde logo um problema grave nas obras públicas e na construção civil, porque grande parte do nosso tecido empresarial está ‘viciado’ em obras públicas e na construção civil... Este é um ciclo em que o Governo Regional continua a insistir e, para os próximos sete anos, no próximo quadro comunitário de apoio, vamos continuar orientados para os mesmos vetores para os quais estávamos orientados há 20 anos atrás... Portanto, se vão continuar a fazer da mesma forma, o resultado não irá ser diferente. Se formos um pouco atrás e olharmos para os 300 milhões de euros gastos nas SCUT em São Miguel, percebemos que para além do prazo de construção dessas vias rápidas, não houve aumento de emprego e não houve mais-valia na economia. É preciso saber o que se vai construir, que necessidades essa construção nos resolve e, acima de tudo, o que constrói para o futuro da economia dos Açores... Porque destruir é fácil. Pretendemos, por isso, que em áreas fundamentais como, por exemplo, no combate às alterações climáticas, exista investimento na retenção de água em altitude, mas também a florestação de zonas de baldio que são detidas pela Região. Estas são áreas que criam emprego que tem sido dispensado pela agricultura tradicional, à medida que ela se vai mecanizando.

O que quer dizer quando afirma que o Governo manipula os dados do desemprego nos Açores?

Por exemplo, considerar empregado quem está em programas ocupacionais nas câmaras municipais e nas juntas de freguesia é desonestidade intelectual e não mostrar a realidade aos açorianos. E, pior do que isso, é não dar aos açorianos uma ferramenta fundamental para as suas vidas futuras, fazendo-os perceber que são desempregados que têm de procurar o seu posto de trabalho, estando apenas ocupados temporariamente... Por outro lado, se o Governo lhes complica o seu empreendedorismo e lhes dá uma espécie de ‘metadona’ para os manter no mesmo ritmo de pobreza, então aí as pessoas não procuram solução para a sua vida.

Que modelo defende ao nível dos transportes aéreos para os Açores? Está preocupado com a SATA?

A SATA é fundamental para o desenvolvimento, para a coesão e para construção do que eu chamo de ‘comunidade política’ Açores, que ainda não existe, no meu entender, apesar dos mais de 40 anos que já levamos de autonomia. Ainda não existe um sentimento de ‘açoriano’. Até na forma de festejar o Espírito Santo, cada um de nós fá-lo de forma diferente.... A SATA - e a RTP-Açores, hoje cada vez menos - continua a ser a única coisa que nos une e que nos pode continuar a unir no futuro. O Governo Regional assumiu esta importância da SATA para o desenvolvimento socioeconómico dos Açores, como ferramenta fundamental... Mas o problema é que o Governo Regional destruiu esta ferramenta, em vez de a acarinhar... E mesmo com a criação da SATA Internacional, agora Azores Airlines, ela poderia ter sido feita de uma forma menos destrutiva para o Grupo SATA. Em vez disso, foi usada como ‘arma de arremesso’ eleitoral e não como instrumento de desenvolvimento. O modelo de transportes aéreos interilhas é fundamental com a SATA. Não há alternativa... Porque não vejo uma empresa internacional vir aqui e conseguir prestar o serviço fantástico que a SATA interilhas presta aos açorianos.

Mas as ligações interilhas estão sujeitas a concurso internacional...

... E é isso que me assusta em relação à SATA... Haver um dia em que uma companhia internacional ou nacional qualquer olhe para este filão e chegue aqui, com sete ou oito aviões, monte uma estrutura e pense assim: “nós vamos ganhar este concurso, mesmo que nos primeiros dois anos percamos dinheiro”. Mas há um responsável pela situação a que a SATA chegou, que é o Partido Socialista, que governa os Açores há 24 anos e que, principalmente nos últimos 20, destruiu o Grupo SATA.












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