Açoriano Oriental
Obra Completa de J.H. Santos Barros, “Alexandrina, como era”, inclui inéditos

A Obra Completa de J.H. Santos Barros, “Alexandrina, como era”, organizada por Jorge Reis-Sá, inclui vários inéditos, e conta com um prefácio de António Lobo Antunes, que qualifica alguns dos poemas como “magníficos”.


Autor: AO Online/Lusa

Lobo Antunes destaca os poemas do final de vida do poeta “em plena maturidade”, que aponta como “peças de primeira água pelas quais [J.H. Santos Barros] deverá ser julgado”, atrevendo-se, como escreve, a referir que “quatro ou cinco (…) resistirão ao tempo”.

Sobre a organização de Reis-Sá, Lobo Antunes afirma que a fez “com respeito, amor e muita sensibilidade”.

O volume, editado pela Imprensa Nacional, reúne toda a poesia de J. H. Santos Barros, desde o primeiro livro, “Novíssima Poesia Açoriana” (1964), até aos “últimos poemas inéditos, encontrados no espólio [que] tinham como título ‘Nas Vertentes das Ilhas’ e ‘Albafar’, por exemplo”, escreve Jorge Reis-Sá, numa nota à edição que intitulou “Nas Vertentes das Ilhas mais Escondidas do Sol”.

José Henrique Santos Barros nasceu em 1946 em Angra do Heroísmo e morreu, num acidente de viação, em Espanha, em maio de 1983.

Quando da sua morte, o poeta “cumpria um percurso nitidamente ascendente em termos qualitativos, onde a voz insular se acrescentava à dor da guerra colonial vivida na primeira pessoa e a um quotidiano que, se hoje tão cristalizado em nomes da época como Ruy Belo ou Joaquim Manuel Magalhães, nos apresentava caminhos novos que só o tempo poderia indicar a que ‘outros lugares e nomes’ nos levariam”, escreve o escritor e editor Reis-Sá.

Jorge Reis-Sá afirma que esta antologia reúne todos os poemas, “retirados os poucos que a juventude não permite ver reproduzidos num volume que desejamos o mais canónico possível”.

Esta antologia “recolhe poemas da primeira fase, que poderemos considerar juvenília, datados dos anos 1960 e início dos anos 1970 e referente aos livros ‘Novíssima Poesia Açoriana’, ‘Aventura em Sete Poemas’, ‘Canto de Abril’ e ‘Imagem Fulminante’ e a um caderno inédito encontrado no espólio”, esclarece Reis-Sá, referindo ainda que foram também incluídos poemas dactiloscritos que foram encontrados no espólio que, apesar de não datados “pela sua localização”, terão sido escritos no início da década de 70 do século XX.

Neste volume que faz parte da coleção “Plural”, da Imprensa Nacional, são também incluídos os livros “Testes e Versos para andar na Rua” (1973), “Topiária” (1974) e “Catedral Iluminada” (1977), obra que Reis-Sá afirma que “é definido como ‘algumas ilustrações de um roteiro açoriano’” e “que faz sentido assumir como a segunda fase de uma poética que amadureceria nos livros seguintes, afastando-se do tom mais prosaico para um verso livre onde a tensão não desaparece nunca”.

O volume inclui ainda o texto “Sabemos das Ilhas…”, que Santos Barros escreveu com Urbano Bettencourt, a que se soma a narrativa “Defoe no Corvo”, composta por textos publicados no suplemento “Contexto” do jornal Açores, que o poeta dirigia sob o pseudónimo de Ricardo Ascensão, ou não assinados.

Santos Barros terá assumido Ricardo Ascensão como um heterónimo, para o qual escreveu uma biografia, que o dava como nascido em Lisboa, em 1950, neto de açorianos da ilha Terceira. Com este seu heterónimo publicou o folheto “O Partido da Poesia”.

A Obra Completa de Santos Barros, que depois de Angra do Heroísmo, viveu em Lisboa e em Grândola, inclui ainda “os dois livros ditos ‘da idade adulta’”, designadamente “Os Alicates do Tempo” e “S. Mateus, Outros Lugares e Nomes”; neste segundo, aquando da sua publicação, o escritor João de Melo apontou-o, na contracapa, como “o maior poeta vivo dos Açores”.

O último núcleo é constituído por mais inéditos encontrados no espólio, ou editados em publicações periódicas, antes e depois da sua morte.

“Finta pelo Flanco Central” reúne os poemas dos heterónimos reconhecidos publicados no suplemento “Contexto”, e ainda outros quatro assinados como M.N. Duarte, outros quatro como A.J. Peixoto e seis como A. Espírito Santo.

Faz também parte deste último núcleo “Calamidades”, “O Aprendiz de Mundos”, título do extenso diário que vai de março de 1981 a maio de 1983 e de onde foram selecionados três poemas, e ainda “Aragens”, “Redator do Reino” e “A Serpente Sinfónica”.

Jorge Reis-Sá afirma esperar que J.H. Barros Santos seja lembrado “como um dos mais inventivos poetas de língua portuguesa, imerecedor do esquecimento a que foi votado durante quase 40 anos”.


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