Açoriano Oriental
"O Meu Lugar no Mundo" ajuda crianças do Porto a recuperarem do insucesso escolar

A associação “O Meu Lugar no Mundo”, no Porto, conta com mais de 60 voluntários que, atualmente, ajudam cerca de 40 crianças de contextos socioeconómicos vulneráveis a superarem as dificuldades de aprendizagem e a recuperarem do insucesso escolar.

"O Meu Lugar no Mundo" ajuda crianças do Porto a recuperarem do insucesso escolar

Autor: Lusa/Ao online

Quando surgiu, há pouco mais de cinco anos, “O Meu Lugar no Mundo” era apenas um projeto de voluntariado universitário que procurava colmatar as dificuldades de aprendizagem de crianças provenientes de contextos socioeconómicos vulneráveis da zona do Bonfim, no Porto.

Com o passar do tempo, rapidamente o projeto deu lugar a uma associação, onde o número de voluntários, desde estudantes universitários a alunos do secundário, ultrapassou os 60 e as crianças com um “lugar no mundo” passaram a ser mais de 40.

A maioria dos que ali chegam, à porta número 282 da rua de Anselmo Braancamp, são direcionados por técnicos de ação social, sob a indicação de professores do Agrupamento de Escolas Fernão de Magalhães ou da CPCJ - Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens.

A partir do momento que integram a associação, as crianças e jovens (dos 6 aos 16 anos) passam durante as tardes e férias a cumprir as “regras” daquela pequena sala e jardim.

“No início, um dos maiores obstáculos foi incutir nestas crianças este sentimento de responsabilidade e compromisso”, explicou, em entrevista à Lusa, Cátia Oliveira, a coordenadora da associação.

Cátia, de 34 anos, começou a trabalhar como voluntária em regime ‘part-time’, mas o seu relacionamento com as crianças amadureceu e as funções que desempenhava aumentaram a ponto de lhe entregarem “o projeto para as mãos”.

“O meu contexto familiar é peculiar, costumo até dizer que podia ter sido qualquer um dos miúdos com quem trabalho. Foi precisamente por isso que não pensei duas vezes em aceitar fazer parte deste projeto”, contou.

Apesar de ser licenciada em Serviço Social, só há “relativamente pouco tempo” é que Cátia o revelou aos pais e encarregados de educação.

“Estes pais têm uma perspetiva muito diferente da profissão, e eu percebi que a relação não poderia passar por aí, somente mostrando quem era enquanto pessoa e não enquanto profissional”, salientou.

Para Cátia, apesar do trabalho com os pais “ter sido lento e difícil”, tendo em conta alguns “hábitos enraizados”, foi na relação com a escola que encontrou os “maiores obstáculos”.

“Há algum preconceito destes pais com a escola, mas há um preconceito enorme da escola em relação a estes pais. Por isso é que foi importante trabalharmos a comunicação e criarmos um espaço de conforto e agradável para ambas as partes partilharem o percurso da criança”, esclareceu.

A coordenadora assume assim o papel de “mediadora”: vai à escola, contextualiza a situação da criança aos professores, acompanha os pais e capacita-os para que se envolvam “genuinamente” no processo educativo dos filhos.

Em 2014, Ângela Ferreira, de 34 anos, foi contactada pela associação. O Marco e a Vitória, dois dos seus quatro filhos, reprovavam de ano.

Ângela, que não tem “grande tempo” para apoiar os filhos, não recusou a ajuda. Também não tem “grandes estudos”, o que tornava difícil “acompanhar as matérias”.

Porém, desde que integram o “Meu Lugar no Mundo”, Vitória, de 12 anos, e Marco, de 15, tiveram uma “evolução muito grande” nos estudos, comportamento e com os outros.

“Tudo mudou a 100% quando vieram para aqui. Até em casa, nas tarefas, a autoestima, o socializar e conviver melhorou. Os dois mudaram imenso, não só em relação à escola, mas enquanto pessoas”, assegurou.

Segundo a coordenadora, além de trabalharem as dificuldades de aprendizagem, um dos principais “focos” dos voluntários é a orientação para "áreas que permitam uma forma de estar diferente na escola, no bairro e fora do bairro”.

“Muito mais do que explicar o Português e a Matemática, era importante incidir noutras áreas, como a educação sexual, direitos humanos, diversidade cultural, educação financeira e, dessa forma, trazê-los para nós e capacitá-los de competências”, realçou.

Contudo, só há cerca de um mês, depois de receberem um prémio, é que sentiram ser "reconhecidos" no trabalho que desempenham na associação.

Cátia acredita que o Prémio Voluntariado Universitário Projeto 2018, de três mil euros, representa uma "oportunidade" para que as crianças "saiam do contexto onde vivem e desenvolvam mais competências".

"Eles estão demasiado fechados aqui, se não conhecerem outras realidades também não adquirem conhecimentos. Por isso, estamos a planear atividades [noutras cidades] que vão ser uma mais valia para o percurso escolar e pessoal deles", concluiu.


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