Açoriano Oriental
Colóquio
O jornalismo de precisão "é uma ferramenta poderosa"
Steve Doig, jornalista premiado com o Pulitzer, é um dos convidados do colóquio "O Futuro da Imprensa Regional", no âmbito dos 175 anos do Açoriano Oriental e que tem lugar hoje, a partir das 9h15, no Anfiteatro C da Universidade dos Açores. Fala-nos de um novo modo de fazer jornalismo.
O jornalismo de precisão "é uma  ferramenta poderosa"

Autor: Paula Gouveia
 

É apresentado como especialista em "computer-assisted reporting" (reportagem assistida por computador). De que se trata?

Outro nome para isso é jornalismo de precisão. (...) Permite que sejam os jornalistas a fazer os seus próprios estudos, analisarem dados do Governo através de software informático, como a folha de cálculo de Excel da Microsoft, por exemplo, onde se pode filtrar dados, acrescentar outros dados, e produzir deste modo novas perspectivas, encontrar padrões.

 

Como é que o uso do computador e de técnicas das ciências sociais podem ajudar os jornalistas a fazerem um trabalho melhor?

Deixa-nos de facto fazer um melhor trabalho. Deixa-nos fazer histórias que de outro modo não seriam possíveis. Os exemplos que posso dar são relativos aos EUA, porque é a realidade com que estou mais familiarizado... Eu fiz histórias em que tive de olhar para milhares, senão milhões, de registos para encontrar padrões. Ora, as nossas mentes não estão, obviamente, preparadas para analisar uma pilha de papel e aí encontrar padrões. Mas com os computadores é possível.

É isso que estamos a tentar fazer - usamos técnicas de ciências sociais, como ferramentas de estatística, para analisar os dados... E outros tipos de software, como por exemplo software de mapeamento (que no caso de dados sobre criminalidade nos pode indicar onde é que a criminalidade é pior, ou a hora do dia, ou o dia da semana).

 

Estas ferramentas têm vantagens, mas com certeza também têm desvantagens...

Sim, também têm desvantagens. Quando um jornalista faz uma história baseada na sua própria análise, torna-se o especialista. E é muito mais seguro para um jornalista questionar as entidades oficiais, porque se estas estiverem erradas, a responsabilidade não será sua. Quando fazemos os nossos próprios estudos, estamos a pôr o nosso nome na história e estamos a dizer que fizemos esta análise, por isso temos de ter o dobro da cautela para que o que estamos a fazer esteja correcto. Outra desvantagem é que exige muito tempo, e poderá exigir negociação legal para obter dados. Nos EUA temos leis sobre registos muito rígidas, mas mesmo assim quando pedimos informação ao Governo temos de lutar, ir a tribunal, por isso não é necessariamente fácil fazer este tipo de trabalho.

 

Leia esta entrevista na íntegra no jornal Açoriano Oriental de terça-feira, 19 de Outubro de 2010.
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