Açoriano Oriental
Jogos Olímpicos
Jogos Olímpicos alteram quotidiano chinês
Menos automóveis nas estradas, taxistas com uniforme, mais restaurantes sem fumo, voluntários de sorriso rasgado e o imaginário olímpico espalhado pela cidade – estas são apenas algumas das novidades no quotidiano da capital chinesa, onde hoje começam os Jogos Olímpicos.
Jogos Olímpicos alteram quotidiano chinês

Autor: Lusa/AO online
Na semana anterior ao início da grande festa desportiva, os dias em Pequim eram 24 horas de informação olímpica à qual é impossível ficar indiferente.

    Logo pela manhã, o pequeno-almoço pode ser composto por um copo cheio do leite oficial dos Jogos ou por um iogurte com a cara de um atleta olímpico chinês na embalagem, numa demonstração do orgulho nacional que é evidente por estes dias.

    Quando se sai à rua, evidente continua também a ser o nevoeiro de Pequim, que nem os ocasionais dias de sol nem os esforços antipoluição do governo conseguiram afastar.

    Mas mesmo na hora de ponta, os habitantes de Pequim vêem agora menos automóveis a circular nas ruas, que continuam a ter um trânsito caótico, mas doseado pela nova regra de circulação alternada de matrículas par e ímpar e organizado com a inclusão de faixas de rodagem olímpicas desde o final de Julho.

    “Vejo menos carros na estrada”, reparou Liu Peidong, 29 anos, acrescentando: “Eu passei a utilizar a bicicleta e o autocarro”.

    Obrigados a preferir o metropolitano, muitos habitantes deixaram de ter problemas para cruzar a cidade de lés a lés, utilizando uma das três novas linhas do transporte: a olímpica (até ao Estádio Nacional e à Aldeia Olímpica), a do aeroporto (para o centro da cidade) e a linha 10 (que atravessa a cidade de Sudeste a Noroeste).

    Debaixo da terra, os bilhetes de metro já não são de papel e sente-se bem a preocupação das autoridades chinesas com a segurança olímpica quando é preciso passar pelo detector de metais e deixar os cães-polícia cheirar a mala que se leva ao ombro.

    Mesmo com segurança apertada, o espírito olímpico está bem agarrado às paredes subterrâneas cobertas com cartazes publicitários dos patrocinadores, onde se destacam os anúncios práticos da China Mobile, a maior operadora de telecomunicações do país, e as imagens apoteóticas da Adidas, a marca oficial de equipamentos desportivos.

    O lema “Um Mundo, Um Sonho” e as mascotes Fuwa invadiram a cidade para deslizarem nas janelas dos autocarros, aparecerem nas t-shirts dos transeuntes, nos anúncios de televisão e nas bandeiras espalhadas pelas avenidas.

    “Welcome to Beijing Taxi”, é a mensagem electrónica que ouve quem prefere o táxi, que continua a ser um meio de transporte barato na capital chinesa, com o taxímetro a contar a partir dos 10 renminbi (cerca de um euro).

    Agora é um táxi “verde”, sem a nuvem de fumo de tabaco e com um condutor fardado com o uniforme e a gravata olímpicos, mas onde o passageiro continua a precisar da morada escrita em caracteres chineses para ter garantia de que chega ao destino.

    “O município deu-nos a farda olímpica, duas camisas amarelas, as calças e uma gravata”, disse à Agência Lusa um taxista numa das principais artérias de Pequim, confessando que não se importava de usar o uniforme, apesar de estar sem a gravata ao pescoço.

    Arranjos de flores com os cinco anéis ou o logótipo dos Jogos estão por toda a cidade e os voluntários olímpicos patrulham as ruas “armados” com um sorriso rasgado pela vontade de ajudar e meia dúzia de frases em “inglês olímpico”.

    “Hello! May I help you?” (Olá! Posso ajudá-lo?), é a pergunta comum para o arranque de uma conversação, que, depois do pedido de direcções, não vai além da segunda frase, já em chinês: “Shen me? Sorry! Ting bu dong!” (O quê? Desculpe, não entendi).

    A par do inglês, cerca de 400.000 pessoas, a grande maioria, taxistas, empregados de hotel e voluntários foram alunos da campanha cívica que custou a Pequim 2,5 milhões de dólares (cerca de 1,7 milhões de euros) para evitar a vergonha por falta de educação.

    "Cuspir mata ainda mais que uma bomba atómica”, era um dos motes da iniciativa que promoveu a cortesia e a ordem nas filas de espera e que desaconselhava a cuspir e a praguejar em público, bem como deitar papéis para o chão.

    Mas ainda há quem desafie a multa aplicável ao baptismo ocasional da via pública, apesar do policiamento nas ruas de Pequim, onde circulam 150.000 efectivos e militares e 290.000 voluntários.

    Há ainda equipas de “vizinhos”, identificados com uma pulseira encarnada, com a missão de reportar às autoridades qualquer situação suspeita.

    Este zelo olímpico já obrigou trabalhadores migrantes sem licença para estar Pequim a abandonarem a capital antes da festa, pelo que pode ser difícil encontrar o vendedor ambulante que antes vendia fruta na esquina.

    Com muitos dos mercados tradicionais encerrados pelas autoridades, resta fazer as compras nos Carrefour e nos Wal-Mart que nasceram como cogumelos por toda a cidade.

    Até ir a uma casa de banho pública é uma experiência diferente. Conhecidos pela fraca qualidade das instalações, falta de higiene e mau cheiro, os sanitários de Pequim têm luxos raros como sabonete e papel higiénico durante os Jogos, noticiou a imprensa estatal, embora ainda se possa encontrar o buraco no chão a substituir a sanita.

    Quem quer fumar um cigarro ao jantar terá que seleccionar com mais atenção o restaurante onde pretende ir, depois de a cidade anfitriã dos Jogos ter imposto a proibição de fumar na maioria dos locais públicos.

    “Apoio totalmente a medida, mas sei que não se aplica em muitos restaurantes”, observa Li Dan, agente de turismo, 28 anos, mostrando que as multas para incumprimento da lei do fumo ainda não são temidas.

    Para sair à noite, convém saber que muitos dos locais de entretenimento nocturno de Pequim estão obrigados a fechar as portas às 02:00 da madrugada e outros já impuseram uma “taxa olímpica” nos preços das bebidas.

    Os Jogos Olímpicos estão presentes por todo o lado, desde a chegada a Pequim pelo maior terminal aeroportuário do Mundo, à viagem por uma cidade de grandiosas infra-estruturas, até às rotinas diárias da China.

    O investimento de 20.000 milhões de dólares (13.230 milhões de euros) que poderá fazer destes Jogos Olímpicos os mais caros da história, assegurou a metamorfose de Pequim.
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