Açoriano Oriental
​ Estudo do povoamento da Região precisa de programa de pesquisa

Criação de programa de pesquisa científica foi defendida num workshop que deu origem ao livro “Enquadramento Científico das Hipóteses de Povoamento dos Açores antes do século XV”, que foi ontem apresentado em Ponta Delgada

​ Estudo do povoamento da Região precisa de programa de pesquisa

Autor: Ana Carvalho Melo

Região necessita de um programa de pesquisa científica que permita aferir a data do povoamento do arquipélago, tendo por base quer as evidências arqueológicas, quer os estudos paleoecológicos realizados nos últimos anos.

A criação deste programa foi defendida num workshop realizado em fevereiro de 2022 e que deu origem ao livro “Enquadramento Científico das Hipóteses de Povoamento dos Açores antes do século XV”, que foi ontem apresentado em Ponta Delgada.

Como explicou ao Açoriano Oriental o coordenador desta obra, Tomaz Ponce Dentinho, existem atualmente estudos realizados na Região que apresentam evidências indiretas do povoamento dos Açores antes do século XV, uma teoria que os arqueólogos contestam por não existirem achados devidamente contextualizados e datados.

O workshop que se realizou em fevereiro de 2022 teve entre os seus objetivos fazer o enquadramento científico das diversas hipóteses sobre a ocupação humana dos Açores, ao mesmo tempo que informou as atividades educativas e turísticas das hipóteses formuladas.

Em paralelo este evento analisou a estruturação de um programa de pesquisa científica faseado que ao longo do tempo seja capaz de informar a política de apoio à investigação sobre este tema.

Para Tomaz Ponce Dentinho, tanto no plano teórico como das técnicas disponíveis “é perfeitamente plausível admitir a hipótese de ocupação humana nos Açores antes do século XV”, ainda que não tenha sido encontrada nenhuma evidência arqueológica dessa ocorrência.

Nesse sentido, o coordenador da obra recorda os trabalhos realizados por Pedro Miguel Raposeiro e Vítor Gonçalves, que reportam ter detetado evidências de presença humana nas ilhas dos Açores 700 anos antes da chegada dos primeiros portugueses, com base na datação e na análise de sedimentos extraídos de lagos de diferentes ilhas do arquipélago.

Segundo os autores deste estudo, os primeiros colonizadores eram oriundos do Norte da Europa e aproveitaram as condições climáticas favoráveis da altura para navegar até aos Açores.

Por outro lado, destaca os indícios pré-históricos identificados na Grota do Medo, Pico do Espigão e Monte Brasil na Terceira revelados por Félix Rodrigues e que podem trazer uma possibilidade alternativa ao dogma da “não navegabilidade do Atlântico Norte antes da invenção da vela latina”.

Mas como foi apresentado no workshop que deu origem a este livro, a ausência de de achados arqueológicos, as chamadas evidências diretas, tem trazido vozes dissonantes neste estudo.

Como tal, é defendida a estruturação de um programa de pesquisa científica que permita enquadrar os achados existentes. Nesse sentido é mesmo sugerida uma revisão alargada da literatura sobre a difusão dos povoamentos humanos e a história da navegação, sendo sugerida a realização de um congresso nos Açores sobre este tema.

O livro “Enquadramento Científico das Hipóteses de Povoamento dos Açores antes do século XV” é a súmula das comunicações apresentadas no workshop, sendo que como destacou Tomaz Dentinho os autores das duas intervenções mais críticas a esta teoria optaram por não apresentar a sua síntese escrita. No entanto, a obra apresenta as súmulas das intervenções de Ricardo Tavares, diretor regional da cultura aquando da realização do workshop, George Nash, Nuno Ribeiro, Antonieta Costa, Félix Rodrigues, Pedro Miguel Raposeiro e Vítor Gonçalves, Carlos Guilherme Riley e Filipe Themudo Barata.

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