Autor: Made in Açores
Uma concentração de aromas ricos paira no ar da pequena sala de produção. Os melhores narizes distinguiriam o funcho como o predominante, mas poderia ser qualquer um dos onze aromas que atualmente compõem a oferta de óleos essencias da Essentia Azorica, marca criada pelo grupo Marques e inserida na sua mais jovem e pequena ramificação, a MIA - Marques Inovação & Ambiente.
Nem sempre foi assim, explica José Ponte, diretor de produção. Quando tudo começou, a única matéria prima utilizada para produção de óleos essenciais era a criptoméria, cuja madeira tem várias aplicações nos Açores. Quando perceberam que, depois de aproveitado o tronco, sobrava um grande volume de ramagens, os trabalhadores da Marques começaram a pensar em formas de evitar o desperdício. Foi assim que surgiu a ideia de concentrar o seu aroma tão característico em pequenos frasquinhos que qualquer um pudesse levar consigo, replicando em qualquer lugar o cheiro da floresta açoriana.
A experiência foi considerada um sucesso, de tal forma que decidiram aplicá-la a outras plantas. Hoje, a oferta vai desde os aromas mais universais, como a lavanda e o eucalipto, aos absolutamente exclusivos, como o louro da terra, espécie endémica dos Açores. “Faz lembrar o louro que usamos na cozinha mas tem um toque especial. É único, é nosso.”, descreve José, que confessa preferir os cheiros mais característicos da região. Junta aos seus favoritos a conteira mas sublinha a diferença na recolha das duas. Por se tratar de uma espécie considerada infestante no arquipélago, esta é apenas colhida. Já algumas das espécies endémicas usadas nos óleos são cultivadas nos terrenos da empresa.
Esta é uma causa que José abraça desde o seu percurso académico, em que investigou formas de tirar benefício económico das espécies invasoras de forma a constituir uma mais valia tanto para as empresas como para o meio ambiente. Reconhece na Marques esse compromisso para com a preservação do ambiente e ilustra-o ao explicar o processo de elaboração dos óleos essenciais.
Muito embora à primeira vista o trio de vasilhas silenciosas na sala dêem a ideia de estarmos perante um processo complexo de transformação é tudo, afinal, mais simples do que parece. “O método é a destilação a vapor. Não utilizamos qualquer tipo de produto químico, é 100% natural.”, assegura José. Após a extração dos óleos para pequenos frascos, parte do que sobra é usado para compostagem nos terrenos da Marques e entregue à Musami para os mesmos fins. Outra parte é utilizada na elaboração de águas florais, habitualmente comercializadas com outro produto da marca, o pó de basalto. A forma de chegar a ele é também puramente mecânica e livre de químicos, sendo o resultado um exfoliante natural feito da rocha mais abundante nas ilhas açorianas. Quando conjugado com as águas florais, pode ser usado como máscara facial e, segundo José, é rico em magnésio, sílica e tem um efeito purificador. Os óleos essenciais, por sua vez, são usados na aromaterapia por terem potencialmente efeitos benéficos que variam conforme o aroma.
Relativamente a estas terapias, o diretor de produção deixa uma ressalva. “A literatura científica é um pouco escassa nesta área e a evidência de que existem benefícios é muito a nível do que cada um sente, o que acaba por ser muito subjetivo.”, sublinha. Apesar disso, reconhece as vantagens da aplicação destas terapias como complementos à medicina tradicional através dos testemunhos que recebe dos clientes.
Apesar de qualquer pessoa poder adquirir estes produtos online ou junto de um dos revendedores da marca, José afirma que o maior volume de negócios tem origem no turismo, sobretudo na hotelaria e spas, e nomeia dois factores como os principais responsáveis por esse fenómeno. Um está relacionado com a longevidade do produto, cuja duração longa se traduz numa menor frequência de compra. Outro é o facto de este ser um produto dirigido a um nicho de mercado ainda com pouca expressão junto dos locais.
“Queremos que a nossa marca seja um sinónimo dos Açores.”, sublinha José. “Um frasquinho do nosso óleo tem o cheiro das nossas florestas, das nossas plantas. É algo que podem levar consigo, usar na sua casa e fazê-los lembrarem-se dos Açores. Talvez essa ativação da memória os faça querer voltar.”
Com apenas quatro funcionários mobilizados para a Essentia Azorica e o apoio dos restantes ramos da empresa, a Marques Inovação & Ambiente quer continuar a crescer. Já há novos aromas ainda por anunciar a descansar ao fundo da sala, em frascos, à espera de serem lançados, brevemente prontos para serem descobertos por locais, novos visitantes e pelos que regressam, em busca da essência das ilhas.