Açoriano Oriental
Dia da Defesa Nacional é também "um dever" fora de Portugal

O Dia da Defesa Nacional em Puteaux, nos arredores de Paris, levou dezenas de jovens a conhecerem os ramos das Forças Armadas portuguesas e a terem a possibilidade de falar com os militares portugueses no Afeganistão e na República Centro Africana.


Autor: AO Online/ Lusa

"Vim para cumprir o meu dever de portuguesa. É muito importante para nós que estamos no estrangeiro mostrar que estamos interessados no nosso país e até no lado mais institucional de Portugal", disse Daniela, portuguesa de 18 anos que vive em França desde os três, em declarações à Agência Lusa.

Tal como Daniela, cerca de 50 jovens participaram este domingo numa de duas sessões do Dia da Defesa Nacional em Puteaux, nos arredores de Paris. Com a estimativa de que cerca de 14% dos jovens portugueses se encontram fora do país, tendo emigrado com os pais, as Forças Armadas começaram há quatro anos a promover jornadas da Defesa Nacional em diferentes pontos do globo.

Assim, depois do Rio de Janeiro, Santos e Boston, a capital francesa foi o local escolhido para o encontro entre as Forças Armadas nacionais e os jovens portugueses ou luso-descendentes. Mas o caminho não foi fácil para todos.

"No Consulado explicaram-me que eu teria de fazer um pedido de dispensa quando fizesse 18 anos, só que fiz 18 anos e o consulado está sempre super ocupado e é difícil ligar e marcar uma reunião, então eu fui procurar à Internet. Encontrei o ‘site’, vi o que tinha de fazer, pedi dispensa, meses mais tarde ninguém me respondeu e vi no final da página um folheto sobre o evento em Paris", explicou Inês, de 19 anos que veio de Clermont-Ferrand, a cerca de quatro horas de distância da capital, para estar presente neste evento.

Tal como todos os jovens portugueses, para quem a participação neste dia é obrigatória, o dever mantém-se para quem vive fora de Portugal embora seja possível pedir dispensa justificando a residência noutro país. Havendo a possibilidade de participar presencialmente, Inês não hesitou e a família apoiou-a. "Muitas coisas que foram ditas hoje, eu não sabia. Nem seria possível ter acesso a essa informação de outra maneira", disse esta jovem que está a estudar Direito.

À semelhança deste tipo de eventos em Portugal, houve explicações sobre os diferentes ramos das Forças Armadas e as suas missões, mas houve também algumas particularidades. Desde logo, a participação da secretária de Estado da Defesa, Ana Santos Pinto, para uma sessão de perguntas e respostas com os jovens.

"Uma das nossas prioridades é colocar a Defesa Nacional e as Forças Armadas em contacto com os cidadãos, porque esse é o ponto de partida para o justo reconhecimento do trabalho que as Forças Armadas têm diariamente. E é preciso as pessoas conhecerem para o reconhecer", disse a secretária de Estado à Lusa.

Outra prioridade é testar modelos desta jornada para abranger mais jovens que vivem fora de Portugal. "Temos uma comunidade a viver fora de território nacional que também partilha este sentimento de pertença e à qual também queremos chegar. Agora há modelos diferentes para o fazermos, porque é difícil do ponto de vista dos recursos e da estrutura logística replicar o dia da Defesa Nacional exatamente como fazemos em território nacional em todas as comunidades dispersas pelo mundo", afirmou Ana Santos Pinto.

Sem a possibilidade de trazer o Navio Escola Sagres, que participou nas anteriores iniciativas fora de Portugal e está agora a ser renovado para uma viagem de circum-navegação, a Paris, as Forças Armadas apostaram no contacto direto entre os jovens e os militares portugueses no Afeganistão e na República Centro Africana. Uma aposta ganha, segundo Pierre, que fez a dobradinha tendo já participado do equivalente ao Dia da Defesa Nacional em França e nesta iniciativa portuguesa.

"É mais ou menos a mesma coisa. Mas no da França não tivemos contacto direto com os militares no Skype e é muito interessante falar com esses militares no mundo para compreender o que é que eles fazem, por exemplo, com as populações em África", disse o jovem de 18 anos, impressionado por ter falado diretamente com os militares que contaram o seu dia a dia e responderam à questões dos jovens.

Pierre já nasceu em França, vive em Puteaux e gostava de ir para Portugal, embora não esteja seduzido pela vida militar. Agora que já acabou o ensino secundário, vai fazer uma preparação especial para ingressar no curso de Física. "Para mim, é mais interessante viver em Portugal porque tem mais sol e as pessoas são mais simpáticas", justificou o jovem.

Ana Santos Pinto reconhece a dificuldade de recrutar para as Forças Armadas, mas reitera as oportunidades de carreira para portugueses e luso-descendentes. "Portugal, como a esmagadora maioria dos Estados europeus, tem uma tendência de retração na capacidade de retenção dos jovens. Desde logo, porque a instrução é superior e a expectativa de desenvolvimento de carreira é também diferente. Agora há aqui uma desconexão entre o que é o conhecimento do que se faz nas Forças Armadas e as necessidades. Elas precisam de pessoas mais qualificadas do ponto de vista da tecnologia, porque os equipamentos são mais evoluídos e parece-me existir algum desconhecimento sobre o que se pode fazer nas Forças Armadas", afirmou a secretária de Estado.

Para além disto, há também as vantagens inerentes à vida militar. "As Forças Armadas, para quem tem família aqui [em França] e sai do seio familiar, conseguem fazer com que a vida desses jovens tenha todas as condições dentro do contexto de uma unidade militar. Eles não estão tão dependentes dos pais como se fossem para outra profissão, caso queiram regressar a Portugal", indicou o coronel Vítor Borlinhas, diretor de Serviços da Profissionalização do Serviço Militar.

Segundo este militar, a missão em Paris cumprida. "Em termos de participação, é muito gratificante para nós. Saímos daqui com a sensação de dever cumprido, não só por causa dos jovens, mas também pelas famílias dos jovens que nos acompanham. Às vezes até há uma lágrima ao final do dia, da parte deles e também da nossa", disse o coronel Vítor Borlinhas.

O evento em Puteaux aconteceu graças à ajuda da Association Franco Portugaise de Puteaux, que cedeu a sua sede para a organização destes dois dias e também contou com o apoio da associação Cap Magellan, que falou aos jovens sobre a sua campanha "Sécur'été 2019 - Verão em Portugal", que visa alertar os mais e menos jovens para a segurança rodoviária nas deslocações de carro entre França e Portugal.


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