Autor: Lusa/AO Online
Sem trabalho, João Pereira, de 26 anos, decidiu candidatar-se a monitor do campo de férias da freguesia onde mora, Campolide. Apesar de não ter experiência com crianças, o jovem enviou o currículo e foi chamado para trabalhar nos meses de julho e agosto, recebendo um ordenado “entre 500 e 600 euros por mês”.
A aparar as quedas dos miúdos ou a ajudar-lhes a apertar os cordões das sapatilhas, Patrícia Gonçalves, de 23 anos, também estava desempregada até vir ocupar, temporariamente, a função de monitora, que representa um importante contributo financeiro.
“Vamos à Aventura” é o desafio lançado pela Junta de Freguesia de Campolide, com atividades de ocupação de tempos livres para crianças dos seis aos 17 anos, que acolhe entre 300 e 400 menores, nos meses de julho e agosto, empregando cerca de 15 monitores com uma remuneração de 200 euros por semana.
O autarca de Campolide, André Couto, disse à Lusa que “é um programa de cariz social, não só em relação às crianças como também aos monitores”, e destinado, preferencialmente, a pessoas da freguesia: estudantes universitários, que aproveitam para juntar algum dinheiro para pagar as propinas, e jovens desempregados, que têm filhos e para os quais “esse dinheiro vai ser também um paliativo para que possam enfrentar de forma menos penosa os próximos meses”.
Vestidas com t-shirts brancas e chapéus verdes, as crianças divertem-se em locais como o espaço infantil do Parque Eduardo VII.
“Vamos à praia e aos museus e para nós os monitores são meus”, cantam os miúdos, com toda a pujança.
Para a pequena Lara Santos, de 11 anos, “este campo de férias é muito divertido” e “os monitores são queridos”.
João Leite, de 13 anos, sente-se “como se estivesse em casa”, porque os monitores são “muito fixes”: “Brincam, mas quando é para ralhar, ralham”.
Durante o verão, a praia de Carcavelos, em Cascais, é ‘invadida’ todas as manhãs por uma mancha de amarelo e azul, cores que não passam despercebidas e identificam a chegada das crianças e dos monitores das animações da freguesia de Carnide.
A estudar desporto na Universidade Lusófona de Lisboa, Pedro Heitor, de 23 anos, trocou as férias da faculdade para trabalhar como monitor.
“Tinha decidido mesmo que queria vir para aqui, tive a sorte de me quererem também e não trocava isto por nada”, comentou o jovem, para quem a remuneração “acaba por ser um bónus do trabalho”: “Para quem gosta é gratificante já por si, o dinheiro vem por acréscimo”.
A acabar o 12.º ano, Fabiana Cruz, de 19 anos, já tinha experienciado o campo de férias como voluntária, este ano inscreveu-se como monitora e, se não tivesse conseguido ficar colocada, teria que ir à procura de outro emprego de verão.
Tal como Campolide, Carnide dá preferência, no recrutamento, a pessoas da freguesia que sejam jovens estudantes, universitários ou num contexto de formação profissional, rejeitando a ideia de ir buscar pessoas aos centros de emprego.
“Camuflar os números do desemprego para nós não faz qualquer tipo de sentido”, afirmou o presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Fábio Sousa, considerando que “deve haver uma verdadeira política de apoio ao emprego”, já que o problema “não se resolve com recurso a emprego sazonal”.
A adesão ao campo de férias de Carnide tem vindo a crescer “bastante”, contabilizando-se este ano mais de 2.500 crianças, mais de 300 monitores e 14 coordenadores. A remuneração dos jovens monitores é de cerca de 250 euros por cada 15 dias de trabalho, disse o autarca.
Madalena Massano, de 11 anos, e Miguel Martins, de 10, afirmam gostar de todas as atividades, desde as idas à piscina e à praia às visitas aos museus.
Para muitas crianças os monitores são um exemplo a seguir, pelo que desejam também terem essa responsabilidade um dia. Sem papas na língua, o reguila Miguel Martins contrariou a tendência, contando que não gostava de ser monitor porque “são muito chatos”.