Açoriano Oriental
Butão cumpre último passo para a democracia
O Butão realizou hoje eleições parlamentares que são um último passo para que este pequeno reino dos Himalaias se torne na mais jovem democracia do mundo depois de mais de um século de monarquia absoluta.
Butão cumpre último passo para a democracia

Autor: Lusa / AO online
No pequeno país, de área equivalente à Suíça e uma população de 670.000 pessoas, a democracia foi introduzida por vontade do rei e não por pressão do povo, como é mais habitual.

    Trezentos e vinte mil eleitores acorreram hoje às urnas, em assembleias de voto instaladas por todo o "Reino do Dragão" e, a meio do dia eleitoral, pelas 11:00 (06:00 TMG e em Lisboa), um terço (30 por cento) já tinha votado. As urnas encerraram às 17:00 (11:00 TMG e em Lisboa) mas os resultados preliminares só devem ser anunciados ao princípio da noite e os oficiais na terça-feira.

    Segundo a Comissão Eleitoral, a votação decorreu com normalidade, mesmo nas localidades mais remotas, tendo-se registado como únicos problemas a circunstância de alguns dos votantes terem esquecido os cartões de identidade, resolvida prontamente pelo regresso a casa em busca dos documentos.

    Em causa estão os 47 lugares da Assembleia Nacional, disputados por dois partidos - o Partido Popular Democrático (DPD) e o Partido Virtuoso do Butão (DPT) - cujos líderes foram ambos primeiros-ministros do rei e dizem ambos que vão seguir o plano quinquenal em vigor, que designam como "a visão de Sua Majestade".

    O rei, Jigme Keshar Namgyal Wangchuck, de 28 anos, deverá permanecer na chefia do Estado após estas eleições e manter uma influência considerável, só podendo ser destronado com o voto de pelo menos dois terços do parlamento.

    O processo de democratização foi lançado em 2001 pelo rei Jigme Singhye Wangchuck, que em Dezembro passado abdicou em favor do filho, formado pela Universidade de Oxford, ambos tratados pelos butaneses como "Sua Majestade".

    Mas o povo butanês tem sentimentos mais ambivalentes quanto à democracia, sobretudo porque o pequeno reino prosperou sob a monarquia, com um crescimento económico acelerado que permitiu aumentar os rendimentos e conceder acesso à educação e saúde a quase toda a população.

    O êxito do Butão contrasta com a situação de países próximos como o Nepal ou o Bangladesh, que a muitos butaneses parecem exemplos de como a democracia pode correr mal.

    Nos últimos anos, o país que até aos anos 1960 não teve nem estradas, nem telefones, nem moeda, desenvolveu-se graças sobretudo ao turismo, recebendo anualmente cerca de 20.000 turistas, atraídos pela preservação dos aspectos mais característicos e tradicionais.

    A legislação proteccionista inclui a proibição do montanhismo e alpinismo, para preservar as florestas, que cobrem mais de metade do território, e a obrigação para a população de usar os trajes tradicionais.

    Esta aposta nas tradições é uma das vertentes da política que deu fama mundial ao Butão, a institucionalização da Felicidade Nacional Bruta, um PIB muito peculiar que passa também pela protecção do meio ambiente e a promoção da verdade como base do bem-estar, política que segundo vários estudos fez dos butaneses o oitavo povo mais feliz do mundo.

    Mas a determinação em preservar a cultura tem um lado negro que passou, na última década, pela expulsão de mais de 100.000 pessoas de origem nepalesa, que vivem actualmente espalhadas por sete campos de refugiados ao longo da fronteira.

    As autoridades de Thimpu afirmam que os butaneses de origem nepalesa partiram voluntariamente, mas os refugiados protestam pela expulsão e tentaram perturbar a campanha eleitoral com nove pequenos ataques à bomba, que causaram um morto.

    Dezenas de milhares de nepaleses continuam a viver no Butão - entre os quais 19 candidatos a deputados -, mas o futuro dos refugiados não foi tema de campanha porque os partidos estão impedidos de abordar questões relativas à segurança e à cidadania, assim como à família real.
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