Autor: Lusa/AO Online
“É uma seleção um pouco diferente daquela de 2014. Oito anos depois, o Gana já reúne jogadores com bastante qualidade ao nível da posse, mas vai ter na transição ofensiva a sua principal arma e jogará um pouco mais na expectativa e num bloco médio, à espera de uma interceção ou um roubo de bola e das bolas paradas. Acima de tudo, e na teoria, Portugal tem uma seleção e jogadores de nível superior. Por isso, temos tudo para fazer um grande jogo e começar muito bem”, avaliou à agência Lusa o ‘guardião’, de 40 anos.
Portugal e Gana começam a disputar a 22.ª edição do Mundial na quinta-feira, no Estádio 974, em Doha, em jogo da primeira ronda do Grupo H, três horas após o embate entre Uruguai e Coreia do Sul, também na capital do Qatar.
“São competições curtas e não há muita margem para perder tempo e pontos. É sempre importante começar bem para se ter uma melhor perspetiva daquilo que vão ser os jogos seguintes. É sempre ótimo marcar uma posição, deixar uma boa imagem e ter o máximo de pontos possíveis, porque Portugal encontrará depois um adversário de nível superior, como o Uruguai, que nos afastou em 2018, num jogo sem muito boas memórias”, notou.
Face ao “leque de talentos ao dispor”, Beto sente a equipa liderada por Fernando Santos como “candidata” a vencer um inédito cetro e “favorita a passar em primeiro” na ‘poule’, evitando, assim, um eventual desafio frente ao pentacampeão Brasil nos oitavos de final.
“Qualquer seleção vai ter de defrontar os melhores do planeta para ser campeã mundial. Obviamente, há melhores ou piores adversários em determinados momentos, mas acho que Portugal tem armas e capacidade para passar em primeiro e evitar uma seleção com o poderio do Brasil”, afiançou, quatro anos depois da ‘queda’ na primeira fase a eliminar.
Portugal disputa pela oitava ocasião, e sexta consecutiva, no principal torneio mundial de seleções, ao qual acedeu com êxitos ante Turquia (3-1) e Macedónia do Norte (2-0) no ‘play-off’, após ter sido superado pela Sérvia na liderança do Grupo A da zona europeia.
“Não se trata de bloqueios mentais. Portugal não joga sozinho e há outras seleções que também têm jogadores com muita qualidade, cultura tática e que competem em grandes equipas europeias. Vemos hoje muitas equipas que venceram a Liga dos Campeões há bem pouco tempo, mas têm muitas dificuldades em defrontar adversários de segunda e terceira linha dos respetivos campeonatos. Ou seja, o futebol é muito difícil”, comparou.
Suplente não utilizado em 2010 e 2018, mas com 179 minutos repartidos por dois duelos no Mundial2014, Beto alerta que “está muito complicado atingir vitórias tão arrasadoras e claras como se via antigamente”, em função do “maior equilíbrio tático, técnico e físico”.
“O futebol são detalhes e há momentos da partida em que Portugal está por cima. Agora, nenhuma equipa vai dominar a 100% durante os 90 minutos. Muitas vezes, o adversário impede e anula os nossos pontos fortes e Portugal necessita de transformar a dificuldade em solução. Isso faz parte do futebol e não há que apontar absolutamente nada, porque são futebolistas de topo mundial que podem ter momentos melhores ou piores. Acredito mesmo muito nesta geração que vai ao Qatar”, expressou o antigo guarda-redes de FC Porto, Sporting e Sporting de Braga, que deixou em julho os finlandeses do Helsingfors.
Por causa do clima desértico do Qatar, com temperaturas médias de 50 graus celsius no verão, o Mundial2022 decorre desde domingo com uma calendarização distinta, gerando uma inédita interrupção da generalidade das provas de clubes em plena época 2022/23.
“Nesta altura, o mais importante é a capacidade mental de os atletas se desligarem dos seus campeonatos e ligarem o ‘chip’ do campeonato do Mundo. Será a parte mais difícil de gerir do que propriamente a física, porque os jogadores estão mais ou menos a meio da época. Independentemente do volume de jogos, ainda estão mais frescos do que se estivessem no final de uma temporada e com 50 jogos cumpridos já nas pernas”, traçou.
Detentor de 16 internacionalizações, a última das quais durante a caminhada triunfal na Liga das Nações de 2019, Beto enfatiza também a “vertente psicológica” associada ao torneio, ao reiterar “o cansaço físico não se nota tanto” quando “a motivação é extrema”.
“Nunca ninguém vivenciou esta experiência, nem há um termo de comparação. Se calhar, poderá ser um volte-face muito importante para algumas equipas, que estão sempre na expectativa de perceber o que acontecerá aos atletas cedidos às seleções. Agora, não é um Mundial que acaba e os jogadores vão de férias. Pode haver um pequeno interregno para eles poderem descansar uns dias, mas a competição volta novamente”, terminou o vencedor de quatro Ligas Europa, três pelos espanhóis do Sevilha e uma pelo FC Porto.