Açoriano Oriental
Saúde
Associação para o Estudo da Dor alerta para "escassez" de Unidades de Dor
A Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) alertou para a “escassez” de cuidados específicos destinados aos doentes que sofrem de dor crónica, uma vez que existem apenas 52 unidades de tratamento para 1,2 milhões de portugueses afectados.

Autor: Lusa/AOonline
A propósito da Semana Europeia de Luta Contra a Dor, assinalada entre 20 e 26 de Outubro, o presidente da APED, José Romão, disse à agência Lusa que tem havido “pouco investimento” nas unidades de dor, num país em que 30 por cento da população padece de dor crónica, segundo um estudo da Faculdade de Medicina do Porto.

    “É preciso sensibilizar os profissionais e os conselhos de administração dos hospitais para a necessidade de dar condições nas respectivas instituições para que outras unidades sejam implementadas”, adiantou o também coordenador da Unidade de Dor do Hospital de Santo António.

    Segundo José Romão, muitas das unidades de dor existentes ainda estão “pouco desenvolvidas”, necessitando de uma “maior diferenciação”.

    “Muitas vezes não é possível oferecer uma maior diferenciação porque os conselhos de administração ou as direcções dos serviços não estão permeáveis a essa necessidade e não criam as condições necessárias”, frisou.

    Apesar das unidades de dor deverem ser da responsabilidade de profissionais de várias especialidades, o seu funcionamento tem sido assegurado principalmente por anestesistas, o que cria algumas dificuldades.

    “Tradicionalmente os anestesistas têm sido a especialidade médica mais implicada no tratamento da dor crónica, mas hoje há uma pressão muito grande para enviar os anestesistas para os blocos operatórios e criam-se alguma barreiras ao desenvolvimento de outras actividade fora do bloco operatório”, justificou.

    Um dos caminhos para alterar esta situação, segundo o responsável, é apostar noutros profissionais: “A APED tem tentado fazer isso mas, para já, não tem havido um grande envolvimento de muitas outras especialidades”, apesar de já começar a haver um envolvimento crescente de enfermeiros, psicólogos e psiquiatras.

    José Romão defendeu ainda que as escolas médicas também deviam apostar na formação nesta área: uma patologia que atinge 30 por cento da população deveria ter um “tratamento mais aprofundado na formação médica básica e isso não tem acontecido”.

    O presidente da APED salientou ainda a importância da Semana Europeia de Luta Contra a Dor para chamar a atenção dos profissionais para terem uma atitude diferente relativamente à valorização dos sintomas da dor e da doença dor crónica.

    “Quer por parte dos profissionais de saúde, dos próprios doentes e da população em geral há muitas vezes uma atitude quase despiciente em relação à dor”, disse o responsável, salientando que é explicar às pessoas que “nem sempre o seu sofrimento é uma inevitabilidade” e que é possível aliviá-lo.

    Para assinalar a Semana da Luta Contra a Dor, a APED vai realizar quarta-feira uma visita à Unidade de Dor do Hospital dos Capuchos, em Lisboa.

    "Os doentes que nos procuram sofrem essencialmente de patologias músculo-esqueléticas como as lombalgias, a artrite reumatóide e a osteoporose. No entanto, 60 por cento dos doentes que aqui assistimos são doentes oncológicos", segundo Teresa Vaz Patto, coordenadora da Unidade de Dor do Hospital dos Capuchos e vice-presidente da APED.

    De acordo com o "Estudo da Prevalência da Dor Crónica na População Portuguesa", elaborado pela Faculdade de Medicina do Porto, cerca de 30 por cento dos portugueses têm dor crónica (dor várias vezes por mês durante pelo menos seis meses) e 14 por cento dor moderada a grave.

    O estudo, que decorreu entre Fevereiro de 2007 e Maio deste ano, indica ainda que 35 por cento dos doentes com dor crónica acham que a sua dor não está bem controlada e, portanto, não estão contentes com o tratamento. A maior parte diz que os medicamentos não são eficazes ou que os médicos não dão a devida atenção à dor que eles têm.
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