Autor: Lusa
“Os dois líderes [os presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky] têm dificuldade em explicar aos seus povos os limites" da ação militar, indicou Lula durante uma conferência de imprensa com a qual encerrou a visita a França.
“Não se tem tudo o que se quer, mas o que é possível. E eles sabem o que é possível”, acrescentou.
Questionado expressamente se se referia a um hipotético acordo que implicaria que a Rússia mantivesse os territórios ucranianos que anexou, o que equivaleria a premiar o país invasor, Lula respondeu: “não cabe a mim" determinar os termos da paz.
No entanto, Lula pediu para se olhar para o conflito com realismo.
“Por exemplo Putin não quer sair [da Crimeia], enquanto Zelenski não quer admitir que há territórios que são irrecuperáveis”, explicou.
Lula insistiu que o Brasil está “à disposição” de ambos os países, para, juntamente com outros Estados do sul global, “procurar um acordo”.
E, nesse sentido, ressaltou ter chegado a hora para que a ONU “volte a ser protagonista na procura e na conquista da paz”.
O presidente brasileiro justificou o convite ao Presidente russo para participar na cimeira do grupo BRICS, nos dias 06 e 07 de julho, no Rio de Janeiro, do qual a Rússia é membro fundador: “Ele próprio [Putin] foi um dos fundadores do BRIC, juntamente com o Brasil”, sublinhou Lula, aludindo ao grupo original, com também a Índia e China, formalizado em 2006.
Em 2011, o BRIC expandiu-se com a inclusão da África do Sul passando a ser BRICS. Desde então, o grupo tem aumentado o número de adesões, com a inclusão do Irão, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia em 2024, e Indonésia em 2025.
Lula assegurou que compreende que os países europeus vejam a guerra na Ucrânia de forma diferente da sua, uma vez que “há um oceano que nos separa”, mas lembrou que emitiu uma “crítica contundente” à invasão russa.
“E continuo a fazer essa crítica”, frisou.
No período com “mais conflitos desde a Segunda Guerra Mundial”, o líder brasileiro reiterou que é urgente “mudar o estatuto da ONU" para que tenha uma representação do atual mapa político do mundo no seu Conselho de Segurança, com representação do continente africano, do continente latino-americano, da Alemanha, do Japão e do Médio Oriente.
Referindo-se ao conflito na Faixa de Gaza desencadeado em outubro de 2023 e que já provocou mais de 54 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, Lula da Silva defendeu que “a ONU não tem força para criar o Estado palestiniano”, tal como fez para criar o Estado de Israel em 1947.
“Tão grave quanto a Ucrânia é Gaza, porque a guerra entre Rússia e a Ucrânia são dois exércitos formais brigando. Gaza não. Gaza é um exército altamente profissionalizado, matando mulher e criança. Eu fico parvo com o silêncio do mundo. Parece-me que não existe mais humanismo nas pessoas. O palestiniano pode morrer? O palestiniano não é ser inferior”, disse com indignação.
Depois de deixar Paris, onde realizou uma visita de Estado desde quinta-feira, Lula viaja para o Mónaco para o Fórum sobre a Economia Marítima, antes de seguir, no domingo, para a vizinha cidade francesa de Nice para a Cimeira sobre os Oceanos, organizada pela ONU e que começa na segunda-feira.