Autor: AO Online/ Lusa
“Com o aumento do turismo, nós sentimos que houve algumas peripécias com alguns turistas, por não saberem estar na tourada à corda, e sentimos a necessidade de fazer algo”, adiantou, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda, Sónia Ferreira.
A época de touradas à corda arranca hoje na ilha Terceira e até 15 de outubro são esperadas mais de duas centenas de manifestações taurinas, que ao contrário das touradas de praça, se realizam nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados ao trânsito.
Os touros são amarrados por uma corda, segurada por pastores, e a população assiste, de forma gratuita, nas janelas e varandas das casas, mas há quem se arrisque a ver na rua e até a brincar com o touro, o que por vezes pode passar a mensagem errada a quem chega de fora.
“O terceirense está muito à vontade no arraial e isso transmite às pessoas que vêm de fora que é uma coisa sem perigo e não é. Quando eles veem os nossos capinhas a capear [enfrentar o touro com capas], parece que aquilo é fácil e não é, por isso é que é importante explicar-lhes os possíveis perigos”, salientou Sónia Ferreira.
A campanha, que integra cartazes, vídeos e panfletos, em português, inglês e castelhano, aconselha, por exemplo, as pessoas a chegarem cedo ao arraial para encontrarem um sítio alto onde possam assistir à tourada em segurança e lembra que os intervalos entre cada touro (quatro no total) são curtos, por isso, não é prudente sair à rua.
Por outro lado, alerta para os cuidados a ter junto dos riscos que delimitam o percurso, para onde correm dezenas de pessoas em simultâneo quando o touro se aproxima.
Quem opta por assistir na rua deve ter cuidado para não se deixar apanhar pelo touro, mas estar atento também à corda para não tropeçar.
Entre outras informações, os vídeos e panfletos explicam como saber se o touro está na rua, através dos foguetes: um foguete indica que o touro vai sair da gaiola de madeira em que é transportado para o arraial e dois foguetes que o touro vai ser recolhido.
A campanha, ilustrada pelo terceirense Bruno Rafael, conta ainda a história da tourada à corda e destaca os cuidados que os criadores têm com o bem-estar do animal, como o descanso mínimo obrigatório entre touradas e a prestação de cuidados veterinários.
Segundo Sónia Ferreira, desde 2017 que há cada vez mais turistas, nacionais e estrangeiros, nas touradas à corda, ainda que alguns só se apercebam de que está a decorrer quando se dão conta de que o trânsito está interrompido.
A presidente da associação destacou o peso social e económico destas manifestações taurinas na ilha Terceira e considerou que podem ser um atrativo turístico.
“Eu acho que cada ilha tem as suas particularidades. Há um chamariz para cada ilha e sem dúvida que a parte cultural na ilha Terceira é o que a faz ser muito diferente das outras ilhas. A tourada à corda obviamente está muito enraizada e pode ser um cartaz turístico”, frisou.
Sónia Ferreira pertence à quarta geração da ganadaria Casa Agrícola José Albino Fernandes, criada em 1932, e dá continuidade ao negócio da família por gosto, mas também porque sente a obrigação de manter o legado.
“Ser-se ganadeiro é complicado, tem de se ter muita paixão, muito gosto, porque não é um negócio rentável. Não é como ter gado de carne ou leiteiro. Tem de ser algo que a pessoa deseje muito”, sublinhou, lembrando que no inverno não têm receitas.
A Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda conta atualmente com 16 associados, 12 na ilha Terceira, três em São Jorge e um na Graciosa, mas existem cerca de duas dezenas de ganadeiros licenciados nos Açores.
No primeiro dia da época taurina estão previstas quatro touradas à corda na ilha Terceira e só mês de junho deverão ocorrer mais de meia centena.