Açoriano Oriental
“Se o preço do leite não aumentar, vamos caminhar para o abismo”

César Pacheco, presidente da Associação de Jovens Agricultores Micaelenses alerta ser urgente uma subida do preço do leite para compensar aumento dos custos de produção

“Se o preço do leite não aumentar, vamos caminhar para o abismo”

Autor: Luís Pedro Silva

Como analisa a situação do setor leiteiro nos Açores?

Neste momento estamos a passar por um grande desequilíbrio entre o preço pago aos produtores e os custos de produção. Os fatores de produção estão muito elevados, porque se registou uma subida nas rações, adubos e combustíveis.

Já estávamos a atravessar uma situação muito difícil, mas os problemas aumentaram este ano. Estamos a viver uma situação dramática. Este é o pior momento da lavoura, desde o final das quotas leiteiras. Se o preço do leite não aumentar, vamos caminhar para o abismo.

Qual é o preço médio do leite pago aos produtores nos Açores?

O preço médio são 27 cêntimos por litro.

Com esse preço é rentável produzir leite nos Açores?

Não é rentável. Nós registamos o pior  preço médio do leite pago ao produtor da Europa. Os produtores no continente recebem um valor médio superior aos produtores nos Açores, quando a maioria dos nossos produtos são vendidos no continente. É necessário existir uma concertação, envolvendo o Governo da República e o Governo Regional dos Açores, para defender toda a cadeia de valor no setor do leite.

Precisamos de uma distribuição justa e proporcional do valor. Não é correto existir um desequilíbrio, onde alguns ficam com todos os lucros e os produtores ficam espremidos no final da linha.

Qual a solução que defende para existir um ajustamento do preço do leite pago aos produtores?

Considero ser necessário existir um entendimento com todas as indústrias para se subir o preço do leite aos produtores. O consumidor final poderá pagar um preço mais caro, mas é preciso refletir a subida dos custos de produção. Os agricultores não conseguem manter este preço do leite. Estamos no limite e precisamos de uma subida do preço do leite. O consumidor vai precisar de pagar mais pelo leite e produtos lácteos.

Quais são as consequências para o setor do leite se não existir uma subida do preço do leite?

Alguns produtores podem sair deste setor, o que será negativo para a Região, porque este setor é muito importante na nossa economia. O ideal será os agricultores receberem um rendimento digno devido ao seu trabalho. Poderá existir uma delapidação da nossa imagem turística, associada a pastagens agrícolas.

Como é que os jovens agricultores lidam com estas dificuldades?

Para se entrar no setor leiteiro existem grandes compromissos financeiros. Não se consegue iniciar uma atividade, sem recorrer a crédito. É necessário fazer um crédito durante muitos anos. Os jovens agricultores acabam por hipotecar o futuro e não podem abandonar esta atividade. Em muitos  casos já existem pessoas, que trabalham uma média superior a 10 horas por dia, em chegar ao final do mês e obter um rendimento digno. Isto é frustrante para quem inicia uma atividade agrícola e dedica uma vida ao trabalho. Os agricultores estão frustrados e revoltados. Estamos a entrar num caminho perigoso, porque não sabemos as consequências desta situação para o futuro da Região.

Tem alguma sugestão para o Governo Regional intervir nesta crise do preço do leite pago aos produtores?

O Governo Regional deve estar sempre ao lado de toda a cadeia, envolvendo os produtores e indústria. Sei que conhecem os problemas deste setor, mas devem dar todo o apoio para que a indústria consiga subir o preço do leite pago aos produtores.

A Associação de Jovens Agricultores Micaelenses está a desenvolver um trabalho para reunir com todos os parceiros deste setor. Vamos reunir com a Associação Agrícola de São Miguel, com as indústrias de São Miguel e vamos pedir uma audiência ao presidente do Governo Regional dos Açores para denunciar os problemas que existem para os produtores de leite.

Esta situação ainda se torna mais grave para os jovens agricultores micaelenses. Nós somos o maior ativo da Região, porque temos a responsabilidade de preservar o ambiente e as paisagens naturais da ilha de São Miguel, que são elogiadas e reconhecidas pelos turistas.

Também garantimos a manutenção das pessoas nas freguesias rurais e contribuímos para a coesão social, porque existem muitas empresas e serviços associados ao setor agrícola na Região. O nosso papel na economia deve ser valorizado pela sociedade açoriana.








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