Açoriano Oriental
Sociedade
Portugueses começam a trabalhar cedo mas mudam de casa tarde
Um estudo realizado em vinte e três países da Europa revela que os portugueses são os europeus que entram no mercado de trabalho com menos idade. No entanto, isto não se traduz na mudança de habitação, uma vez que os portugueses são dos que saem mais velhos da casa dos pais

Autor: Lusa / João Cordeiro
Os portugueses são os europeus que começam a trabalhar mais cedo, mas estão entre os que saem mais tarde de casa dos pais, revela o Inquérito Social Europeu, apresentado ontem em Lisboa. O mesmo estudo permite concluir que os portugueses estão entre os europeus que manifestam menor satisfação com a vida, menor felicidade, maior descontentamento com a qualidade da democracia e maior desinteresse pela política.
Em Portugal, a primeira experiência laboral acontece, em média, aos 17 anos. No entanto, esta entrada precoce no mercado de trabalho não se traduz em imediata transição residencial, situação que acontece, em média, aos 21 anos, ou seja, apenas 4 anos depois do primeiro emprego.
A idade média para a entrada no mercado de trabalho em Portugal está muito perto do que acontece em países como a Alemanha e Suíça - ligeiramente abaixo dos 18 anos -, mas está no extremo oposto de países com sistemas de ensino obrigatório mais longos e consolidados há mais tempo, como a Estónia, a Eslovénia e a Bulgária, onde o primeiro emprego só aparece depois dos 20 anos de idade.
Nos países nórdicos como a Noruega, a Dinamarca e a Suécia, as experiências de entrada no mercado de trabalho e de saída de casa dos pais tendem a ser praticamente simultâneas, sendo estes os países onde a independência residencial tende a ocorrer mais cedo na Europa - na casa dos 19 anos.
Para a maioria dos portugueses é aceitável continuar a viver em casa dos pais até aos 30 anos de idade, o valor mais elevado entre os vinte e três países.
Curiosamente, na Estónia, o abandono da casa dos pais acontece antes da entrada no mercado do trabalho. Situação que apenas se verifica neste país.
O Inquérito Social Europeu, desenvolvido em vinte e três países europeus, comunitários e fora da União Europeia, revela que só os russos, húngaros, ucranianos e búlgaros estão mais descontentes com o funcionamento das suas democracias e politicamente mais desinteressados do que os portugueses. No extremo oposto encontram-se Dinamarca, Suíça e Finlândia.
Segundo os autores deste estudo, “a participação cívica e política está fortemente associada a todas as dimensões do bem-estar: os indivíduos com maiores índices de confiança interpessoal, interesse político, envolvimento comunitário e participação em actividades políticas e mais satisfeitos com a qualidade da democracia são também os que expressam maior bem-estar social, subjectivo e psicológico ”.
O mesmo inquérito conclui ainda que, entre os vinte e três países que foram objecto de estudo, Portugal ocupa o quinto lugar mais baixo em bem-estar subjectivo, ou seja, felicidade e satisfação com a vida.
No que diz respeito ao bem-estar psicológico - equivalente à qualidade do funcionamento pessoal ao nível das relações com os outros e com a sociedade - Portugal está também abaixo da média europeia, ocupando o 16º lugar, entre vinte e três, ficando apenas à frente da Hungria, Rússia, Estónia, Eslováquia, Bulgária, Polónia e Ucrânia, que encerra a tabela.
No capítulo do bem-estar social, a posição portuguesa também não é brilhante. Numa tabela liderada pela Noruega, Portugal ocupa o 17º lugar, à frente da França, Rússia, Polónia, Ucrânia e Bulgária.
Os autores do estudo relacionam estes valores com o nível de desenvolvimento do país: “de facto, quanto maior o nível de desenvolvimento avaliado pelo índice do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2007, maior o bem-estar subjectivo, psicológico e social”.



“Resultados preocupantes em Portugal”
A terceira edição do Inquérito Social Europeu, que é desenvolvido desde 2001, e que em 2005 ganhou o prémio Descartes para a Investigação, apresenta resultados semelhantes aos alcançados em edições anteriores. Em Portugal, o inquérito foi assegurado por um consórcio constituído pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, e o trabalho de campo foi realizado entre Outubro de 2006 e Fevereiro de 2007, através de 2222 entrevistas presenciais em casa dos entrevistados. Jorge Vala, coordenador nacional do estudo não ficou surpreendido com os resultados e considera que “o baixo sentimento de bem-estar dos portugueses é uma situação profundamente preocupante, porque os resultados são consistentes”.
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