Açoriano Oriental
"Podemos rivalizar com Guimarães e Braga em termos de adeptos"

Em entrevista ao Açoriano Oriental, o presidente do clube e da SAD do Santa Clara analisa o futebol açoriano e a vida social dos "encarnados" de Ponta Delgada. Excertos não publicados na edição de 14 de julho do Açoriano Oriental.

"Podemos rivalizar com Guimarães e Braga em termos de adeptos"

Autor: Nuno Martins Neves

O discurso de ligação do Santa Clara à Região tem sido recorrente. O lema da equipa é “Açores de Primeira”. Sente que os Açores e os açorianos estão mais com o clube do que esteve noutros anos.
Eu sinto que, de uma maneira ou de outra, todos os açorianos e açorianas têm orgulho neste Santa Clara e na maneira humilde e competente como representamos os Açores. São as legítimas aspirações e ambições da Região em ter uma equipa na I Liga, seja ela o Santa Clara, o Operário ou Praiense. Quando falamos em representar os Açores, não o falamos enquanto santa-clarenses, mas sim enquanto açorianos, pelo orgulho que temos na nossa terra. E dizemos isso de uma forma genuína e emocionada, por continuarmos a lutar por manter uma equipa açoriana na I Liga, que é difícil. Este ano, em 18 equipas, 11 são do Norte, existe o Santa Clara e o Marítimo a representar as ilhas, o Portimonense a representar o Sul, e depois o Benfica, Sporting, Belenenses e Setúbal a representar Lisboa. Se não nos unirmos em torno deste projecto, que é açoriano, muito dificilmente teremos condições de nos manter na I Liga. E é um projecto dos Açores e da Diáspora, a 10.a ilha. E digo mais: se juntarmos as nove ilhas do arquipélago, mais a diáspora, conseguimos rivalizar em termos de adeptos com Guimarães e com Braga. Infelizmente, nós próprios é que não temos consciência da nossa grandeza.

Quanto aos campos de treinos que o investidor ia construir junto ao Estádio de São Miguel, em que ponto se encontram?
Acreditamos que no segundo semestre de 2019 estes campos já estarão disponíveis, bem como as infraestruturas de apoio. Existem algumas questões de natureza urbanística e camarária, nomeadamente com os procedimentos de licenciamento que estão a ser ultimados, para que as obras possam começar dentro em breve.
Eu acho muito interessante falar-se do desenvolvimento do atleta açoriano e falar-se em certificações e numa série de evoluções, quando o atleta açoriano treina no sintético. Havia uma corrente doutrinária que queria colocar sintéticos nos campos todos dos Açores por uma questão de corte nos custos. Mas isso não faz evoluir o atleta açoriano! Todos estão a investir em relvados naturais, nós que vivemos numa ilha cheia de verdura, investimos em sintéticos. Ao contrário dessas mentes iluminadas, estamos a regredir a evolução do atleta açoriano, ao não investir em condições e em infraestruturas de relvado. Porque compete-se ao mais alto nível em relvado, a evolução do sintético para o natural é enorme e nós entendemos que o Lajedo e as Laranjeiras têm de continuar com relva natural e vamos investir em mais dois campos de relva natural porque o futuro do futebol açoriano não é o sintético.
E queremos com isto dizer que nós fazemos o nosso trabalho: agora esperamos que os outros actores e agentes também façam o seu. Nós procuramos criar condições de treino para todos os escalões, e esperamos que o Governo dos Açores responda perante os açorianos e açorianas ao melhorar uma infraestrutura antiquada como é o Estádio de São Miguel. Se houver essa sintonia, o futebol açoriano evolui. Não havendo, torna-se complicado e também demonstra qual é a visão de cada um para o futuro do futebol açoriano.

Essas infraestruturas que o clube vai criar vão permitir formar a equipa de Sub-23?
Claro que sim, mas não há omeletes sem ovos. É preciso relvado, infraestruturas... Se eu tivesse uma equipa de Sub-23, lanço a questão: onde é que eles iam treinar? No Lajedo, nas Laranjeiras? Mas aí já tenho o plantel sénior a treinar todos os dias. Ninguém pensou ou sequer colocou na órbita do poder político e decisório - incluindo a Câmara Municipal de Ponta Delgada! - de criar infraestruturas. Não há: neste aspecto, nós estamos na Idade da Pedra. Não tenho problema nenhum em enfrentar o touro pelos cornos: eu corri o país todo de uma ponta à outra, e em termos infraestruturas, custa-me dizer isto, mas estamos muito atrás daquilo que já se está a fazer. A criação da equipa de Sub-23 procura reter o talento regional, buscar os melhores atletas das nove ilhas, incluindo jovens açorianos da diáspora, e depois permite deixar dinheiro aos clubes de base regional, devido aos direitos de formação. Mas precisamos de uma sinalização política de apoio ao nosso projecto, para não sentirmos que estamos sozinhos no deserto. Acredito que há uma abertura dos clubes regionais e a subida do Santa Clara serviu para abrir os olhos a muita gente da mais-valia de termos uma equipa açoriana na I Liga. E mais: vamos apostar também em jovens técnicos açorianos, desde treinadores, preparadores, fisioterapeutas, scoutings, etc.

O clube viu sair alguns associados de peso, como Dionísio Leite e Miguel Simas. Como presidente, como vê estas situações?
O sumo da democracia é a capacidade de exprimirmos as nossas opiniões de uma forma livre. Mas o outro lado da democracia é também a capacidade que temos de ter de aceitar as decisões que cada um toma. É o que se chama de livre arbítrio. Cada um tem as suas razões e pensa pela sua cabeça e nós respeitamos a opinião do senhor Miguel Simas e do senhor Dionísio Leite, dois grandes santa-clarenses, dois grandes homens, que esperamos que possam reflectir e não confundir os projectos e as pessoas com as instituições. O Rui Cordeiro passa, o Miguel Simas passa, todos passamos, menos as instituições. Demitir-se da qualidade de sócio em confronto com a perspectiva de uma outra pessoa...As pessoas passam, mas o clube fica. A fidelidade não é ao projecto A, B ou C, mas sim ao clube. E espero que ambos possam reequacionar isso e separem aquilo que pensam do nosso projecto, do amor que têm pelo Santa Clara.

O Santa Clara foi recentemente certificado como entidade formadora. Está satisfeito com o trabalho realizado na formação?
Muito. O nosso coordenador Luís Pires está de parabéns pelo amor, trabalho e disciplina necessária para conseguir essa credenciação. Dar os parabéns também ao União Micaelense pelo trabalho fantástico que tem feito. É uma referência para o futebol açoriano e é um motivo de orgulho, não só para o Santa Clara e para o União Micaelense, mas para todo o futebol regional ter estas duas entidades credenciadas. Esperamos que no futuro possam ser mais e esperamos que no futuro possam ser criadas sinergias para que o futebol açoriano seja um exemplo: temos qualidade de equipas técnicas; temos jovens jogadores com qualidade; temos dirigentes muito valorosos; temos associações de futebol que apoiam. O que é que nós não temos? Infraestruturas. Sem isso é como ter os ananases, o farelo e a água e não ter as estufas!

Já resolveu todas as contendas que tinha na justiça?
Nós temos 17 adversários na I Liga. Eu sempre entendi que deviamos ter o foco de preparar as nossas lutas contra os outros e não andar sempre à pancadaria uns com os outros dentro da estrutura. E a minha postura foi sempre de pacificação, de união dos sócios em torno deste projecto, ser um embaixador digno dos Açores, e penso que isso foi conseguido. Pela primeira vez desde que assumimos funções não temos processos judiciais, até custa a adaptar, mas esta paz permite-nos projectar a construção da academia, a equipa de Sub-23, a abertura de uma loja oficial no Canadá, desenvolver uma parceria com a cidade de Brampton, no Canadá, entre outros projectos.

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