Açoriano Oriental
Ciência
Pedófilos têm falhas na ligação entre zonas do cérebro
Investigadores canadianos concluíram que a pedofilia, a atracção sexual de adultos por crianças, pode resultar da falta de ligação entre várias zonas do cérebro, revela um estudo no Journal of Psychiatry Research.

Autor: Lusa / AO online
Os investigadores do Kurt Freund Laboratory do Centre for Addiction and Mental Health (CAMH), em Toronto, usaram sistemas de Ressonância Magnética (RM) e computadores sofisticados para comparar os cérebros de um grupo de pedófilos com os de um grupo de pessoas que nunca ofenderam sexualmente ninguém e descobriram que os pedófilos tinham significantemente menos quantidade de "matéria branca", substância responsável por manter a ligação entre as várias partes do cérebro.

O estudo desafia a teoria mais comum, que atribui a pedofilia a traumas ou abusos durante a infância, ao apresentar evidências de que resulta de um problema no desenvolvimento cerebral.

Em trabalhos anteriores, os mesmos investigadores já tinham tentado compreender a pedofilia a partir de falhas no desenvolvimento cerebral, considerando um perfil geral segundo o qual os pedófilos geralmente têm um Quoficiente de Inteligência (QI) mais baixo, têm três vezes mais possibilidades de serem esquerdinos e tendem a ser fisicamente mais baixos do que os não-pedófilos.

James Cantor, o fisiologista do CAMH que liderou este estudo, considerou que a descoberta significa que muita mais atenção deve ser dirigida à forma como o cérebro gere os interesses sexuais.

"Não há nada nesta pesquisa que diga que os pedófilos não devam ser criminalmente responsáveis pelas suas acções", disse.

"Não ser capaz de escolher os nossos interesses não significa que não possamos escolher o que fazemos", realçou.

Este estudo abrangeu 127 homens, divididos entre um número aproximadamente igual de pedófilos e de homens que nunca violentaram sexualmente ninguém.

O Kurt Freund Laboratory, fundado em 1968, é considerado um dos mais importantes centros mundiais de investigação e diagnóstico de problemas e doenças sexuais e é um dos centros referenciados como colaborador da Organização Mundial de Saúde e filiado da Universidade de Toronto.

Este estudo vai no mesmo sentido de um outro publicado em Setembro último por uma equipa da Universidade de Yale no jornal Biological Psychiatry, que usou imagens funcionais do cérebro para descrever os circuitos neurais que contribuem para a pedofilia.

Quando foram mostradas imagens eróticas de adultos, o cérebro dos pacientes pedófilos observado por RM teve reacções reduzidas no centro cerebral que regula o prazer, indicando um interesse sexual alterado.

Estes défices de activação no córtex frontal foram associados com a dimensão do comportamento pedófilo.

"Os nossos resultados podem ser vistos como o primeiro passo para estabelecer uma neurobiologia da pedofilia que, em última instância, pode contribuir para desenvolver terapias efectivas para este problema debilitante, que é uma preocupação forense, criminal e pública", disse então Georg Northoff, um dos autores do estudo.
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