Autor: Lusa/AO Online
Nascido em 1987 e residente em Espanha, M. da S. M., de nacionalidade portuguesa, está acusado pelo Ministério Público de quatro crimes de assassínio e mais nove de tentativa de assassínio.
Segundo a Procuradoria espanhola, em 06 de novembro de 2022 lançou intencionalmente o carro que conduzia contra um grupo de convidados de um casamento em Torrejón de Ardoz, na região de Madrid.
"Pegou no carro e lançou-o contra a multidão, como num atentado jihadista", realçou o advogado Juan Manuel Medina, que representa a família de uma das vítimas mortais, um rapaz menor de idade.
O advogado, que falava aos jornalistas à entrada do tribunal de Madrid onde hoje arrancou o julgamento, realçou que não há dúvida de que o atropelamento foi intencional e que isso mesmo confirmam os relatórios periciais, que "demonstram claramente" que o acusado acelerou para lançar o carro sobre um grupo de pessoas que estavam concentradas junto a um restaurante onde se celebrava um casamento.
As acusações particulares - das famílias das vítimas mortais - pedem que o português seja condenado a prisão permanente revalidada periodicamente, uma pena prevista no Código Penal espanhol que pode traduzir-se, na prática, numa prisão perpétua.
Na acusação do Ministério Público, a que a Lusa teve acesso, lê-se que o arguido, conhecido como "o português" e com antecedentes penais, foi à festa de um casamento em Torrejón de Ardoz, com dois filhos e dois sobrinhos, tendo um destes menores protagonizado um incidente dentro do restaurante, pelo que o grupo foi convidado a abandonar o local, já na madrugada de 06 de novembro de 2022.
A discussão no interior do restaurante continuou fora do espaço e foi então, segundo o Ministério Público, que o acusado se dirigiu ao carro que tinha estacionado nas imediações e "acelerou o motor sabendo da presença das pessoas ali concentradas".
"Com total vontade de causar-lhes a morte ou assumindo a possibilidade de que isso acontecesse, atropelou várias delas", lê-se no documento.
"O acusado dirigiu o veículo" para as vítimas "sem lhes dar a oportunidade de se afastarem", acrescentou o Ministério Público.
O arguido fugiu do local após o atropelamento, mas foi detido horas mais tarde e está em prisão preventiva desde então.
Os dois filhos, que tinham então 16 e 17 anos e iam com o acusado no carro quando fugiu, foram entregues à mãe pelas autoridades.
No atropelamento morreram uma mulher de 66 anos, dois homens de 68 e 37 e um menor, de 17 anos, todos espanhóis.
O julgamento arrancou hoje, em Madrid, com a constituição do jurado popular.
Para os próximos dias, está prevista a audição de dezenas de testemunhas e peritos, em sessões já agendadas até 30 de maio.
O acusado será ouvido a seguir, antes das alegações finais de todas as partes, segundo um guião provisório e inicial do julgamento divulgado pelo tribunal.
A polícia espanhola reforçou hoje a segurança junto ao edifício do tribunal onde arrancou o julgamento, por considerar haver possibilidade de confrontos entre as famílias do acusado e as das vítimas, noticiaram diversos meios de comunicação espanhóis, citando fontes policiais e judiciais.
No entanto, junto ao tribunal concentraram-se hoje apenas jornalistas, que aguardavam a chegada dos advogados e procuradores.