Açoriano Oriental
Onde estavas no Natal de 2020?

Esta pergunta será talvez a principal candidata das próximas décadas a superar as mais clássicas de todos os tempos, como a incontornável questão nacional “Onde estavas no 25 de abril?”, ou, entre os Terceirenses, “Onde estavas no sismo de 80?”. É que esta ainda não tem o distanciamento histórico que a possa relegar a uma qualquer memória de uma geração específica, e é avassaladora na sua escala planetária que nos afeta, a uma só vez, em todos os planos da nossa existência, individual e coletiva. Há momentos que definem o antes e o depois das nossas vidas, e as nossas nunca mais serão as mesmas depois da Pandemia que mudou o mundo, esvaziou as ruas e encheu a nossa mente com os terrores que havíamos reservado para a ficção.

Onde estavas no Natal de 2020?

Autor: AO Online

Ao longo dos séculos, só por ser Natal, canhões silenciaram-se, tréguas foram concedidas, e exceções foram criadas nem que fosse só para nos relembrar que, quando assim decidimos, podemos fazer diferente. É claro que, no que toca a pandemias, não há hipóteses de tréguas nem de pausas. As sirenes não deixam de se fazer ouvir e a realidade dos números não desmente a justificação dos nossos receios. Ainda assim exceções foram feitas para que o Natal possa ser vivido dentro da normalidade possível. Podemos discutir a pertinência de o fazermos dados os riscos, reais e expectáveis, do aumento do número de casos, mas não será menos importante discutir os riscos em que incorremos nesta luta pela sobrevivência, nomeadamente os associados aos rigores da cura - e estou longe de me referir apenas às questões económicas, independentemente da sua óbvia importância, mas também aos riscos físicos, emocionais e mentais associados à solidão e ao isolamento, principalmente entre os mais vulneráveis.

Sejamos mais criativos na concretização dos afetos do que na escolha das prendas, mais criteriosos com a disposição dos lugares do que com os pratos da ceia; onde não se possam sentar muitos à mesa ao mesmo tempo, que se substitua a operação simples da subtração de pessoas pela multiplicação das refeições com menos cadeiras.

Temos muito de especial a celebrar. Estamos a passar o maior desafio das nossas vidas, mas quantos heróis temos descoberto nesta batalha? Eles estão por todo o lado, não só nos hospitais e nos laboratórios, mas também entre os voluntários que cedem o seu tempo e o seu trabalho em prol dos outros, entre os vizinhos que se interajudam, até aos criativos que descobrem e nos fazem descobrir a beleza que existe nos pequenos gestos da resistência diária da humanidade e assim nos fortalecem a mente e o espírito para novos amanhãs. A vida continua e, na sua beleza agridoce, tempera-nos as lágrimas pelos que pereceram com a promessa de vida que nos anuncia o primeiro choro vigoroso dos que nascem e que reclamam de todos nós um mundo melhor.

A resposta que dermos à questão “Onde estavas no Natal de 2020?” será reveladora não só da forma como contribuímos para a prevenção do contágio, mas será também reveladora de como vemos o mundo, os outros, os afetos e como estabelecemos as nossas prioridades.

Um Feliz Natal a todos!


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