Autor: Rui Jorge Cabral
As primeiras três provas do Campeonato dos Açores de Ralis contaram este ano com a presença de um piloto continental, Hélder Miranda, navegado por Rui Teixeira, que levou o seu Seat Ibiza 6K2 ao 2.º lugar do Troféu de Ralis de Terra dos Açores (TRTA).
Em entrevista ao Açoriano Oriental, Hélder Miranda recorda que começou a ganhar interesse em vir correr aos Açores quando fez cá assistência “e vi a emoção muito forte que os ralis despertam nos Açores, porque as pessoas adoram os ralis e os troços são magníficos, lindos mesmo”.
Hélder Miranda veio fazer o
Azores Rallye em 2021 e decidiu este ano competir pela primeira vez na
Região, disputando o Troféu de Ralis de Terra dos Açores, que terminou
apenas atrás de Gilberto Ferreira, depois de abandonar com um problema
na transmissão na última prova do TRTA, o Além Mar Rali, disputado em
São Miguel.
Hélder Miranda é do Norte de Portugal, a região onde
existe mais paixão pelos ralis no país, mas apesar de já ter feito
muitas provas do regional, do nacional e até mesmo do WRC, como o Rally
de Portugal, ficou ainda assim muito bem impressionado com os ralis nos
Açores, onde contou este ano com o apoio da Madeira Competições e do
piloto Ruben Santos. “Nos Açores, só tenho a agradecer às pessoas que
organizam os ralis, porque importam-se com os pilotos, do nº. 1 ao n.º
20 e, no fim do rali, vêm falar connosco a perguntar se correu bem o
rali, enquanto que aqui no continente, já não acontece muito isso e há
mesmo uma falta de respeito pelos pilotos que tudo fazem para correr por
gosto, sabendo-se muitas vezes das dificuldades que passamos para
conseguir fazer um rali”, afirma Hélder Miranda.
Em 2023, o piloto
quer regressar aos Açores para correr, mas novamente apenas para o
Troféu de Ralis de Terra, “porque não gosto de me comprometer com
campeonatos completos devido à minha profissão, que não me permite
abandonar muito o local de trabalho”, explica.
O Seat Ibiza 6K2 com
que Hélder Miranda corre atualmente é uma viatura sem homologação,
construída de raiz a partir de um Seat Ibiza GTi do Troféu. Hélder
Miranda guiou um carro desses até 2016, altura em que teve um acidente
que danificou bastante o carro. A reconstrução do Seat deu-se já com uma
carroçaria de um modelo mais recente do Ibiza, que foi reforçada nos
seus pontos fracos e aligeirada em tudo onde fosse possível ganhar peso.
O banco e a pedaleira do carro foram recuadas, para melhorar o centro
de gravidade e a posição de condução de Hélder Miranda.
Na altura,
estávamos em janeiro de 2020 e Hélder Miranda lançou nas redes sociais
uma fotografia do Seat ainda no ‘osso’, só com o Rollbar, com a
pergunta: será que o carro estará pronto para o Rallye Serras de Fafe? E
na verdade ficou... “Consegui”, afirma o piloto, “mas claro, tive de
trabalhar à noite, sábados e domingos” até o Seat Ibiza 6K2 ficar pronto
para correr.
O motor do carro é de um Seat Ibiza Cupra II, com 2
mil cm3 e 16 válvulas, atmosférico, com 186 cavalos de potência e um bom
binário nas baixas rotações, tendo nas transmissões o seu ponto fraco, o
que custou a Hélder Miranda o abandono no recente Além Mar Rali. Este
é, aliás, um aspeto do carro que o piloto pretende reforçar já para o
próximo ano.
Sobre a pilotagem do Seat Ibiza 6K2, Hélder Miranda diz
que “é tudo à bruta”, por ser um carro à moda antiga, sem ajudas
eletrónicas à pilotagem, como o controlo de tração “e tive de pôr uma
direção elétrica” para o carro ser mais “suave” de pilotar, recorda.
Contudo, Hélder Miranda afirma ter um enorme prazer em pilotar o Seat
Ibiza 6K2 porque “foi construído ao meu jeito”.
Hélder Miranda é
natural de Cabeceiras de Basto, terra com grande tradição no Rallye de
Portugal. Com 41 anos, Hélder Miranda é empresário no ramo automóvel,
uma atividade que vem de família, tendo crescido no meio dos carros. O
pai de Hélder era também um adepto das corridas e foi em ‘provas-pirata’
de autocross que tudo começou, conforme recorda o piloto: “aquilo era
mais um ‘Stock Car’ e, com 16 anos, quando fiz a minha primeira prova,
aquilo era um pouco intimidatório quando se entrava para dentro da
pista”, recorda Hélder Miranda.
Contudo, a morte prematura do pai
fez com que Hélder Miranda tivesse de assumir o negócio ligado à
mecânica automóvel ainda muito novo, o que travou durante uns anos o seu
desejo de se dedicar aos ralis. Só mais tarde e quando Hélder Miranda
já tinha perto de 30 anos, foi então possível começar a fazer ralis, em
2009, com um Ford Escort XR3, antes de passar para o Seat Ibiza GTi de
Troféu, ao mesmo tempo que regressou à sua paixão inicial, o Ralicross,
onde foi campeão na sua divisão, em 2013.