Açoriano Oriental
Histórias dos Rallyes
“Nos Açores importam-se com os pilotos, do 1 ao 20”

O piloto continental, Hélder Miranda, disputou este ano o Troféu de Ralis de Terra dos Açores, que terminou em 2.º lugar, com um Seat Ibiza 6K2 totalmente construído por si e adaptado ao seu estilo de condução. Gostou muito de correr nos Açores e promete voltar em 2023


Autor: Rui Jorge Cabral

As primeiras três provas do Campeonato dos Açores de Ralis contaram este ano com a presença de um piloto continental, Hélder Miranda, navegado por Rui Teixeira, que levou o seu Seat Ibiza 6K2 ao 2.º lugar do Troféu de Ralis de Terra dos Açores (TRTA).

Em entrevista ao Açoriano Oriental, Hélder Miranda recorda que começou a ganhar interesse em vir correr aos Açores quando fez cá assistência “e vi a emoção muito forte que os ralis despertam nos Açores, porque as pessoas adoram os ralis e os troços são magníficos, lindos mesmo”.

Hélder Miranda veio fazer o Azores Rallye em 2021 e decidiu este ano competir pela primeira vez na Região, disputando o Troféu de Ralis de Terra dos Açores, que terminou apenas atrás de Gilberto Ferreira, depois de abandonar com um problema na transmissão na última prova do TRTA, o Além Mar Rali, disputado em São Miguel. 

Hélder Miranda é do Norte de Portugal, a região onde existe mais paixão pelos ralis no país, mas apesar de já ter feito muitas provas do regional, do nacional e até mesmo do WRC, como o Rally de Portugal, ficou ainda assim muito bem impressionado com os ralis nos Açores, onde contou este ano com o apoio da Madeira Competições e do piloto Ruben Santos. “Nos Açores, só tenho a agradecer às pessoas que organizam os ralis, porque importam-se com os pilotos, do  nº. 1 ao n.º 20 e, no fim do rali, vêm falar connosco a perguntar se correu bem o rali, enquanto que aqui no continente, já não acontece muito isso e há mesmo uma falta de respeito pelos pilotos que tudo fazem para correr por gosto, sabendo-se muitas vezes das dificuldades que passamos para conseguir fazer um rali”, afirma Hélder Miranda.

Em 2023, o piloto quer regressar aos Açores para correr, mas novamente apenas para o Troféu de Ralis de Terra, “porque não gosto de me comprometer com campeonatos completos devido à minha profissão, que não me permite abandonar muito o local de trabalho”, explica.

O Seat Ibiza 6K2 com que Hélder Miranda corre atualmente é uma viatura sem homologação, construída de raiz a partir de um Seat Ibiza GTi do Troféu. Hélder Miranda guiou um carro desses até 2016, altura em que teve um acidente que danificou bastante o carro. A reconstrução do Seat deu-se já com uma carroçaria de um modelo mais recente do Ibiza, que foi reforçada nos seus pontos fracos e aligeirada em tudo onde fosse possível ganhar peso. O banco e a pedaleira do carro foram recuadas, para melhorar o centro de gravidade e a posição de condução de Hélder Miranda. 

Na altura, estávamos em janeiro de 2020 e Hélder Miranda lançou nas redes sociais uma fotografia do Seat ainda no ‘osso’, só com o Rollbar, com a pergunta: será que o carro estará pronto para o Rallye Serras de Fafe? E na verdade ficou... “Consegui”, afirma o piloto, “mas claro, tive de trabalhar à noite, sábados e domingos” até o Seat Ibiza 6K2 ficar pronto para correr.

O motor do carro é de um Seat Ibiza Cupra II, com 2 mil cm3 e 16 válvulas, atmosférico, com 186 cavalos de potência e um bom binário nas baixas rotações, tendo nas transmissões o seu ponto fraco, o que custou a Hélder Miranda o abandono no recente Além Mar Rali. Este é, aliás, um aspeto do carro que o piloto pretende reforçar já para o próximo ano.

Sobre a pilotagem do Seat Ibiza 6K2, Hélder Miranda diz que “é tudo à bruta”, por ser um carro à moda antiga, sem ajudas eletrónicas à pilotagem, como o controlo de tração “e tive de pôr uma direção elétrica” para o carro ser mais “suave” de pilotar, recorda. Contudo, Hélder Miranda afirma ter um enorme prazer em pilotar o Seat Ibiza 6K2 porque “foi construído ao meu jeito”.

Hélder Miranda é natural de Cabeceiras de Basto, terra com grande tradição no Rallye de Portugal. Com 41 anos, Hélder Miranda é empresário no ramo automóvel, uma atividade que vem de família, tendo crescido no meio dos carros. O pai de Hélder era também um adepto das corridas e foi em ‘provas-pirata’ de autocross que tudo começou, conforme recorda o piloto: “aquilo era mais um ‘Stock Car’ e, com 16 anos, quando fiz a minha primeira prova, aquilo era um pouco intimidatório quando se entrava para dentro da pista”, recorda Hélder Miranda.

Contudo, a morte prematura do pai fez com que Hélder Miranda tivesse de assumir o negócio ligado à mecânica automóvel ainda muito novo, o que travou durante uns anos o seu desejo de se dedicar aos ralis. Só mais tarde e quando Hélder Miranda já tinha perto de 30 anos, foi então possível começar a fazer ralis, em 2009, com um Ford Escort XR3, antes de passar para o Seat Ibiza GTi de Troféu, ao mesmo tempo que regressou à sua paixão inicial, o Ralicross, onde foi campeão na sua divisão, em 2013.

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