Açoriano Oriental
Memória de João Paulo II marcará vista de Bento XVI a Portugal
Um Papa menos mediático e carismático do que João Paulo II, mas mais "interventivo" politicamente, visita Portugal em Maio de 2010, dizem sociólogos e especialistas em religião ouvidos pela Lusa, que sublinham que a agenda da visita papal não está desta vez centrada em Fátima.
Memória de João Paulo II marcará vista de Bento XVI a Portugal

Autor: Lusa/AO Online

“Penso que a leitura que se irá fazer da visita deste Papa vai ser marcada por uma comparação”, diz o investigador do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica Portuguesa Alfredo Teixeira, sustentando que “as viagens neste pontificado se encontram marcadas pela memória de João Paulo II, que transportava consigo a história recente da Europa”.

O antropólogo lembra ainda que “a viagem, como instrumento de identificação dos católicos e, também, como forma de marcar a agenda social, foi algo que João Paulo II tornou central nas estratégias do seu pontificado”.

Ainda assim, Alfredo Teixeira acredita que a visita de Bento XVI "não deixará de influenciar a sociedade portuguesa porque vai mobilizar muitas atenções”, mas “o impacto acontecerá, sobretudo, na comunidade dos católicos”.

“Não me parece que vá marcar a agenda social do mesmo modo que as viagens do seu antecessor”, diz.

O docente aponta também “a própria atitude da comunicação social, que contribuía para uma entronização mediática de João Paulo II, nestas visitas”: “Tenho-me apercebido de que, com este Papa, não há o mesmo fenómeno ou, pelo menos, na mesma escala, do ponto de vista mediático”.

Para o teólogo João Duque, há sempre “uma espécie de encenação à volta da própria visita” mas um maior ou menor impacto desta visita vai também depender das intervenções do Papa.

Por outro lado, “não retirando toda a importância que Fátima pode ter”, o teólogo admite que Bento XVI, indo “às duas principais cidades [Lisboa e Porto] toca no centro nevrálgico do país”, onde o “catolicismo está em crise, pelo menos do ponto de vista quantitativo”.

Também para o sociólogo das religiões, Moisés Espírito Santo, as viagens papais “são, sobretudo, a afirmação do poder e prestígio da Igreja Católica”, que no caso da visita de Bento XVI “assume um prestígio suplementar porque não centra a visita em Fátima”, que é um “pretexto” para marcar presença no país.

Assim, Moisés Espírito Santo considera que a visita de Bento XVI ao país “vai ter mais impacto” que as do antecessor “pela personalidade do Papa, que é novo, e pelo discurso, mais interventivo”.

“Este Papa tem intervido mais que outros papas nas políticas internas dos estados”, observa o sociólogo.

Já D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e coordenador eclesial da visita do papa a Portugal, sustenta que “trata-se do Santo Padre e isso está acima do carisma mais comunicativo ou menos comunicativo” daqueles que “preenchem essa missão”.

“É o sucessor de Pedro, é uma referência religiosa, ética e espiritual profunda e as pessoas precisam de referências nesta hora conturbada da História”, afirma, dizendo-se convencido de que Portugal “vibrará com a vinda do Santo Padre”.

Bento XVI visitará Portugal de 11 a 14 de Maio, estando prevista a sua passagem por Lisboa, Fátima e Porto. O Papa também se encontrará com o Presidente da República, Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro, José Sócrates.

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