Autor: Lusa/AO online
Uma recente sondagem divulgada pela revista norte-americana especializada 'Politico' revelou que Kennedy, o mais jovem político a ser eleito Presidente dos Estados Unidos, aos 43 anos, continua a ser um dos líderes mais cotados das últimas décadas.
Convidados a classificar todos os presidentes entre 1950 e 2000 numa escala de 0 a 10, os norte-americanos atribuíram a JFK a nota mais alta (7.6), seguido de Ronald Reagan (6.9), Dwight Eisenhower (6.8) e Bill Clinton (6.7).
Em outro inquérito, citado pela revista 'US News & World Report' em outubro, cerca de 59% dos norte-americanos afirmaram admirar Kennedy e perto de 84% dos inquiridos com idade igual ou superior a 54 anos admitiram ter “uma clara memória” do assassinato do antigo Presidente, a 22 de novembro de 1963 na cidade de Dallas, estado do Texas.
“O impacto mais significativo de Kennedy é a esperança de que a política norte-americana pode ser melhor. Existe uma visão romântica à sua volta, do que poderia ter sido feito, que continua a estar presente no imaginário norte-americano”, referiu Julian E. Zelizer, especialista em história presidencial na Universidade norte-americana de Princeton, em declarações à agência espanhola EFE.
Eleito em 1961, Kennedy passou pouco mais de 1.000 dias na Casa Branca.
Um dos acontecimentos mais marcantes do primeiro ano de mandato foi a invasão da Baía dos Porcos em abril de 1961, uma tentativa frustrada norte-americana de derrubar o regime de Cuba liderado por Fidel Castro.
Este episódio marcou para sempre as relações entre os dois países e Kennedy assumiu-se como o único responsável pelo insucesso da invasão.
A nível interno, a maioria das suas propostas legislativas não passaram no Congresso norte-americano.
Grande parte do programa de reformas de JFK, designado 'New Frontier' (Nova Fronteira), seria executada a título póstumo pelo seu sucessor, Lyndon Johnson.
“A agenda praticamente completa de Kennedy, que estava parada no Congresso, foi aprovada como um tributo ao presidente falecido”, destacou Larry Sabato, autor do livro “The Kennedy Half Century”, citado pela EFE.
Entre as conquistas políticas internas atribuídas a JFK está a legislação a favor dos direitos civis, adotada em 1964 no mandato de Johnson.
Um dos episódios de sucesso do breve mandato de Kennedy foi a gestão da crise dos mísseis em Cuba (1962), considerado um dos momentos mais difíceis desde a II Guerra Mundial.
A maioria dos conselheiros militares de Kennedy defendia que os EUA deviam bombardear as rampas de lançamento de mísseis que a União Soviética tinha instalado em Cuba.
JKF, consciente do perigo de escalada nuclear desta crise, optou por ordenar um bloqueio naval, impedindo o acesso dos navios soviéticos com mísseis ao território cubano.
No final foi alcançado um acordo pacífico entre Washington e Moscovo. Depois deste episódio, a relação entre Kennedy e o líder soviético Nikita Khrushchev entrou numa nova fase.
No ano da sua morte, o chefe de Estado norte-americano defendeu, num famoso discurso, que os EUA e a Rússia deveriam sair do “ciclo perigoso” de hostilidade.
A figura de Kennedy também ficou imortalizada pelo magnetismo dos seus discursos.
Frases como “não perguntes o que o teu país pode fazer por ti; pergunta o que tu podes fazer pelo teu país”, proferida no seu discurso de tomada de posse, ou a famosa citação "Ich bin ein Berliner" (“eu sou um berlinense”), feita em Berlim dois anos depois da construção do Muro que dividiu a cidade entre 1961 e 1989, vão ficar para sempre na memória coletiva.
O mesmo acontece com uma das imagens mais fortes do dia do assassinato, em que a primeira-dama norte-americana, Jacqueline Kennedy, vestida com um fato cor-de-rosa, tenta socorrer o marido.
A faceta dramática da proeminente família Kennedy, muitas vezes comparada a uma espécie de realeza norte-americana, foi outro dos elementos que contribuiu para a construção da lenda JKF.
Para Leo Ribuffo, professor de história da Universidade George Washington, citado pela EFE, o dramatismo da história familiar dos Kennedy, marcada por acidentes, suicídios e escândalos, faz com que a memória do ex-presidente “continue envolvida num mito” de uma forma que ainda levará “muito tempo” para desaparecer.