Autor: Lusa/AO Online
Este é um processo que atravessa Portugal, com especial ênfase nas principais regiões olivícolas como são Trás-os-Montes, Beira Interior ou Alentejo.
António Branco, presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD) divide o olival da região em 50 por cento já mecanizado, enquanto que a outra metade ainda é produzido nos moldes tradicionais.
A falta de mão-de-obra e os custos a ela associada foi uma das razões que incentivaram a mecanização neste território onde é produzido azeite de Denominação de Origem Protegida mundialmente premiado.
António Branco diz que os métodos tradicionais de tratamento foram ultrapassados e que, os novos olivais, já obedecem a uma métrica sete por sete e uma poda diferente que permite "aumentar a mecanização" do sector olivícola transmontano.
No Alentejo, a mecanização tem ganho "terreno" na colheita da azeitona, mas muitos não dispensam ainda o "saber fazer" de trabalhadores como Francisco Manuel, 44 anos, que "vareja" oliveiras desde os "16 ou 17 anos".
"Há menos emprego, porque as máquinas vêem tirar um bocado de trabalho. Mas ainda vai havendo alguma coisa", afirmou, admitindo que o ofício, "muito duro", é o ganha-pão da família.
Henrique Herculano, do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL), realçou que a mecanização já tem uma "expressão considerável", sobretudo nos novos olivais intensivos e super intensivos.
Mas, disse, nos "cerca de 165 mil hectares de olival" que se estima existirem na região, "há muita colheita mista, com máquinas e trabalhadores".
Totalmente mecanizada é a colheita do empresário agrícola João Cortez de Lobão, com cerca de meio milhão de oliveiras plantadas em 300 hectares da herdade que possui no concelho de Serpa (Beja).
Três máquinas cavalgadoras, que podem recolher diariamente "mais de cem toneladas de azeitona", fazem o trabalho que, "noutros tempos", empregaria "200 ou 300 pessoas".
Mas há ainda quem faça da colheita de azeitona um ritual, como é o caso de Manuel Pires, carteiro em Lisboa.
Todos os anos olha para o calendário quando Novembro se aproxima e marca uma semana de férias. Viaja até Malpica do Tejo, Castelo Branco, onde ajuda os sogros a apanhar a azeitona.
A mulher fica na capital com os filhos e nem precisa de puxar as orelhas ao marido para ele aceitar o trabalho agrícola. "Eu gosto disto, venho para aqui por gosto todos os anos", disse à Agência Lusa.
Uma história de regresso às origens igual a tantas outras que por esta altura do ano dão vida nova à aldeia e até provocam engarrafamentos na rua para o lagar - pelo menos enquanto houver azeitona para colher.
Manuel Pires é um dos familiares de Maria Sena, cuja propriedade engloba 200 oliveiras. Cinco membros da família juntam-se logo de manhã e estendem os panais, coberturas que rodeiam as oliveiras, onde caiem as azeitonas.
"Há quem use máquinas, nós ainda fazemos tudo manualmente", conta Maria Sena. Com os escadotes, cada qual vai atirando ao chão as azeitonas, sendo que "cada oliveira ocupa meia-hora a 45 minutos".
"Esta ainda é uma fonte de rendimento importante", diz Maria Sena. "Além do mais, apanhamos o nosso azeite, sabemos o que comemos. Isto só se complica quando chove", confessou.