Açoriano Oriental
Com 103 anos de idade
Joaquim Costa nos primórdios do Angrense e do futebol

Joaquim Maria da Costa, com 103 anos de idade, está ligado ao Sport Clube Angrense e aos primórdios do futebol na ilha Terceira.

“Aos 13 anos comecei a jogar nas terceiras categorias do Angrense . Em 1930, com 16 anos, já atuava nas primeiras categorias. Era o mais novo da equipa”- baliza a memória.


Autor: João Rocha

O futebol de então era exclusivamente movido pela paixão. As chuteiras dos jogadores do Angrense serviam para muitos pares de pés nos dias em que as três categorias jogavam de enfiada.
“Só mais tarde, com o meu dinheiro, comprei umas botas de futebol. Custaram 100 escudos. Paguei em prestações de 10 escudos” – especifica.
Já o restante equipamento (camisola, calção e meias) levava para casa, onde a irmã tratava da respetiva lavagem.
Quando foi jogar pela primeira vez à ilha de São Miguel, o pai deu-lhe 20 escudos.
A partir daí, foram só contas de subtrair: “Tive que desembolsar logo 15 escudos para tirar o Bilhete de Identidade. Emprestei três ao meu colega Gastão para comprar um par de meias e, já na ilha de Santa Maria, gastei meio escudo em favas. Em suma, ainda regressei a casa com um escudo e meio”.
Sócio número um da coletividade “há anos sem conta”, Joaquim Costa integrou a primeira equipa do Angrense a conquistar o título de campeã dos Açores em 1937.

Treinador nem existia

 Joaquim Costa ocupava a posição de defesa esquerdo e era tido como rijo.

Os esquemas táticos não atingiam a complexidade da atualidade até porque a figura de treinador nem existia.

Um dirigente dava as ordens e os jogadores faziam o resto.
“Tínhamos o bloco defensivo e o ofensivo. Mas não jogávamos à base do pontapé para a frente. Os atacantes sabiam vir buscar jogo à linha mais recuada” – contextualiza.
A segunda Guerra Mundial permitiu a Joaquim Costa partilhar experiências futebolísticas internacionais com militares britânicos e franceses que escalavam a ilha Terceira.
Todavia, os desafios com maior adrenalina eram com o Marítimo do Corpo Santo e, sobretudo, o Lusitânia, grande rival do Angrense.
O antigo capitão dos encarnados de Angra do Heroísmo admite a rivalidade entre os clubes citadinos, mas só e apenas dentro do terreno da contenda.
“O árbitro apitava para o início e deixava de ter amigos na equipa adversária. Quando acabava o jogo, voltava a ser amigo de toda a gente”.
Por falar em árbitro, Joaquim Costa dá conta de outra particularidade: “ na nossa altura, os árbitros nem eram nomeados pela Associação de Futebol. Cabia aos capitães das duas equipas escolher os juízes entre o público. Coitados, pagavam o bilhete e, às vezes, ainda ouviam das boas”.

Funcionário público e adeus à bola

Os estudos nunca foram o forte de Joaquim Costa. Uma irmã deu-lhe as primeiras lições e uma valente bofetada por o ter apanhado a fumar.
“Remédio santo. Nunca mais tive o vício do tabaco em toda a minha vida”-, confessa.
Com o abandono precoce dos livros, começou a trabalhar aos 14 anos de idade.
Ia dividindo os empregos com os jogos do Angrense. Depois, com o fito de arranjar um lugar na função pública, voluntariou-se para a tropa, tendo cumprido 15 meses de serviço militar.
Conseguiu o ambicionado emprego na função pública. Primeiro num posto de desinfestação e, posteriormente, na Escola Industrial e Comercial de Angra do Heroísmo, que serviu durante décadas como contínuo de primeira classe.
Já casado e pai de filhos, decidiu abandonar o futebol aos 26 anos de idade.
Na base da decisão está uma medida aplicada pelo diretor do Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
“Quem se magoasse a jogar futebol, teria que pagar 500 escudos de tratamento hospitalar. Eu nem ganhava tanto no meu emprego” – argumenta Joaquim Costa.





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