Açoriano Oriental
Estádio Municipal Jácome Correia comemora 75 anos

A 27 de janeiro de 1946 foi inaugurado, nos terrenos cedidos para o efeito pelo primeiro Marquês Jácome Correia, Aires Jácome Correira, o recinto desportivo que a cidade de Ponta Delgada desejava


Autor: José Silva

Com o campo do Liceu (hoje escola Antero de Quental) sem poder ser utilizado pela construção do ginásio, a alternativa foi o campo Açores, situado na Mata da Doca. Além das parcas condições, os jogos foram condicionados pela ocupação do espaço com a exploração das “pedreiras da doca”, que serviria de estaleiro na construção da avenida Infante D. Henrique.

O avolumar de dificuldades e a II Guerra Mundial originaram um interregno de jogos oficiais na ilha de São Miguel a partir de junho de 1942 até abril de 1945.
Porém, havia a necessidade de a cidade de Ponta Delgada ter um recinto que oferecesse melhores condições. O espetro de o futebol prolongar o interregno pairou. A solução foi o terreno onde ainda hoje funciona o agora estádio municipal “Jácome Correia”, ao lado da Alameda Duque de Bragança, vulgo Relvão. O benemérito Aires Jácome Correia, primeiro Marquês Jácome Correia, proprietário de inúmeros terrenos na ilha, cedeu o espaço. A construção começou em meados de 1945, estando apto a receber jogos a 27 de janeiro de 1946.

O dia da inauguração foi de festa. Um programa cuidadosamente preparado pela direção da Associação de Futebol de Ponta Delgada (AFPD). Assistiram à cerimónia e ao jogo centenas de pessoas. Um encontro que opôs a seleção de Ponta Delgada à seleção de São Miguel, formadas por atletas dos cinco clubes da cidade.

Até 1989 o campo “Jácome Correia” não teve alterações significativas. Os exíguos balneários situados no topo norte, com jogadores e árbitros a terem de passar entre os assistentes nas idas e nos regressos do recinto de jogo, mantiveram-se anos a fio. A bancada situada a poente oferecia poucas condições de acomodamento. Em cada canto havia uma taberna afeta a cada clube. O piso de jogo em terra apresentava pequenas dimensões (90 metros de comprimento e 45 metros de largura), pouca drenagem, muitas pedras e desnivelado. Mesmo com tantas contrariedades foi a alegria de milhares de atletas, de muitas centenas de treinadores e de muitos dirigentes e de milhares de espectadores.

Os pedidos para a remodelação do campo foram muitos, mas as vereações da autarquia, algumas presididas por quem esteve ligado ao futebol e ao desporto, não foram atendidos.


Grandes obras em 1989

Até que em 1989 a direção da AFPD, presidida por Primitivo Marques, teve como uma das prioridades oferecer melhores condições de prática no “Jácome Correia”. Uma tarefa complicada. O alargamento para nascente era impossível devido à construção de moradias e para poente obrigava ao corte de árvores centenárias do Relvão. Instalou a polémica. O alargamento para o Relvão foi apenas o suficiente para o campo ficar mais largo e mais comprido sem atingir as árvores. Mesmo assim a largura não atingiu os 64 metros mínimos. Quando aquela medida foi imposta para a III divisão nacional, União Micaelense e Capelense (que ali jogou enquanto duraram as obras no campo das Capelas) tiveram de jogar em São Roque. A bancada em anfiteatro projetada foi substituída pela atual, com capacidade para 800 pessoas.

As dimensões do palco de jogo ficaram nos 100X63,80 metros. Nasceram uma nova tribuna, uma bancada para mil pessoas no topo Sul, com local de armazenamento de material por baixo, um degrau de bancada no lado nascente, com capacidade para 200 pessoas, sanitários, cabinas renovadas para as equipas de arbitragem e quatro novos balneários para os atletas.

A eletrificação, que tinha sido inaugurada em 1969, custando 390 contos, foi reforçada e melhorada.

O piso de solo estabilizado (terreiro) manteve-se, mas com as estruturas permitiam o futuro arrelvamento com relva natural. Com o advento da relva sintética a surgir, urgia o “Jácome Correia” receber um tapete verde que permitisse treinos e jogos semanais para, na altura, 9 equipas de 5 clubes.


Relva sintética em 2005

A 7 de dezembro de 2005 foi inaugurada a relva sintética. Tratou-se de um investimento na ordem de 400 mil euros, tendo incluído rede de rega, rede de drenagem, pinturas, colocação de balizas, colocação de cadeiras na bancada e remodelação dos balneários.

A obra de arrelvamento sintético envolveu várias intervenções técnicas desde a pavimentação do campo com betão betuminoso, instalação de sistema automático de rega, com 10 aspersores laterais e dois no interior do campo com alcance de 30 metros. O depósito para rega, com 25m3, foi também executado, bem como a central hidropneumática e as caleiras envolventes ao campo com a ligação à rede existente.


Renovação em 2018

Com uma utilização quase diária por centenas de praticantes, os apelos para a substituição do relvado sintético começaram em 2014. O piso estava muito degradado. Os protestos surgiram de vários quadrantes. A Câmara de Ponta Delgada acedeu e projetou a renovação. Por diversos fatores, incluindo o protesto de uma empresa concorrente à obra de substituição e de reparação de áreas do campo, o tempo dilatou-se.

A 15 de setembro de 2018 teve lugar a inauguração pelo agora presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro. O estádio municipal Jácome Correia ficava dotado de um relvado de qualidade, certificado pela FIFA. O piso foi objeto de uma inspeção por parte dos técnicos do organismo mundial de futebol.

Em janeiro de 2019 o recinto teve finalmente sanitários condignos para os dois géneros e para pessoas com mobilidade condicionada.

Em projeto está a alteração da iluminação do campo para LED, proporcionando menos consumo e melhor qualidade. Ficará o estádio com condições para transmissões televisivas.

Para o “Jácome Correia” ficar completo, urge a colocação de um marcador eletrónico.


Benfica pisou o “Jácome Correia” em 1971

Antes do Santa Clara entrar na série “E” da III Divisão nacional, no ano de 1979, os contactos com equipas do exterior dos Açores resumiam-se aos jogos com clubes madeirenses para o apuramento do representante insular à Taça de Portugal.

Para esta competição, célebres ficaram os jogos no “Jácome Correia” do União Micaelense com o Vitória Sport Clube, a 10 de junho de 1962 (1-8, depois de 1-2 em Guimarães), para os quartos de final, e do extinto Micaelense Futebol Clube com o Sporting de Braga, a 16 de maio de 1965 (0-1 e 1-2 em Braga), para os oitavos de final.

A 21 de fevereiro de 1977 o Santa Clara teve de alterar a receção ao Gil Vicente (1-2) para o campo da Fajã de Cima, porque o “Jácome Correia” não tinha as medidas exigidas pelo novo regulamento da competição.

As restantes visitas de equipas continentais e do Las Palmas, das Canárias, foram para jogos de caráter particular.

Pelo “Jácome Correia”, entre outras, passaram a Académica de Coimbra, Belenenses, Riopele, CUF, Vitória de Setúbal e Benfica.

A equipa “encarnada” de Lisboa fê-lo pela primeira vez a 11 de fevereiro de 1971, ganhando ao Santa Clara por 12-0 (6 golos de José Torres e 4 de Raul Águas). Assistiram cerca de 4 mil pessoas e a receita foi perto do 100 contos (5 000€).

A segunda visita do Benfica jogando no “velhinho Marquês” foi em 1973, vencendo, por 18-1, a seleção de São Miguel. Pauleta (pai) marcou o golo.

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