Açoriano Oriental
Em São Roque nasceu um mural dedicado à Liberdade

Projeto do duo criativo Ruído foi desenvolvido nos últimos dias na empena do edifício da urbanização Diogo Nunes Botelho. A escritora, poetisa e deputada à Assembleia da República, Natália Correia, é a figura em principal destaque


Autor: Nuno Martins Neves

“Olhe, eu nem sabia quem era a senhora...”. “Então, é aquela escritora, a Natália Correia, eu vi logo”. O diálogo entre Ana Maria e Paula Braga, vizinhas da urbanização Diogo Nunes Botelho, freguesia de São Roque, anda à volta do mural que foi criado na empena do seu prédio, o 11.º do projeto Murais de Liberdade.

Da autoria do duo artístico Ruído, Frederico Draw e Rodrigo Alma, o mural está inserido nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril.

A ideia começou a ser desenhada no ano passado, explica Frederico Draw, em entrevista ao Açoriano Oriental. O objetivo era traçar “um roteiro artístico que agarrasse todo o território português e que celebrasse os valores de Abril e da Liberdade”.

Ao todo, são 14 murais que vão contar histórias do pré, durante e pós Revolução dos Cravos. Nas Caldas da Rainha, o momento elegido foi o golpe do 16 de Março, enquanto em Lagos foram as Eleições Livres de 1975. Os temas foram escolhidos em parceria com a Associação 25 de Abril e para Ponta Delgada Frederico Draw tinha bem presente o que queria, influenciado por ter estado em São Miguel, por causa do Walk&Talk.

“Tínhamos um tema proposto para cá, antes da seleção da Natália Correia: gostaríamos de trabalhar a questão artística e cultural durante e pós-25 de Abril”.

A escolha de Natália Correia, filha da terra e uma das figuras ímpares da luta contra a ditadura e deputada à Assembleia da República entre 1980 e 1991, foi “natural”. Afigura da escritora e poetisa açoriana figura, lado a lado, com um cartaz da artista Vieira da Silva, sobre o 25 de Abril, e a mensagem “A poesia está na Rua”.

O local, esse, foi trabalhado em conjunto com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, respondendo às necessidades do duo Ruído.

“A ‘tela’ é fantástica e o facto de ser visível a partir da via rápida torna-a muito interessante”, diz Frederico Draw.

Enquanto Frederico Draw falava, Rodrigo Alma continuava a dar os toques finais no mural, sob o olhar atento de Mariana, uma menina autista “que gosta muito de pinturas e adora ver os senhores”, explica a sua avó, Ana Maria.

“Está magnífico. Embeleza o bairro. Já tirei uma fotografia e mandei para o meu filho, que é biólogo marinho e está no Algarve”, acrescenta a sua vizinha Paula Braga.

A presença dos residentes da urbanização Diogo Nunes Botelho foi uma constante durante a criação do mural. “Temos tido uma interação muito boa, temos tido gente do bairro todos os dias, trazem-nos água, cedem-nos eletricidade. Os miúdos interessam-se muito, fazem perguntas, querem pintar”, refere Frederico Draw.

Para o artista, é importante que a comunidade goste do que está a ser feito, “porque é algo que ficará para eles”.

Curiosamente, a empena de quatro andares do prédio onde agora figura o mural da Liberdade albergou, outrora, uma criação do Walk&Talk, apagado quando o edifício foi intervencionado.

A efemeridade da arte urbana é assumida por Frederico Draw, mas o artista espera que este mural transmita uma mensagem que perdure no tempo. 

“Que comunique para estas pessoas e para todas as pessoas que por aqui passarem os valores de Abril, da Liberdade. Enquanto filho da Democracia, sempre demos a democracia como garantida, mas não é assim, e cada vez mais é preciso lutar, por ela”.

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